Vampiro: NOLA
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Mansão Longue Vue (Elísio)

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Julliet Harrison
Ivica Romanova
Edgard von Astorff
Helena De Vries
Mestre de Jogo
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11Mansão Longue Vue (Elísio)        - Página 1 Empty Re: Mansão Longue Vue (Elísio) Qua Mar 21, 2012 1:58 am

Royce Gregor

Royce Gregor
Ancião

Eu estava de saco cheio dessa merda.

Ser governado por uma louca alucinada, receber ordem de uma pirralha inútil e, ainda por cima, ter que que ir prestar minhas homenagens pra um Príncipe que eu tinha certeza absoluta que se tratava de uma piração de uma mente insana era de arruinar a noite de qualquer um. Toda a sociedade cainita poderia dizer para mim que eu estava sendo um herege idiota com esse pensamento, mas a verdade era que eu estava pouco me ferrando para que o monte de imbecil achava.

Eu era aliado da Camarilla sim, assim como qualquer um no meu comando. Mas eu tinha um motivo especial para isso, que não envolvia florezinhas, cores e pinturas afrescalhadas.

Helena era esperta. Muito esperta. E eu gostava disso. Esse fato unia o útil ao agradável para mim, o que era o suficiente. Pelo que dependesse da minha pessoa, nenhum Ventrue filho da mãe ia colocar as patas abichalhadas naquela cidade e se tentassem, iam ter que passar por cima de mim. E isso, sinceramente, não seria trabalho fácil.

Levei o tempo que me conveio para chegar até o Elísio, andando calmamente pela cidade e observando os arredores. Eu tinha certeza de que a pirralha deveria estar arrancando as calcinhas pela cabeça, e tal pensamento apenas fez com um que um mínimo sorriso irônico despontasse pelos meus lábios. Ela que se fodesse. Jogo de morto não é brincar de casinha, por mais que a Senescal louca alimentasse os devaneios daquela mente infantil.

Odeio crianças. Sempre odiei e tenho certeza que, depois de tantos anos odiando, eu continuaria a sentir o mesmo pelo resto da morte.

Chegar no Elísio foi uma experiência entediante, como sempre o era. Eu evitava aquele lugar, todo aquele luxo desnecessário e ostentação ridícula, que só mascaravam uma decadência tão evidente que apenas os idiotas e os fúteis não conseguiam enxergar. Não que eu fosse contra a arte, o ponto não era esse. Eu era contra o mau uso da arte, já que não acho que algo feito para criar impacto no expectador deva ser usado para decorar parede em casa de madame.

Acho que se ainda fosse vivo, eu respiraria profundamente ao vislumbre da pirralha subindo as escadas. Estava evidente que ela havia me esperado até o limite e, devo dizer, isso me deixou profundamente satisfeito. Haviam outros ‘convidados’ para a ocasião, algo que não me surpreendia, mas que não me agradava muito menos. Identifiquei imediatamente mais um dos frescos e fiz uma visível careta ao notar que estaria cercado de pomposidade ridícula pelo resto da reunião. Era um carma, com toda a certeza, mas um fardo muito mais simples de se carregar do que um Ventrue no governo.

Só de pensar nessa possibilidade, meu sangue parecia ferver pelas veias mortas.

Caminhei ruidosamente em direção à fedelha, com visível cara de tédio, depois de observar rapidamente os outros presentes à distância.

- Estava correndo para a titia? – Alfinetei, tendo plena consciência de que isso poderia enfezar a garotinha.

Ergui uma sobrancelha enquanto a observava atentamente, subindo mais alguns degraus da escada e me aproximando dela o suficiente para que meu tamanho fosse intimidador, assim como meus olhos fixados nos seus. Eu queria incomodá-la, com toda a certeza, mas não ia exagerar na dose. Seria uma porcaria se o pingo de morto fofoqueiro fosse correndo para a saia da titia contar que o Brujah feio e bobo a tinha assustado.

Como eu havia dito anteriormente, Helena era esperta. E isso era algo bom e ruim ao mesmo tempo.

12Mansão Longue Vue (Elísio)        - Página 1 Empty Re: Mansão Longue Vue (Elísio) Sex Mar 23, 2012 12:54 am

Edgard von Astorff

Edgard von Astorff
Ancião

Ultraje.

Toda aquela cena havia sido um perfeito e completo ultraje, tanto por si quanto por sua posição. E era algo que ele, Edgard von Astorff, jamais tolerara em toda a sua existência.

Seus olhos, malignos e frios, fitaram a pequena Ivica durante todo seu discurso, coberto de emoções falsas e dramas desnecessários com o único intuito de impressionar sua senhora e desmoralizá-lo. Tantos floreios, porém, só arrancaram um erguer de sobrancelha do rosto purulento e deformado do Nosferatu. A Senescal já havia sido informada do Gangrel, e a tentativa de alfinetada da menina não fora o suficiente para tirar seu moral diante da patética Malkaviana.

O problema estava na afirmação sobre os Ventrue.

A suspeita das intenções de Henry havia sido algo extremamente restrito ao clã dos Ratos, então se a informação fora passada a diante, era porque o idiota realmente tomara alguma atitude drástica.

Isso resultava em uma problemática, tanto para o Xerife, quanto para Henry. A autorização da Senescal fora frívola, já que ambos sabiam perfeitamente que iria perseguir o ancillae até os portões do inferno, mas as formalidades deveriam ser seguidas.

Fitou a Senescal diretamente nos olhos após a saída da Harpia, deixando que um minúsculo sorriso cruel despontasse por seus lábios ao perceber que ela havia se afastado de sua desagradável figura. A interrupção não o deixara responder sobre o que pensava de estar falando com a ‘pessoa certa’, mas talvez fosse melhor assim. Poupava-lhe ter de tolerar mais ataques de insanidades daquela cainita perturbada.

- Avise ao Príncipe que freios sempre são apenas temporários. Se ele quer uma solução definitiva, medidas drásticas devem ser tomadas. – Alegou, observando-a por mais alguns segundos, antes de se dirigir à porta do aposento. – Quem consegue um aliado, consegue mais. Não deixe que o Príncipe seja tolo o suficiente para subestimar esse fato.

Deixou o lugar sem mais nada dizer, permitindo que sua declaração cortasse o ambiente e perturbasse a mente já insana da Senescal. Sabia que a inquietude diante da face oculta do Príncipe seria um grande problema para os aliados da Camarilla, assim como um trunfo para seus inimigos, e não pretendia deixar que a Malkaviana acabasse por colocar todos eles em risco. Mas voltaria a tratar daquele assunto em um momento mais propício.

Era hora de caçar.

Caminhou orgulhosamente pelos corredores do Elísio, sua aparência decadente e horrenda sendo um contraste quase cruel com a beleza das peças de arte e móveis antigos. Gostava disso, de intimidar os olhos alheios apenas com sua figura bestial, e não conseguia esconder o prazer que isso lhe trazia.

Deparou-se com a Harpia há poucos metros de si, nos degraus da escada, juntamente com o líder do clã Brujah. Achava-o tão desagradável quanto a garota, mas ao menos não precisava esperar frivolidades e cenas teatrais de um grosseirão estúpido.

Sorriu cruelmente, seus lábios ressecados rompendo um pouco mais da pele diante do esforço, diante da ideia que lhe tomou a mente. Dirigiu-se aos dois cainitas, aproximando-se apenas o suficiente para que fosse notado por ambos. Seus olhos, porém, cruzaram-se firmemente com os da Harpia, e sua mão, pegajosa e cadavérica, cobriu a dela, pequena e macia, que se encontrava no corrimão da escada.

- Devo agradecer pela gentileza que fez ao nos informar sobre o sacrilégio dos Ventrue, Harpia. Um trabalho digno de sua posição. – Declarou, apertando a mão abaixo da sua suavemente.

Sabia que a sensação de sua pele podre seria o suficiente para amedrontar a garota e isso fez com que se sentisse satisfeito consigo mesmo. Era menos do que ela merecia, mas o suficiente naquele momento. O Xerife ainda teria outras oportunidades.

Com um meneio de cabeça ao Brujah, soltou a menina e saiu do Elísio, adentrando a noite e retornando ao seu esconderijo, nas profundezas do esgoto de Nova Orleans.

Ainda tinha um trabalho a realizar. A noite estava apenas começando.

[Continua em Centro Empresarial]

13Mansão Longue Vue (Elísio)        - Página 1 Empty Re: Mansão Longue Vue (Elísio) Sex Mar 23, 2012 7:48 pm

Franz Lorrimer

Franz Lorrimer
Ancillae

Ora, ora, aquela garota não era mesmo magnífica? Simplesmente a adorava! Tão comportada, tão superior, tão versada em boas maneiras... Era realmente uma pena que tivesse aquela aparência bizarra de criança, de um bibelô-máscara para uma adulta completamente formada. Mas entendia quem quer que a tivesse abraçado. Criara uma obra de arte. Grotesca, sim, mas era definitivamente arte. Observou-a por alguns segundos, enquanto se afastava. Passinhos pequeninos. Pés pequeninos. Sorriu. Quem a criara era simplesmente um gênio. Esperava sinceramente que um dia fosse capaz de tal rasgo de inspiração.

Voltou-se para as outras duas, ainda com um sorriso no rosto. Não queria estabelecer nenhum clima de enterro, ou coisa parecida. Tinha certeza que não haveria, afinal, guerra nenhuma, talvez apenas um conflitozinho qualquer, provavelmente aquele Ventrue tolo, o tal Freeman, chegaria à morte final pelas mãos de algum dos capazes soldados da Camarilla e tudo ficaria bem, nada mudaria, enfim! Não estava realmente preocupado. Portanto, não havia motivo para todos aqueles semblantes sérios, graves.

- Queiram acompanhar-me, mademoiselles.

E, sem mais delongas, dirigiu-se à biblioteca. Certamente, aquele era o melhor lugar para as reuniões. Era confortável, elegante, belamente decorado e passava uma mensagem de pouca ostentação, se é que isso era possível na Longue Vue. Além disso, caso alguém se desinteressasse dos assuntos sempre tediosos dessas reuniões, sempre poderia deixar seus olhos vagarem sobre as lombadas decoradas, pintadas à mão, ler os títulos clássicos, desejar discretamente a coleção de livros de arte ou simplesmente se afundar na poltrona e deixar o tédio consumir sua mente. Era bom. Houve um tempo em que instituíram a sala de jantar como sala de reuniões, o que fazia todo o sentido; mas todos sentados em volta de uma mesa, olhando o tempo todo dentro dos olhos dos outros... Não dava certo. Brigas demais. Egos demais. Mentiras demais. Então, a mudança, e Franz não poderia ter ficado mais feliz com ela.

Passaram rapidamente pelo hall e ele pode entrever Ivica com mais dois membros. Aquele Brujah grosseirão, escroto e desnecessário, Gregor, que, assim como todos de seu clã, não passava de um tolo cheio de excrementos. Era tudo que poderia dizer daquela criatura. Mas ele era fiel à Helena, então, não havia nada que se pudesse fazer a respeito daquela criatura desagradável. E o outro, constatou sem surpresas, era o Xerife, Edgard Von Astorff. Conteve-se para não tremer de nojo e desgosto. Por sorte, sua passagem por aquele cômodo foi rápida e logo estava dentro da biblioteca. Afirmou o sorriso enquanto convidava as convidadas a sentar-se com um gesto complicado e cheio de floreios. Os muitos anos treinando o possibilitaram fazer aquilo com certa perfeição, o que provavelmente era uma tolice, mas ele gostava. Era divertido, lúdico e elegante, assim como ele próprio.

Andou pela sala brevemente, enquanto as mulheres se acomodavam. Passou os dedos levemente pelas lombadas dos livros, com calma, sem pressa. Não podia fazer nada enquanto os outros membros não chegassem, e, por sua experiência, sabia que não deveria tentar puxar algum papo sem importância enquanto esperava. Deteve-se em alguns livros. Abriu-os e, discretamente, cheirou-os. Adorava o cheiro de livros antigos, principalmente quando eram pintados a mão – cada letra era um retrato da alma do autor. Ah, a criação literária perdera muito com os computadores, certamente! Vulgares, vulgares, esses livros impressos aos montes, com erros de digitação e folhas recicladas de outros livros! O mundo estava mesmo quase perdido. Quase perdido! Finalmente, sentou-se em uma poltrona avermelhada – era sua favorita. O estofamento dela, descobrira numa certa noite, ao analisá-lo com calma, fora todo bordado Rechelier, a mão, e ele tinha muito respeito pelo artesanato também. É claro, não era arte, mas agregava valor à coisas, certamente. E sorriu, agradável, para elas. Sabia que elas não compreendiam um terço do que se encontrava naquela sala, e que não viam a beleza, o trabalho e a erudição, mas ele aprendera a tempos a não esperar mais nada das mentes inferiores. Era afável com elas, e pronto.

14Mansão Longue Vue (Elísio)        - Página 1 Empty Re: Mansão Longue Vue (Elísio) Sáb Mar 24, 2012 9:11 pm

Ivica Romanova

Ivica Romanova
Ancillae

I V I C A




O Brujah finalmente apareceu em Longue Vue. A forma desleixada como atravessava os pés à frente do corpo , chocando seus calcanhares ruidosamente contra o piso de taco, era totalmente inadequada. A única utilidade de seu péssimo comportamento é mostrar a todos como o clã e sua ideologia barata estavam mortos. Se existiu um Brujah que algum dia mereceu debater assuntos importantes com um Artista, ele está morto há pelo menos dois mil anos – ou no mínimo se esconde há igual tempo. A selvageria de seus atos refletem apenas no campo de batalha, e mesmo assim são superados por pelo menos 90% dos outros clãs quando resolvem agir de cabeça quente. São uma praga em cada principado americano. Royce era o estereótipo dessa decrépita casa, assim como certamente ele acredita que Ivica seja para os Toreadores. Não há muito mais a ser dito sobre qual modelo merece ser seguido

- Estava correndo para a titia?

Ivica pára de subir as escadas, acuada com o corpanzil de Royce. A cabeça da criança caberia por inteira dentro de sua mão, o que destacava a disparidade de capacidade física. Era um bullying descarado de alguém que não tinha nada melhor para fazer do que assustar uma vampira duzentos anos mais nova e com 50% de seu tamanho.

- Boa noite, senhor Royce. – cumprimenta-o com a cabeça, meio sem jeito por estar tão acuada – Muito me entristece que nossos papéis de criança e de adulto responsável tenham se invertido em algum ponto do passado. – diz com a voz mais doce a cara mais cínica do mundo.

Pouquíssimo espaço havia lhe sobrado “debaixo” do gigante, mas ela acha uma brecha e escapa sem esbarrar em nada, graças ao seu diminuto corpo. Sobe a escadas vagarosamente, de costas, para que não fosse atacada de surpresa por um Brujah que foi colocado em seu devido lugar. A mãozinha pequena e delicada se arrasta corrimão acima, guiando a cega Ivica rumo ao topo dos degraus.

- Avisarei à Helena que o senhor e os outros já chegaram. – nesse momento Franz passa com os convidados em direção à biblioteca – Ah, que ótimo! Por favor, queira acompanhar o senhor Lorrimer. – aponta o Toreador com um gesto suave da mão livre – Descerei com nossa senhora dentro de pouco tempo.

A satisfação pelas respostas ao Brujah se transformou em pânico quando a pequena cainita virou-se e continuou a subir as escadas de frente. Deu de cara com O Xerife, o horror em pessoa. Pôde ver bem de perto as pústulas em sua pele, as veias mortas e ressecadas protuberantes naquele rosto deformado, pôde sentir o fedor que o acompanhava desde o abraço... Ivica ergueu o torax e os ombros de uma só vez. A boca se abriu em pavor com a proximidade daquilo. Estava em choque. Quando aquela pegajosa mão tocou em si, nem ao mesmo teve alguma reação. As palavras do Rato atravessaram o crânio morto da garotinha sem serem capturadas. Ivica se afundou ainda mais naquele terror quando Edgard apertou sua mão contra o corrimão.

- Devo agradecer pela gentileza que fez ao nos informar sobre o sacrilégio dos Ventrue, Harpia. Um trabalho digno de sua posição.

O horror não se desfez com a saída de Edgard. A ‘pequena’ ainda estava lá parada, estática, como um dois de paus. Permaneceu com a mente perturbada e os lábios tremendo, e depois de alguns segundos que pareceram uma eternidade, ela disparou em uma subida frenética pela escadaria. Sua vontade era gritar, gritar e gritar, e embora tal desejo fosse grande, exteriorizou o nojo em silêncio, esfregando as costas da mão contra o vestido inúmeras vezes.

Helena viu sua cara de assustada quando ela abriu a porta. Não tinha como disfarçar. Poderia apenas descontar com mais veneno destilado contra o Xerife, mas valeria o risco? Por outro lado, Edgard nunca havia tocado em um fio de cabelo de Ivica por saber que ela é protegida pela senescal. Ora, se ele quebrou sua regra era porque havia algo errado em alguma relação cainita na Longue Vue.

- Minha senhora... – cumprimenta com a cabeça apressadamente; ainda corria em seu sangue a euforia do péssimo encontro na escada – Todos estão presentes, madame. Estão sendo acomodados na biblioteca por Franz. – levanta o olhar e encara Helena de forma vacilante – Agora, se me permite emitir uma humilde opinião... Edgard nunca havia encostado um dedo em mim em respeito à senhora. Bem, acredito que ele tenha mudado alguns de seus conceitos.

Foi assim que ela passou o recado; para bom entendedor, meia palavra basta. Sem dizer mais nada, Ivica aguarda para descer as escadas junto à sua amada Helena.

15Mansão Longue Vue (Elísio)        - Página 1 Empty Re: Mansão Longue Vue (Elísio) Seg Mar 26, 2012 10:57 am

Isabela Sforza

Isabela Sforza
Anciã


Não houve tempos para cortesias, pois logo o secretário da Primigênie surgiu no recinto e foi recomentado pela Harpia-Criança que acomodasse todos na biblioteca. Franz levou-as em silêncio tal qual a situação pedia, embora soubesse que gostasse de puxar assunto com todos, não era sempre que ele encontrava pretexto para falar com a Giovanni. Nada mais natural na medida que o clã de Veneza e seus gostos sempre foram algo que passasse uma sensação ruim para os cainitas que simplesmente assistiam de fora, ou melhor, tentavam assistir de fora. De fato, assim era melhor, permitia-lhe mais espaço para se concentrar nos diálogos que realmente lhe importavam.

Ao passar pelo hall de entrada percebeu alterações nas presenças na casa e com o canto dos olhos notou que o Brujah também se fizera presente e não sabia dizer se aquilo era bom ou ruim. Aliás, tinha que comentar que jamais entendera o que fazia naquela Primigênie... Ou melhor sabia, eles tentavam mantê-la sob seu controle, temendo a possibilidade que ela fosse comandar um exército de cadáveres e aparições para cima de suas cabeças mortas e apavoradas... Sabia que os cainitas em geral temiam que os Giovanni morriam de medo de seus experimentações com os definitivamente mortos, que isso resultasse numa maneira de colocar aqueles mortos pela metade sob seu controle. Era tudo baseado em controle. Ou pela falta dele. Então era isso que ela fazia naquela Primigênie, estava ali para que eles não a temessem, que achassem que suas meia-dúzia de palavras em votos de fidelidade à Camarilla iriam mantê-la com as cordas presas sob os dedos invisíveis de um príncipe mais apavorado do que todos.

Isabela não suportava medo, não suportava a incapacidade de alguns de superá-lo. Por isso não prestava qualquer respeito por aquele príncipe que podia, talvez, muito bem ser parte dos delírios de uma Malkaviana travestida de bons modos para terminar na piada do século.

Então, simplesmente abria a boca para agraciar-lhes os ouvidos com exatamente o que queriam ouvir e permanecia quieta, observando o rumo que a que as coisas iriam tomar. Aquela querela entre Ventrues e Toreadores era mais do que esperada. Numa cidade mal administrada em que o rebanho está morrendo - e é importante dizer que Isabela não fazia qualquer objeção a isto -, era normal que os administradores natos da Camarilla quisessem tomar alguma providência para manter o que lhes era tão sagrado para suas vidas. O Vitae. O rebanho estava se deteriorando. E quando o alimento é de má qualidade, que tipo de nutrientes é possível extrair dele. Portanto, todos estavam apavorados, sem o rebanho não eram nada além de bestas descontroladas, e ninguém ali podia esconder o terror de perderem o último resquício de humanidade que os ligavam àquele mundo que tentavam controlar.

Novamente o controle. Lá estavam o Rato e a Criança brincando de "o meu é maior que o seu", podia sentir nos olhares que mandavam um ao outro e o Brujah afastando-se escadas abaixo... O Brujah... Onde é que este fluxo de pensamentos tinha começado mesmo? Sim, no ancião Brujah, o explosivo Gregor que assim como os outros nunca demonstrara querer puxar assunto com ela. Exatamente como ela nunca demonstrara ter grande interesse no clã do ancião em questão.

Acomodou-se num canto da biblioteca enquanto aguardavam, Franz foi namorar qualquer livro e ela puxou de dentro de sua bolsa um pequeno bloco de anotações e uma caneta e começou a revirar dentro de suas próprias notas. Estava ficando impaciente com aquela demora, preferindo estar em qualquer outro lugar cuidando de assuntos que lhe interessavam mais a estar ali esperando a boa vontade de Helena para fazer qualquer coisa que seu príncipe de sombras quisesse que ela fizesse.

- Che spreco di tempo... - Ela suspirou e voltou o olhar para Franz, sua beleza cuidadosamente cultivada quanto aquelas obras de arte que ele tanto apreciava - Parlando di tempo, o signor secretário não acha que ele passa demasiado lentamente para nós? - E apoiou a cabeça nas mãos e o cotovelo no braço da poltrona, baixando o tom de voz para um sussurro. - Às vezes isso me incomoda, a você não?

Onde estava o problema de trocar palavras vazias... Mesmo naquele momento...

16Mansão Longue Vue (Elísio)        - Página 1 Empty Re: Mansão Longue Vue (Elísio) Qui Mar 29, 2012 10:50 pm

Helena De Vries

Helena De Vries
Anciã


Naquele tempo de calmaria antes do furacão a cidade era mais agradável. Lembro-me de ser a senhora inconteste de todos em que Nova Orleans buscavam abrigo. É muito adequado expor suas críticas em meio à turbulência; no mínimo, é de se considerar como um ato oportunista. Hão sempre de ser maioria aqueles que adotam a comodidade das críticas sem sair de sua zona de conforto àqueles que se predispõe a tomar as dores e participar da luta ativa e dignamente. Helena deixa de ser “minha rainha” para virar “a louca” no primeiro sinal de um conflito. Nem Edgard, nem Royce, ou mesmo Isabela chegaram perto de conseguirem me enganar com suas falsas promessas de “vida longa à rainha”. Cada um deles, detentores de motivos personalíssimos para tal, não me inspiram a confiança de que preciso. Megalomania, cabeça quente e conveniência; desnecessário de minha parte ligar a coluna um à coluna dois. Apesar disso, todos eles dependem profundamente da Camarilla e são dos mais capazes Membros que se pode encontrar. Eles têm o meu respeito.

Tenho o Nosferatu à minha frente agora. Sem sombra de dúvidas, o melhor espécime que conheci em meus não poucos anos. Ele é arrojado e tem a mente aberta, o que não o impede de cair nos erros já citados. Acaba lançando uma provocação muito bem medida, devo admitir, tornando público aquele que deve ser o temor de todos da seita. A velha parábola da laranja podre que contamina as outras do cesto cairia como uma luva como embasamento de seus argumentos.

- Aquele que me repassa as ordens tem sapiência o suficiente para saber – e temer – que os Ventrue consigam mais aliados. Em seu nome tomarei as devidas precauções. – carrego na face a mesma melancolia de sempre quando devo passar uma ordem a qual preferia não ter que passar; sempre o mesmo olhar vacilante, a palavra que quase não nasce em meus lábios – Agora vá.

Olho em outra direção. As mãos no estofado macio do sofá são as âncoras a me segurar presencialmente ali, de tanto que vôo em pensamentos. Não acompanho Edgard se retirar, e sim fico a observar pela janela um casal de corvos a debandar em retirada da sacada da mansão. Seriam mesmo corvos ou pombas pintadas de preto? Não sei o que aconteceu com aquelas pombinhas tão brancas e simpáticas que nos faziam companhia. Talvez elas tenham nos abandonado, virado comida de Rato ou apenas foram devoradas pelos corvos, nunca dantes avistados em Garden District.

Meu repentino interesse nas aves que rodeiam Longue Vue não me cega os sentidos. Sou mestre naquela que deve ser a principal qualidade de um líder cainita: atenção à sua volta. Reconheço a voz de Franz e sua elegância, de Isabela e seu “interesse”, de Royce e sua implicância, de Edgard e sua rabugem e até mesmo da insípida Julliet, que se cala em seguida. Parada em frente à enorme janela de vidros da sala de estar, tocando o beiral com o umbigo e as pontas dos dedos, ouço tudo o que conversam entre si lá embaixo no primeiro piso, ajudada pelo fato de a biblioteca estar exatamente debaixo de meus pés. Consigo sentir através das vibrações que repercutem no piso de madeira que alguém de pouco peso sobe correndo as escadas. Ivica. A pequena é tão linda, tão maravilhosamente delicada e engenhosamente venenosa que não há como deixar de se engraçar pelos seus encantos. Deixo que faça seu relato como se aquilo tudo fosse novidade para mim. Ó, que gracinha que ela fica quando nervosa.

- Deixe Edgard comigo, Ivica, que eu me entendo com ele. – quando percebo já estou sorrindo para a pequena; aperto aquelas bochechas gostosas ao passo que dobro os joelhos para ficar na sua altura – Vamos esquecer todo o restante por ora. É melhor concentrarmos nossas forças na reunião agora, não é mesmo?

Minha fiel escudeira vai à frente, tendo minha mão repousada sobre seu ombro. Ivica me guia pela escadaria até a biblioteca, onde sem fazer nenhum grande alarde deixo que percebam minha presença. A criança permanece em pé parada próximo à porta, sendo sua responsabilidade cuidar para que não sejamos interrompidos. Aproximo-me de Franz e retiro o casaco de pele, entregando à ele em seguida. Um vislumbre em suas auras me diz o estado de espírito em que se encontram Ivica, Franz, Isabela, Julliet e Royce.

- Obrigado, Franz. – limpo minha expressão simpática antes de me virar novamente aos presentes; de sobrancelha arqueada dou início à nossa pequena reunião – Boa noite a todos. É sempre, um, prazer, ver que gozamos do mesmo interesse em relação aos assuntos internos da Camarilla.

Caminho de cabeça abaixada até o sofá mais confotável da biblioteca, aquele que Franz e todos os que realmente frequentam a mansão sabem ser meu. Não há porque perder mais tempo com protocolos pessoais, então sento com certa etiqueta e depois simplesmente deixo cair as costas sobre o encosto fofo.

- Os Ventrue são mesmo um pé no saco. – o prenúncio ilustra com perfeição o discurso que eu seguiria; balanço a cabeça de um lado para o outro lentamente – Eles não se contentaram mesmo em ver nosso sucesso em Nova Orleans. A cidade cresce depois da tragédia, temos os espíritos controlados – aponta Isabela com a mão estendida -, temos uma excelente rede de informações, servos leais e eficientes... Só não temos um Ventrue para nos esgotar a paciência na primigênie, então por isso “não servimos”.

Não focalizo a atenção para ninguém em específico; pelo contrário, concentro-me em manter o olhar baixo, sempre próximo ao chão, deixando claro que falo com todos ao mesmo tempo.

- Henry Freeman conseguiu os Gangrels ao seu lado, e esse é o motivo pelo qual não estão vendo nosso ilustríssimo ancião Selvagem aqui esta noite. – passo batida pelo assunto, já que não tinha mais paciência com aqueles traidores – Ele tem um guarda-costas com ele, mas não é só isso. Henry anunciou à cidade inteira que vai nos desalojar. Eles estão comprando as pessoas certas para o serviço, fazendo tudo conforme o protocolo Ventrue de ser.

- Enviei Edgard atrás de Henry e acredito que o teremos ainda essa noite. Mas precisamos ser mais rápidos ainda, estarmos sempre um passo a frente. – bato as mãos delicadamente contra os apoios do sofá e lanço o olhar vacilante para todos os presentes - Por favor, seria importante ouvirmos as reivindicações de todos os clãs presentes, bem como suas propostas perante tão delicado assunto. Saibam que os Toreadores estão completamente fiéis à Camarilla – olho para Franz por um segundo -, e que meu segundo passo será dado agora. Gregor, eu gostaria que você “contactasse” o advogado do senhor Freeman. Acredito que teremos muito o que conversar com ele.

Fico aguardando que todos eles expusessem seus pontos de vistas. Julliet também poderia emitir sua opinião como convidada, ainda que eu tenha certeza que ela se calará durante toda a reunião.

Continuo examinando a aura de cada um conforme expõem seus pensamentos.

17Mansão Longue Vue (Elísio)        - Página 1 Empty Re: Mansão Longue Vue (Elísio) Ter Abr 03, 2012 11:59 am

Franz Lorrimer

Franz Lorrimer
Ancillae

Tinha que admitir que temia consideravelmente Isabela Sforza. Diferentemente dele próprio, ela só abria a boca para falar o esperado, para as pessoas esperadas e no momento certo. O que não significava que fosse tola e deixasse as coisas escapar, não, pelo contrário, ela era esperta demais. Tinha calafrios quando a observava nas reuniões, parada e indecifrável como uma escultura neoclássica. Talvez por isso não conversasse com ela, a despeito de manter longos e inúteis papos com todos os membros, até mesmo os mais detestáveis. De certa forma, sabia que ela não engoliria sua pseudo-afetação, sua simpatia e seu pedantismo. Então, preferia ficar quieto. Ele também não era exatamente um estúpido e, bem, quando ainda era um neófito chegou a manter longas conversas com um grupo de vampiros franceses, Brujahs, que pregavam a morte a toda a família Giovanni. A ideia não lhe soara de todo má na época. O triste de se viver por tantos anos é perceber que, no fim, não mudamos nada, nada, em todo esse espaço de tempo. Ainda desconfiava. Estava se tornando um velhinho paranoico. Talvez por isso, a fala de Sforza dirigida a ele o sobressaltou. É claro, se recompôs rapidamente. Não era tão tolo a ponto de deixá-la perceber seu desconforto. De qualquer maneira, achava interessante que ela abrisse uma possibilidade de interação para ele. Talvez não fosse tão esperta assim, no final das contas. Sorriu calorosamente.

- Mais oui, mademoiselle Sforza. O tempo é duro pra nós. – deu um suspiro sentido que até o convenceu de que realmente sentia Mais comme jê l’ai dit le camarade Platão, “O tempo é a imagem móvel da eternidade imóvel”. Assim o é. Para nós, fica só a eternidade imóvel, n’est-ce pas? Rien ne change...

E sorriu, mas para si mesmo do que para ela. Gostara de como aquela fala soara, simples, verdadeira e com conteúdo, como se estivesse representando. Era agradável. Não se cansava de se sentir impressionado com sua própria inteligência. Como já dito, os anos passam, mas nada muda. Continuava pedante como sempre fora, talvez até mais, agora que acumulara algumas toneladas de conhecimento.

Infelizmente teve que parar de se congratular mentalmente pelo incrível desempenho, com a chegada de Helena. Aprendera com o tempo que seria muito apreciado se ficasse quieto, sério, com as costas retas e fizesse o que mandassem sem maiores problemas. Como era um mísero secretário, nunca tinha muito o que fazer, então as reuniões da camarilla consistiam em postura endurecida, rija, costas retas, semblante sério, nada dos sorrisos falsos ou simpatia, todas essas coisas que fazem a não-vida mais suportável. Política era mesmo algo tedioso, mas já que já estava lá mesmo!...Levantou-se com a entrada de Helena e pegou seu casaco com tranquilidade. Não estava nem um pouco preocupado, e sabia que isso podia ser percebido por todos na sala, mas ora! Estava lá! Isso era o que importava.

Dobrou o casaco sobre o braço esquerdo e o acariciou com leveza. Era macio o bastante. Não se incomodou em examiná-lo. Helena não costumava usar coisas baratas ou falsificadas. Certamente era legítimo. Mas no que estava pensando? Deveria prestar atenção nas palavras da senescal. Voltou seus olhos para ela, atenciosos e bem abertos. Sabia o efeito positivo que alguém olhando com os olhos bem abertos podia fazer num interlocutor, principalmente um como Helena, ligeiramente tímido, pouco teatral e vacilante. Estava tão ocupado parecendo interessado que demorou para processar o sentido das palavras.

Helena já tinha terminado de falar quando finalmente percebeu o significado de tudo aquilo. Os Gangrel ajudando os Ventrue? Uma tentativa de desapropriação da Longue Vue? Mas aquilo era simplesmente um absurdo! Não tinha ideia de que a coisa toda fora tão longe! Mas era absurdo! Chegava a ser uma heresia... Não era possível que algum advogado realmente fizesse uma coisa dessas, entregar um patrimônio como Longue Vue nas mãos de uma empresa! Mas estava sendo tolo, é claro. Advogados são criaturas insípidas, sem o mínimo de sensibilidade, e que não entendem o valor de algo como aquela mansão. E o que é que eles queriam com isso, afinal, além de nos aborrecer? De repente, ficava preocupado. Talvez a situação não fosse tão simples como imaginara inicialmente.

Ah, agora sim, queria ficar cara a cara com Freeman, para um duelo de cavalheiros. Resolver aquilo com a força de seu florete! Mas estava fora de si, é claro. Jamais poderia entrar num duelo com alguém, e mal sabia usar um déjouer. Mas seria simplesmente perfeito se soubesse! Ah, se pudesse, que sensação bela a de um “Touchè!" no peito daquele tolo... Daquele maldito... A imagem surgia perfeitamente em sua cabeça. Que belo seria.

Mas não falou nada. Não queria correr o risco de ser mandado pra fazer o que imaginava. Olhou em volta, esperando que alguém falasse alguma coisa. Ele, como secretário, não devia abrir a boca. Além disso, a representante do clã era Helena.

18Mansão Longue Vue (Elísio)        - Página 1 Empty Re: Mansão Longue Vue (Elísio) Sáb Abr 07, 2012 9:12 pm

Royce Gregor

Royce Gregor
Ancião

Devo admitir que uma das coisas que mais me divertiam naquela Camarilla escrota era a vulnerabilidade e o complexo de superioridade da pirralha. Ela sequer tentava mascarar o fato de que era basicamente indefesa, mas ao mesmo tempo, ao se esconder debaixo das saias de Helena, ela pensava ter o direito de mandar e desmandar nas situações.

Só que pirralhice nunca foi o meu forte, então ela poderia ir brincar em outro lugar, porque eu não ia fazer o papel de tio bonzinho feliz por sua presença. Eu não era do tipo pedófilo e esperava mais era que ela se fodesse. Quanto mais longe de mim, melhor.

- Crianças, fedelha, só existem quando estão vivas. Você já não está a mais anos do que a vida de uma geração inteira, então não acho que se classifique como criança. Só um projeto de sanguessuga em miniatura, que nunca vai sair desse estado. Uma merda, né? – Disse, sorrindo forçadamente. – Ainda bem que eu nunca fui conhecido por ser um primor da ‘responsabilidade’.

Eu até pretendia alfinetar mais aquela coisinha minúscula, mas, no exato momento em que a minha frase terminou, um cheiro nada agradável me fez perceber uma nova presença nas proximidades. Virei-me a tempo de testemunhar a chegada triunfal do Xerife, sentindo um prazer enorme me invadir diante da perspectiva daquele encontro. A mão do feioso tocou a da pirralha e eu acho que nunca ri tanto e tão sinceramente desde que era vivo. Estava pouco me fodendo para o que ele tinha dito a ela, mas o olhar de puro horror, junto com a disparada num frenesi de horror, fez com que minhas gargalhadas seguissem a debandada da fedelha até a sala de sua protetora, ecoando pelos corredores.

- Grande Ed. – Saudei, após seu seco cumprimento com um menear de cabeça. O cara era feio e extremamente sério, mas meu respeito por ele era algo raro de se ver nas noites de hoje, simplesmente por ser sincero.

Não relutei em acompanhar o fresco para a sala de palhaçadas depois dessa cena. O riso ainda estava fresco em meu corpo morto, melhorando significativamente meu humor. Depois daquilo, eu até poderia aguentar uns dez minutos de baboseiras daquela maluca.

Escolhi uma cadeira daquelas cheias de frufru idiota, e me sentei, apoiando um dos pés no estofado tentando me fazer confortável. Eu sempre soube que Helena era biruta, mas metade do seu discurso me fez rolar os olhos compulsivamente. Sim, os Ventrue eram um pé no saco, mas eu queria saber onde estava o tal sucesso que ela declarava em nosso nome na cidade. Aquela merda estava um caos total, caindo aos pedaços, e aquela doida nunca dava um passo para fora do seu castelo encantado para se tocar da situação.


A noticia sobre os Gangrel me fez franzir o cenho gravemente em desconfiança. Era uma situação tão improvável que apenas um caso dessa união, durante toda a minha longa morte, chegara ao meu conhecimento. Um caso tão detestável quanto um Ventrue velho demais. Eu não era do tipo que acreditava em coincidências, mas, diante daquele fato, eu estava preferindo acreditar só na intenção de parar de pensar naquela merda.

Nem mesmo Ed seria o suficiente se eu estivesse correto, mas enfim. Não ia continuar naquela hipótese, e admito que a proposta da biruta em ouvir o que nós tínhamos a dizer me animou consideravelmente. Só até a fatídica frase.

A porcaria da frase que fodeu tudo.

- Gregor, eu gostaria que você “contactasse” o advogado do senhor Freeman. Acredito que teremos muito o que conversar com ele.

Eu? Contatar advogado? Entrar em contato com um almofadinhas estúpido e suas merdas burocráticas?

Aquela maluca só podia estar de sacanagem com a minha cara.

- Vamos fazer um trato. – Propus, calmamente. – Você quer que eu vá atrás desse palhaço para ‘conversar’, e eu sinceramente espero que você olhe para a minha cara agora e diga que é uma pegadinha. Como eu sei que isso não vai acontecer, eu só aceito ir atrás do engomadinho em uma condição.

Dei uma pausa caracteristicamente dramática e proposital, fitando a louca nos olhos com firmeza.

- Eu quero liberdade de abraço. Se é pra rolar barraco nessa porra, que eu tenha meu próprio batalhão sem precisar vir aqui ficar de cerimonia idiota na sua frente. O Príncipe não dá as caras para autorizar nem ver porra nenhuma, então se você acha que tem autoridade o suficiente para comandar todo esse teatro estúpido, eu sugiro que você me dê essa liberdade. A Camarilla tá mais frágil que aquela pirralha que você chama de Harpia e qualquer ventinho tomba essa merda, mas se tivermos um batalhão decente de Brujah como linha de frente, os Ventrue vão ter mais problemas para chegarem ao topo. Tudo o que você precisa é de uma horda de idiotas que tenham paixão pela causa, não é mesmo? Porque aqui dentro, se tiverem 3 ou 4 que ainda acreditam em sucesso é muito. A grande maioria não passa de um monte de velhote desiludido e sinceramente desesperado com a perspectiva da tomada de poder, e me incluo nessa. Ninguém quer ficar do lado perdedor, não é mesmo? Então pense nisso. Pense no seu exército.

Terminei meu discurso após trocar o pé que apoiava no estofado de veludo velho e caro da cadeira. Se Helena queria me sacanear, que me desse algo valioso em troca, porque eu sinceramente já estava de saco cheio de toda aquela palhaçada. Não nasci pra ser servente de fresco, muito menos de fresco maluco, então era melhor ela conseguir colhões para autorizar meu pedido. Era o mínimo que ela poderia fazer.

19Mansão Longue Vue (Elísio)        - Página 1 Empty Re: Mansão Longue Vue (Elísio) Dom Abr 08, 2012 12:34 pm

Isabela Sforza

Isabela Sforza
Anciã

O secretário sobressaltou-se, é claro. Isabela trazia um sorriso cordial e educado na face. Por vezes ela era tão educada e cordial, sempre tão bem arrumada e com gestos bonitos e delicados que se assemelhava demais com uma Toreador. Mas eles não se enganavam e sabiam que por trás da beleza se escondia, camuflado por perfumes caros, o cheiro podre de quem mexe com a morte. E Isabela mexia com a morte, cantava, dançava e comungava com ela até o surgir da alvorada. Portanto, um Toreador autêntico, observador e com algumas perspicácia se sentiria incomodado em sua presença, mesmo sem saber porquê.

Ele respondeu puxando uma citação de Platão. Ele achava que ela se impressionava com filosofia? Não filosofia grega e muito menos Platão com seu mundinho de ideias... Ela estivera observando o Mundo Inferior por tempo demais para perceber, que, apesar de ter bons pensamento, o mundo de Platão estava muito longe de ser tão ideal quando queria que fosse. Não, ela não gostava de Platão, ou de qualquer pessoa que julgasse saber qualquer coisa sobre espíritos, almas ou fantasmagorias quaisquer baseados apenas em intuições patéticas.

O sorriso dela se desfez e ela já estava a tirar palavras da boca quando percebeu a aproximação dos outros.

- Que bom, então, que movimentamos esse tempo inútil e paramos de desperdiçar nosso enfado. - Ela disse para ver Helena se posicionando para seu pronunciamento.

Em silêncio ouviu a Senescal dizer o óbvio. Como sempre. Muitas vezes ouvia entre os visitantes do Elísio dizerem o quanto Helena inteligente. Talvez até devesse dar o braço a torcer para a Malkaviana recalcada, mas era obrigada a admitir que não se impressionava, e era em situações que fugiam ao seu controle que sua insegurança se revelava. Helena podia ser inteligente, mas não usava isso ao seu favor ao jogar fora todas as vantagens que seu admirável Clã lhe dava. Os spiritti raramente podem ser considerados sãos por quem habita o mundo dos vivos e é isso que os torna tão terríveis. Sob sua nova perspectiva podem muito bem ser chamados de loucos, insanos, traumatizados, etc., e assim são... imprevisíveis. Os Malkavianos com quem cruzara o caminho nestes quatro séculos de vida e que conseguiram de fato lhe despertar algum tipo de apreensão eram assim. Um era mais entediante que um Ventrue burocrata, tamanha a racionalidade, mas ele não negava a maldição de seu clã e Isabela sabia que ele era capaz de qualquer coisa. Helena tinha a mesma vantagem ao fazer de tudo para ser sã, mas deixava de lado aquilo que a tornava forte. Pelo seu próprio bem e pelo bem da Camarilla que ela tentava defender que ela soubesse usar sua loucura a seu favor, pois apenas aparentava que era escrava de seu próprio medo do caos que somente o Clã de Malkav é capaz de experienciar.

Ventrues são chatos, mas necessários à Camarilla. Não se fazem burocratas como um verdadeiro Ventrue. Portanto, ter um no poder era sempre muito útil. Eles fazem o que tem que fazer. Ponto. Se o Príncipe deseja manter seu trono na escuridão, que o faça, mas ponha alguém com maior capacidade de lidar com o inesperado. O tempo já tinha passado depois de Katrina e Isabela ainda encontrava almas perdidas para aprisionar. Sem dúvida a morte faz o fantasma e aqueles sabiam como fazer um rebuliço a sua volta. O trauma também fora violento e a cidade ainda não se recuperara e, para piorar, suas estruturas ainda estavam fracas. Helena assumia um pretenso sucesso, mas era incapaz de enxergá-lo. O que via era a pilha de cadáveres aumentando nos necrotérios. Na terra prometida, quando a promessa é negada, o que o rebanho faz? Qualquer ignorante pode responder isto.

Os Ventrue tinham até convencido os Gangrels a seguir do seu lado. Aquilo sim foi uma grata surpresa. Gangrels sempre são tão ariscos quanto gatos selvagens. Esperava que se mantivessem quietos esperando que a Camarilla se deteriorasse por completo e pudessem viver na independência que tanto procuravam. Mas se tinham resolvido tomar partido, aquilo apenas deixava tudo mais interessante. Ao menos os brutamontes teriam serventia ao ter em quem bater.

Por falar em brutamontes ouviu Gregor se pronunciar ao ser enviado para a linha de frente. Franziu o cenho de leve quando ele pediu liberdade de abraço em troca de sucesso em sua missão.

Quando ele terminou toda a sala ficou em silêncio aguardando a reação de Helena e Isabela resolveu dar a ela mais alguns argumentos para ponderar.

- Sou indiferente ao seu desejo de prógenie, Royce, mas tenho que dizer que não creio que um bando de infantes numa coleira irá fazer alguma diferença significativa na situação. - Disse, esforçando-se para eliminar o sotaque italiano da língua e então, pausou para unir as mãos em frente ao queixo e cruzar as pernas, voltando a falar antes que o Brujah resolvesse tomá-la como opositora naquele argumento. - Porém, tenho que concordar com você que as coisas não estão bem, aliás não estão nada bem. Posso estar com a visão embaralhada, mas não consigo enxergar tamanho sucesso. E vamos fingir que a constatação estapafúrdia de que isso pode ser chamado de sucesso não foi feita. Não posso bater palminhas quando tudo que vejo é um navio afundando e acredito todos aqui presentes são culpados por isso, pois preferimos ignorar a situação e prestarmos nossas atenções no que mais nos interessava. Preferindo salvar apenas o interesse pessoal de cada um.

Neste momento ela pausa e volta seu olhar para Helena, deixando um tempo para que todos engolissem o que falava.

- É por isso que devemos agradecer ao Ventrue "pé-no-saco" por terminar de jogar a merda no ventilador e fazê-la espirrar em nossas caras e, finalmente ver que por baixo desses belos papeis de parede, as estruturas estão ruindo. Não dá mais para ignorar e, Helena, apenas conter os danos, não vai ser suficiente e, sinceramente, espero que você não esteja acreditando que vai. Depois de Royce assustar o advogado o suficiente para demovê-lo da continuação de seu trabalho e depois que Edgar trouxer o Ventrue para prestação de contas sobre sua deslealdade, o que vai ser? Vamos voltar a tocar nossas vidas tal qual antes? Voltando a ignorar que problemas, sim, existem? Os Ventrue são um pé-no-saco mas eles estão dizendo algo que devemos considerar e apenas colocar um bandaid na situação não vai ajudar.

- Se estamos aqui é porque alguma disposição resta para consertar o que resta desse governo. Portanto, eu pergunto, Helena, o que de fato o Príncipe, ou você, ou quem quer que mande aqui vai fazer antes que nos enchamos dessa porcaria toda e nos voltemos para o outro lado?

Terminando, Isabela desvia o olhar da senescal e olha rapidamente para cada um dos presentes, por fim voltando seus olhos para ela. No fundo, bem no fundo ansiava por vê-la ceder a sua natureza e voltar a ser forte, mostrar que não estava ali apenas como um fantoche de um covarde.



Última edição por Mestre de Jogo em Dom Abr 08, 2012 11:31 pm, editado 2 vez(es) (Motivo da edição : Correção de pequenos erros a pedido da player)

20Mansão Longue Vue (Elísio)        - Página 1 Empty Re: Mansão Longue Vue (Elísio) Dom Abr 08, 2012 4:18 pm

Helena De Vries

Helena De Vries
Anciã

Trechos em Palatino Linotype por Ivica Romanova


O que é o que é um monte de cadáveres de centenas de anos de idade que ainda andam sobre a terra, conspiram e desconfiam de sua própria sombra? A Camarilla. Há muito se perdeu a simplicidade das decisões dentro desse seleto grupo. O “sim” e o “não” moldaram-se em formas muito mais complexas, burocráticas, que emperram a engrenagem e apenas fazem acumular problemas que poderiam se resolver com uma única palavra. Naquele tempo em que o sangue de Malkav ainda se sobrepunha às minhas raízes Toreadoras, recebi a “iluminação” de que tantos falam. Pude entender os padrões óbvios mesmo nas questões filosóficas mais obscuras, e tal qual a função verdadeira dos padrões, eles seguiam uma mesma linha e que sempre culminava em uma resposta clara e objetiva. Acho que acabei perdendo esse conhecimento, pois a cada noite me sinto mais próxima do modo de agir desses à minha frente.

Vejamos Royce. Pelo senso comum desfavorável ao seu clã, ele teria se irritado e saído da sala de forma abrupta com minha ordem. Prefiro acreditar que ainda resta naqueles de seu sangue a necessidade da boa discussão. Talvez alguns “por quês” fossem dirigidos à mim na ânsia de resolver dúvidas que deixaram lacunas em seu raciocínio. Nada disso. Ele quis negociar comigo – o que sinceramente acho de uma decadência avançada. Seu áspero palavreado causa sobressaltos em mim a cada xingamento proferido. Que deselegância, senhor Gregor! Percebo também que ele insistia em manter os pés sujos sobre a mobília onde se encontrava. Faça um gesto com o dedo indicador chamando Franz ao meu lado, e ao pé de seu ouvido ordeno que ele tome uma providência para acabar com a total falta de postura do ancião Brujah. Não pude eu mesma tomar a referida providência por conta da Giovanni ter dado início aos seus argumentos.

Isabela causava desconfortos em muitos, isso não é novidade. Seja por seus modos requintadamente sinistos ao lidar com seus semelhantes, ou a graciosidade do funesto papel de guardiã dos mortos, a presença da anciã italiana transforma o clima mais alegre em uma ocasião fúnebre - não que esta fosse uma ocasião alegre. As poucas palavras que profere a cada encontro tornam seu ponto de vista sempre algo a se considerar, e ao vestir o mesmo ponto de vista que tenho sobre o pedido de Gregor – sobre o qual me pronunciarei mais à frente – ela captou minha confiança em seu posicionamento. Mas bastou seguir em seu discurso para comprovarmos que ela na verdade está do lado dos burocratas. O olhar outrora vacilante que eu portava passou a demonstrar minha total incredulidade em suas palavras. De sobrancelhas erguidas e boquiaberta, exteorizei minha reação com o que eu achava disso tudo. Ao menos assim procurei me expressar, visto que suas auras e intenções já não haviam escapado dos meus aupícios desde o início da noite e bem antes disso também.

- Isabela, se me permite chamá-la assim – toquei o meu colo pedindo desculpas pela intimidade requerida -, você conseguiu me surpreender com suas palavras. Como assim a estrutura está ruindo? – bati com com pouca força minhas mãos sobre os encostos de braços do sofá e fiz a mesma pose incrédula de antes – Por acaso você não tem conseguido contato com seus mortos? Por acaso o Garden District não tem se reerguido com restaurações? A Nova Orleans que eu vejo prospera sim! – cruzo as pernas e apóio o queixo com um dos punhos, cotovelo no apoio do sofá; retiro meu olhar da ingrata e passo a me concentrar num pedaço qualquer do chão que com certeza seria mais agradecido à mim do que ela o é – Se eu fosse interessada naquelas planilhas humanas repletas de números, porcentagens, lucros... Repletas daquela chatice – gesticulo repetidas vezes com a mão livre ao falar “chatice” – vocês veriam que temos taxas de emprego e crescimento muito adequadas ao restante do país. – passo a olhar os presentes um por um - Nosso rebanho prospera é feliz por conta da qualidade de vida da qual gozam aqui, com nossa cultura extremamente rica e tradicional, que, aliás, desde sempre foi bancada por nós, Toreadores. Pensem nisso, mesmo que seja difícil de admitir no começo.

Bufaria se pudesse, mas estou morta e não tenho mais um pulmão. Dois pulmões, melhor dizendo. Meu tom de voz subiu um pouco, tenho vergonha em dizer isso, mas também não fui desrespeitosa com ela ou proferi o apelido pejorativo das fezes humanas, assim como ela o o outro fizeram. Sabendo ter fixado minha opinião da melhor maneira possível, prossegui no raciocínio já com mais parcimônia.

- Acredite em quem está aqui há mais tempo que vocês. – eu. – Temos uma jóia de cidade em mãos, e mais do que ninguém eu quero o melhor para todos do rebanho e de nossa sociedade. – recomponho a postura perfeita – Infelizmente os boatos e a falta de informações corretas fizeram com que vocês acreditassem em inverdades. Parte disso é culpa minha. – viro-me em direção à porta onde está meu pequeno amorzinho – Ivica, querida, de agora em diante tu serás a mensageira de cada decisão tomada na Longue Vue, devendo se apressar em levar os informes ao senhor Gregor e à Isabela.


Quanta indelicadeza eu ouvi essa noite... Gregor é um canastrão, mas se superou hoje e ainda anseio pela resposta de seu pedido absurdo. Isabela foi quem mais me surpreendeu, e por quê não, fez com que eu temesse pelo futuro. Vejo a anciã se aliando aos Ventrue depois de seu discurso de hoje. Rezo para que apenas tenha “forçado a barra” para conseguir algo a mais de Helena.

Minha senhora se dirigiu à mim, pedindo que eu fosse o canal de comunicação Longue Vue-Primigênie. Ótima idéia. Espere sentado por meus relatórios, senhor Brujah.

Aceno um “sim” com a cabeça sem desfazer a postura que mantinha.



- Muito bem. Sobre o seu pedido, senhor Gregor, acredito que é uma proposta destinada ao fracasso. Como todos sabemos, somente o Príncipe pode dar tal ordem, e eu recebi orientações explícitas em sentido contrário. No entanto, arriscando-me a sofrer consequências por tal decisão, eu, Helena de Vries, senescal do Principado de Nova Orleans, extrapolando das atribuições que me são de direito, autorizo que mantenha consigo um, e somente um pupilo sob sua tutela, sem a necessidade de pré-aprovação ou de apresentação imediata. – olho vacilante para Isabela – Se for de seu interesse, poderás fazer o mesmo. Já sobre o pedido de ações práticas... Acredito firmemente que devemos contragolpeá-los tomando o controle sobre o escritório por detrás das desapropriações. Já a presença do senhor Freeman nos permitirá agir pelo caminho reto, sentando e conversando com um Ventrue. Acredito que todos nós concodamos em manter mais de uma linha de ação, não é mesmo?

Estava para dar a palavra à Primigênie novamente quando me lembro do deplorável “problema Gangrel”. Quase suspiro em desgosto, contentando-me em revirar os olhos na falta do ar.

- Ah, sim. Não podemos nos esquecer dos Selvagens. Aqueles que se encontrem apoiando os Ventrue nessa revolta, novos ou velhos conhecidos, deverão ser caçados e destruídos. Ordens superiores. Na verdade as ordens mencionavam algo sobre “cabeças em bandejas de prata”, mas acabei achando piegas demais essa parte. Enfim... – volto-me para a Giovanni; levo o indicador à boca tentando me recordar de alguns fatos passados – Isabela, se bem me lembro, há alguns fantasmas na área de Lakefront. Concordas que seria de boa monta uma investida naquela área, não? Se você pudesse controlá-los e orientá-los a se manterem atentos à movimentação dos Selvagens nas áreas selvagens de nosso território, seria perfeito.

Aproveito a pequena pausa para passar telepaticamente um lembrete para meu estimado Franz. Os Toreadores também teriam seu papel no embate, afinal.



Última edição por Mestre de Jogo em Qui Abr 12, 2012 2:42 am, editado 4 vez(es) (Motivo da edição : Inclusão do aviso no topo)

21Mansão Longue Vue (Elísio)        - Página 1 Empty Re: Mansão Longue Vue (Elísio) Qui Abr 12, 2012 4:28 pm

Franz Lorrimer

Franz Lorrimer
Ancillae

O ancião Brujah falava, e falava e falava, e tudo o que Franz conseguia ver era seu pé enorme e grosseiro apoiado em cima de um estofado elisabetano feito a mão, que podia muito bem se acomodar perfeitamente a um Shakespeare no ano de sua estréia, isso é, se eles usassem cenários então. Como era possível que alguém fosse bruto, grosseiro e nojento a ponto de destruir um trabalho artesanal de real valor apenas por um pretenso conforto – sim, porque supunha que o escroto tentava se colocar confortável, o que não fazia sentido algum, considerando que a posição mais confortável sempre é em pé, com a coluna ereta e os ombros balanceados, de preferência dentro de roupas confortáveis e um sapato de verniz. Sinceramente, não entendia o porque alguém se dera ao trabalho de agraciar com a não-vida a uma criatura como Gregor, mas, enfim, o malfeito já estava feito e, bem, custava a admitir, mas já estava feito há mais tempo do que ele próprio! Haveria muito poucos vampiros se apenas os realmente merecedores fossem abraçados, e precisavam de massa de manobra para sobreviver, infelizmente! Mas, é claro, Helena entendia. Ele deu um sorriso verdadeiramente animado ao receber a ordem e, pomposo, se dirigiu ao brutamontes. Não tinha muita certeza de qual tipo de atitude deveria ter em relação a ele, e tinha quase certeza de que seus esforços seriam infrutíferos, mas era sempre bom tentar. Pousou levemente a mão sobre o ombro do Brujah e abaixou-se a altura de seu ouvido esquerdo, para sussurrar pomposamente – afinal, não se deve perder a classe, nem a educação, e Sforza estava falando. Mas é claro, não era nada importante. Nem se deu ao trabalho de ouvir.

- Gregor, por favor, tenha modos. Tire esse pé da cadeira, se ainda gosta do formato que ele tem.

Pronto. Simples, objetivo, com uma ligeira insinuação de violência para que o babaca compreendesse. É claro, não seria ele que daria um jeito no pé de Gregor caso ele não o tirasse dali, mas isso já não era mais problema seu. Endireitou sua postura, ainda olhando reprovadoramente para o grosseirão. Sentia que tinha que agir com ele como se fosse com uma criança. Lhe daria umas palmadas, se pudesse. A idéia lhe deu vontade de rir, e ele torceu os lábios para evitar uma gargalhada num momento totalmente inapropriado. Imaginara Gregor com as calças arriadas, levando umas palmadas no traseiro como se faz com moleques mal-educados. Que engraçado .

Voltou a perceber o que estava acontecendo já no fim da fala de Sforza e conteve um arregalar de olhos ao que ela disse. Então era isso? Bem diziam que deveríamos matar todos os Giovanni com requintes de crueldade e, é claro, de uma maneira que eles não voltem. Afinal, eles tem essa péssima mania. Impressionante como eram ardilosos e mercenários, era isso, eram mercenários. E pensar que chegara a ter Sforza em alta conta, mesmo tendo percebido que ela não se impressionava com Platão, o que denotava uma mente bastante menos evoluído do que o que ele a atribuía. E ela vinha com esse papinho agora! Voltou seus olhos para Helena e ouviu com alegria suas palavras contundentes contra a possível e escrota traidorazinha. Ah, era por isso que não devia se meter com política! Já estava se enchendo de sentimentos desagradáveis em relação aos outros membros. Mas, é claro, isso não o impediria jamais de ser cordial.

Perdeu-se em reminiscências durante a fala da Senescal. De fato, não se importava muito com aquilo tudo. Mas a voz de Helena dentro de sua mente, trazendo uma bela notícia, o tirou de seus pensamentos e filosofias do absurdo para lhe dar um sorrisinho leve ao rosto. Então, poderia escolher alguém? Já fazia algum tempo mesmo que pensava em abraçar alguém, é claro, uma pessoa cordial, bela e educada, com todos os pontos utilizáveis da finesse, alguém que realmente merecia a não-vida... E criaria uma obra de arte andante e eterna, como a pequena Ivica, por exemplo. Seria ótimo. De alguma coisa toda aquela situação estava servindo. Voltou a mergulhar em seus pensamentos, com um sorriso leve brincando em seu rosto agora. Não ia mesmo conseguir prestar atenção naquela reunião inútil.

22Mansão Longue Vue (Elísio)        - Página 1 Empty Re: Mansão Longue Vue (Elísio) Sex Abr 27, 2012 12:02 am

Royce Gregor

Royce Gregor
Ancião

Gostei dessa dona Sforza. Mulher de atitude, falou o que tinha em mente cheia de classe, mas sem pudor nenhum. Mereceu meu respeito, ainda mais por eu concordar com a sua visão. Gosto de mulheres com atitude.

Aquela cidade estava uma zona generalizada e, pelo discurso de Helena, pude perceber que ela era ainda mais maluca do que eu imaginava.

Como assim ela não conseguia perceber o que acontecia de baixo do seu próprio nariz? Porque nem mesmo perfume francês chique e caro, essas porcarias que com certeza ela devia colecionar, conseguem disfarçar o cheiro de merda. Ela ia continuar com suas palhaçadas e alucinações, mas a Camarilla não era governada por ela, ou pelo menos, não deveria ser, e nós tínhamos o direito de reclamar diretamente com alguém que se importasse.

- Onde está a porra do Príncipe? Vai ficar se escondendo até quando? A dona Sforza falou bonito, a Camarilla na sua mão está virando um caos e não vejo vossa senhoria se importando. Continua com as mesmas ilusões precárias de que tudo está bem, mas sequer dá um passo fora da sua casa de bonecas para constatar isso. Eu vivo nas ruas, madame e o que eu vejo não é um rebanho feliz. – Declarei, após seu discurso idiota. – Não são boatos que estão fundamentando o que está sendo dito, são fatos. E não adianta você tentar mascarar com um discursinho medíocre o que está tentando jogar debaixo do tapete. Essa cidade está uma merda e se continuar assim, não vai ser difícil pra Ventrue filho da puta nenhum tomar conta. Porque é isso o que eles fazem. Abre os olhos, Helena. Não se afoga no seu delírio de ‘tudo bem, tudo lindo’ ou senão vamos acabar todos fodidos.

Eu estava com raiva, o que era óbvio. Não sou criança para tentar ser enganado com argumentos infundados, muito menos para ficar sendo manipulado como fantoche. A intenção dela de me agradar, se fazendo de uma falsa autoridade ao me dar o direito de uma cria, quase me fez rir da sua cara de sonsa. Helena era, sim, uma grande e hipócrita sonsa.

Estou nessa cidade há eras e nunca vi cara de Príncipe nenhum. Não me surpreenderia se ela surgisse com uma escultura milenar e dissesse que era ele o aclamado governante que se comunicava com ela. Mas, se isso ocorresse, teríamos um grande problema.

Eu pretendia falar mais. Tinha muito a ser dito, na realidade, ainda mais com a dos fantasmas me apoiando. Um Brujah sozinho é sempre o rebelde sem causa, o anarquista inconsequente. Um Brujah acompanhado, ainda mais por uma Giovanni, era uma história completamente diferente.

Percebi que a louca cochichava com seu fiel escudeiro, o Fresco, mas nem liguei para tal fato no momento. Até aquele desgraçado resolver que era uma boa oportunidade de abrir sua boca miserável, no mínimo achando que eu tinha cara de babaca.

- Gregor, por favor, tenha modos. Tire esse pé da cadeira, se ainda gosta do formato que ele tem. – Foi o que ele falou.

E eu tinha a certeza de que ele ia decidir não ter dito.

Meus olhos se fixaram nos dele enquanto eu esfreguei o coturno com mais força no veludo estúpido do estofado, sem fazer movimento algum para retirar meu pé do local. Um sorriso extremamente desagradável surgiu em meus lábios, enquanto eu me esparramava ainda mais confortavelmente na cadeira.

- Você quer que eu enfie aonde, fresco? Na sua cara? Porque você pode ter a certeza de que se ele não for parar no meio dessa sua fuça inútil, ele vai continuar aqui tendo o mesmo formato que tem. Não vai ser você quem vai mudar isso.

Eu queria ver se ele era inteligente o suficiente para entender o recado, se ainda quisesse manter aquela cara de pelicano com seu enorme nariz intacto.

23Mansão Longue Vue (Elísio)        - Página 1 Empty Re: Mansão Longue Vue (Elísio) Sex Abr 27, 2012 10:58 am

Isabela Sforza

Isabela Sforza
Anciã

A fala de Helena serviu para me mostrar o quão insuficiente se tornara para aquela cidade. Vivendo ainda presa num mundo anterior ao caos, num mundo em que ainda não tinham visto as forças maiores revelarem o quão insignificantes eram todos, cainitas ou rebanho. Todos que ali estavam tinham ouvido o rugir dos céus e viram paredes ventosas com vontade própria derrubar limites e fronteiras. O mundo que conheciam tinha afundado debaixo das águas sujas da tormenta. Não, o mundo deixa de ser o mesmo quando o teto de concreto, monótono e estável, é arrancado de cima de nossas cabeças para dar vistas ao teto verdadeiro, tempestuoso e indomável, um teto que grita e se move conforme sua própria vontade, independente de leis e dos designios do homem, vivo ou morto.

Isabela, sempre procurando pela morte, constantemente visitava localidades devastadas pela natureza. Havia algo naqueles espíritos que tinham suas vidas consumidas pelo caos que a fascinava. Mas em Nova Orleans, fora a primeira vez que ela mesma sobreviveu a um desastre natural. Ao ver o mundo sendo devastado deu-lhe a sensação de que as finas membranas do mundo inferior finalmente tinha se rompido. Fora uma experiência única que não trocaria por nada, mas um mínimo instinto de sobrevivência a fazia gritar que não queria viver de novo. Aquele relance do mundo inferior, imaginário ou não, a fez perceber que aquela terra fora remexida para nunca mais voltar ao seu estado natural. Mas ninguém ali parecia perceber, ou sentir. Depois de tamanho trauma não há nada a fazer senão curar-se pela assimilação das cicatrizes. Maquiá-las não é certo. É ofensivo.

Com a expressão impassível ouviu a tréplica da Senescal. Apesar das suas esperanças, não se surpreendeu com a veemente negação do ponto de vista dos outros. Arrogância, insegurança desmedida ou delírio desesperado? Talvez ela não estivesse tão distante de seu clã quanto fazia parecer. Isabela antecipava já a sua retirada mandando todos a merda, se o príncipe fizesse questão de sua serventia, que viesse ele mesmo dizer. Seu problema, era importante deixar claro, não era com o suposto príncipe mas com sua suposta senescal. Queria ver outro com mais competência em seu lugar, alguém que realmente agisse como a função pedia, como um secretário e porta-voz, nada além disso. Helena passava dos limites ao autorizar o abraço para Gregor, certamente apenas para acalmar o Brujah, mas não se dá o agrado para o cachorro enquanto ele ainda late. E Gregor ainda latia.

Sem desviar o olhar de Helena, ouviu as palavras dele novamente a afirmar que as coisas iam mal.

- Isto está errado... Dois membros desta Primigênie lhe trazem reclamações e você fecha os ouvidos, sequer leva em consideração o que lhe dizemos, sequer pede mais informações sobre a situação que relatamos. - Uma pausa. - Não é assim que você trata aqueles que seguram a coroa sobre sua cabeça, com descaso e desdém. - Ela falou lentamente, com um tom semelhante ao que se usa com alguém que tem dificuldades de entendimento, com uma criança, talvez com um louco. - Sim, cara mia, enquanto você está aqui dentro rodeada por suas lindas obras de arte, suas salas ricamente decoradas, usando suas jóias e peles, olhando da janela seus jardins mantidos por paisagistas... nós, seus representantes estamos lá reproduzindo seu discurso vazio: “Está tudo bem, vejam como os canteiros estão floridos”. - Outra pausa e Isabela se inclinou para frente e procurou manter o mesmo tom, o que levou sua fala durar o dobro de tempo. Será que Helena ia se irritar e interrompê-la num ataque de fúria? Era exatamente o que estava esperando. - Bem, sinto tornar a dizer: Nova Orleans não se resume a Garden District e suas mansões, aliás, é o que menos importa. Você já perdeu a credibilidade com dois clãs. Mas por que nos preocuparmos: - Eleva o tom de voz num falsete: - ”Eles são tão chatos, estamos melhor sem eles para estragar nossa brincadeira com estatísticas chatas, que brinquem sozinhos com seus cãezinhos, temos lindos quadros para contemplar.” - Será que já tinha desrespeitado-a o suficiente? Podia ver os Toreadores presentes arregalando os olhos com sua ousadia e ao mirar Ivica de relance pensou numa Tzimisce que conhecera certa vez, também artista, que adorava usar crianças como sua matéria prima, uma coisinha tão deformada quanto aquela iria ser magnífica.

- Um conselho de amiga, ainda estamos aqui, ainda estamos do seu lado. Mas por quanto tempo? Papéis-de-parede não seguram estrutura, e a estrutura do seu governo está ruindo. E veja que aquele Ventrue chato e sem-graça ainda nem começou a agir de fato. Apenas com o lançamento de algumas ideias ele já conseguiu ruir este governo. Mas não vamos congratulá-lo, é você quem merece os aplausos. Afinal, foi você (na ausência do Príncipe) que deixou as coisas chegarem nesse ponto...

Um leve sussurro em seus ouvidos, fez com que virasse a cabeça noutra direção, desviou sua atenção para outros acontecimentos e levaram sua mente a pensar o que acontecia em outro canto da cidade. Sussurrou de volta na língua que apenas os verdadeiramente mortos poderiam compreender.

Retornando sua atenção para os meio-mortos. - Os mortos simplesmente não respeitam os assuntos dos vivos. Não adianta o quanto tentemos educá-los, simplesmente fazem o que querem. - Disse com um meio sorriso no rosto e um ar despreocupado. - Sobre Lakefront, cansei de bancar a adestradora de fantasmas. Se quiser domá-los faça-o você mesma ou arranje outro meio de conseguir suas informações, pois tenho outros planos para eles..

Descruzou as perner, ergueu a coluna e bateu de leve as mãos nos joelhos.

- Agora, Helena, você vai levar em consideração algo que eu disse ou vai resumir tudo em uma série de asneiras e deixar para lá? Se não quiser considerar, apenas fale logo para que eu possa dar por encerrada esta perda de tempo.

Já estava com a bolsa em mãos, pronta para se retirar do recinto. Mas não sem antes lançar um brevíssimo, mas significativo olhar para Gregor e anunciando que era uma causa perdida.

24Mansão Longue Vue (Elísio)        - Página 1 Empty Re: Mansão Longue Vue (Elísio) Seg Abr 30, 2012 4:29 pm

Helena De Vries

Helena De Vries
Anciã

- Vão para o inferno vocês dois, seus filhotinhos de merda! Pensam que são quem para falar assim comigo? Deveriam agradecer pela chance que dei aos dois aqui nessa cidade, e ao invés de abrirem a boca para exteriorizem diarréias mentais, deveriam se ajoelhar e venerar pela minha piedade em deixá-los pisar na cidade. Malditos ingratos!

Não, não foi o que eu disse. Dei meu corpo para destilarem seus venenos, quieta, mantendo a expressão de quem está assustada e sem entender nada. Com o cotovelo no apoio do sofá e o queixo apoiado na mão, assisti suas apresentações medíocres sobre um estado caótico imaginário. Por Caim, eu juro que esperava pressão em relação ao assunto Príncipe – disco arranhado -, mas tamanha animosidade vir de encontro a um suposto desequilíbrio na cidade e em seu rebanho foi algo inesperadamente imbecil. Eles só podem ser loucos. Ao que tudo indica, Malkav expurgou a doença em mim e teve que cuspí-la em mais alguém, só para equilibrar as coisas. “Não há Sabá na cidade, seus ingratos”, é o que eu mais repetia em minha cabeça ao ouvir aqueles impropérios. Fomos destroçados por um furacão e nos reerguemos, mesmo que tenha demorado um pouco mais da conta. A minha vontade é de pedir por um exemplo do tal caos de que tanto fazem alarde; infelizmente seria dar murro em ponta de faca em se tratando desses dois. Não há tumultos generalizados, ou lupinos à solta, ou Sabá conspirando, ou caçadores espertos, ou fantasmas como num filme dos Ghostbusters... Mas nada disso parece entrar na cabeça desses dois. Obrigada, Malkav, por "equilibrar as coisas".

Os Ventrue expuseram nossas fraquezas? Sim, porque esse é a merda do trabalho deles. Existe administração perfeita? Não, pois nem Caim, nosso pai, foi perfeito. Então ao invés de sentarem e discutirem o assunto Ventrue com delicadeza, sapiência e criatividade, cospem besteiras ofensivas a torto e a direito em minha direção. Se eles pensam que desagradar a Senescal vai tornar as coisas fáceis para eles, estão muito enganados. O que fizeram comigo foi um desrespeito total, a que a tradição vampírica exige punição. Talvez pudéssemos resolver isso juntamente com outra pendência, a do Principe. Não é o que tanto queriam?

Respostas deveriam ser dadas. Prefiro ignorar a má educação de Gregor perante a mobília da Longue Vue e tentar ser breve no recado a ser passado.

- Primeiramente, não sejam estúpidos de achar que minha postura implica em falta de respeitabilidade. Eu sou a chefe de vocês dois aqui e exijo respeito ao tratarem comigo. Segundo... – volto-me somente para Isabela – Não sou sua amiga; sou sim sua superior. Sou mais velha, mais experiente e mais poderosa que você. Mais inteligente também, ao que parece, pois jamais iria expor minha opinião personalíssima sobre alguém em uma reunião de primigênie. Tais reuniões são específicas para tratarem de assuntos urgentes e não velhas picuinhas.

Levanto-me do sofá e caminho ereta por entre os insurgentes completamente despida do “disfarce” de frágil que tenho o costume de adotar; tal disfarce serve para não espantar os menos poderosos de perto de mim. Lembro-me do vampiro que me doutrinou nos ensinamentos Toreadores, e em como ele dizia que depois de dois séculos finalmente eu havia conseguido aprender por completo o truque de respeitabilidade de seu clã. Dizia também que eu brilhava quando parecia determinada: meu cabelo reluzia, os dentes tornavam-se pérolas brilhantes e os olhos ardiam com a chama da determinação. Por mais de uma vez fiz com que outros se ajoelhassem em minha presença, implorando pela minha aprovação. Falta pouco para que eu utilize esse expediente contra Royce e Isabela; o que me impede de fazê-lo agora é que prefiro esgotar minhas alternativas racionais antes de acabar com a honra de ambos.

- Não conseguiremos nos sincronizar enquanto não resolvermos algumas pendências. – passo uma rápida ordem mental a Franz, continuando com o discurso em seguida - Estão tão cegos em relação ao “caos da cidade” quanto afirmam que eu estou. O meu problema é com os Venture; o de vocês dois é com o secretismo do assunto “Príncipe”. Nossos problemas parecem nos cegar de diferentes formas, em diferentes níveis. – uma pequena pausa – Gregor, você tem sua ordens. Gostando ou não delas terá que cumprí-las. Independentemente do senhor Freeman passar a noite conosco, seus advogados são um assunto à parte, devendo ser “orientados” por nós devidamente. Não quero ter que lembrá-lo dessa ordem de novo, Royce. – foco em seus olhos e vejo como eles deixavam o Brujah com um ar pueril.

Caminhava de um lado ao outro, de Isabela para Royce, sempre olhando de cima a baixo e impondo a devida respeitabilidade que o poder de meu sangue me fornece. Não pisco, não desvio o olhar, não faço um movimento não calculado com o corpo. Sei que a perfeição da postura pode me dar ares de louca, mas não é assim que me tratam? Pelo menos prendo a atenção de todos até a revelação pela qual tanto ansiavam.

- Pois bem, vamos nos encontrar com o Príncipe.

Observo a reação de suas auras com a notícia bombástica, para saber o que realmente pensavam sobre isso – ainda acho que apenas gostam de me encher o saco com esse blá-blá-blá incansável.

- Mas há algumas condições... Terá que ser um por vez, obviamente. Quero também apoio incondicional na empreitada contra os Ventrue, bem como que me tragam exemplos das ruas sobre esse suposto estado de caos do qual fazem tanto alarde. Vai ver meus incontáveis servos deixaram passar algum reporte importante que não tenha escapado ao conhecimento de vocês. E é claro... – volto-me para Isabela com um ar aristocrático maior do que ela jamais terá - ...há a questão do rispetto per la gerarchia a ser resolvida. Querida Giovanni, venha comigo para que recebas sua iluminação quanto ao assunto Príncipe. O próprio em pessoa vai lhe dizer como reparar sua ofensividade e ironias com a Senescal da Casa Toreador em Nova Orleans.

Aproximo-me da porta e da pequena Ivica, parando com a mão sobre seu couro cabeludo.

- Venha, Giovanni. Não temos a noite toda.

Espero que Franz tenha seguido minhas ordens com rapidez, afinal, temos muito mais coisas a fazermos esta noite. Espero também que Gregor e Sforza parem com o joguete de implicância e que possamos dar seguimento às ações, já que é isso o que tanto almejam.

25Mansão Longue Vue (Elísio)        - Página 1 Empty Re: Mansão Longue Vue (Elísio) Seg maio 14, 2012 8:52 pm

Franz Lorrimer

Franz Lorrimer
Ancillae

Ignorou Gregor obstinada e completamente, por dois motivos. O primeiro, e mais óbvio, é que não tratava com animais. E, é claro, não animal no sentido bom e agradável, como a maioria das metáforas em línguas latinas, num sentido que ampliasse alguma qualidade marcante, não, não era isso realmente. Mas animal no sentido do grosseiro, do grotesco, do pouco evoluído, enfim, quase no sentido imperial de sujo, baixo ou reles. Não perderia mais nenhum precioso segundo com aquela criatura que não parecia ter mais do que meia dúzia de neurônicos recalcitrantes que vez por outra se juntavam para cuspir frases escrotas e palavras de baixo calão – o máximo da capacidade criativa daquele cérebro digno de pena, que obviamente não gastara nem sequer um segundo do amontoado de anos que era sua vida vazia para adquirir alguma erudição. Seria engraçado se não fosse trágico.

O segundo motivo, esse um pouco mais grave e definitivamente mais surpreendente, foi a imobilização involuntária de seu maxilar frente às palavras de profunda estupidez que Sforza dizia. Sabia que travar os ossos da região da mandíbula era um indicativo de raiva, mas certamente raiva era o mais comum dos sentimentos numa situação como aquela. Mas, é claro, faziam mais de cinquenta anos desde a última vez que sentira uma comoção tão grandiosa e aquela lamentável vontade de bater a cabeça de alguém contra a parede até que os miolos se espalhassem numa mistura colorida de massa cinzenta, pus, sangue e cabelos. Não tinha orgulho nenhum disso, e estava honestamente pasmo com essa situação. Quase podia sentir o cheiro mais do que agradável de miolos e concreto. Mas, é claro, jamais faria tal coisa. Primeiramente porque já sabia de experiências anteriores que não era capaz de literalmente estourar a cabeça de alguém contra a parede sem sujar suas mãos, e também porque não seria correta numa situação como aquela, uma reunião política entre pessoas esclarecidas, tal demonstração de violência de sua parte, logo ele!

Contudo, se pensasse bem, aquela não era realmente uma reunião de pessoas esclarecidas, podia perceber agora. Já esperava de Gregor toda a rebeldia sem embasamento teórico, aliada a uma quantidade de grosserias e burrice generalizada. Mas definitivamente não esperava de Sforza, alguém que ele sempre achara fina, correta, quase elegante; e que supusera ter algum cérebro, embora comprometido com coisas devastadoramente áridas, tamanha demonstração de estupidez. Aquela reunião era quase a confirmação de sua tese de que sem arte o cérebro fenece na barbárie. Infelizmente, Helena não estava demonstrando seu agradável brilhantismo nessa noite, Ivica estava calada e a Tremere, de quem podíamos esperar sempre algumas frases interessantes, bem, era como se nem estivesse presente! Na verdade, até se esquecera de sua existência! E ele, bom, ele não podia falar, senão cairia na tentação de estourar os miolos de alguém, nem que fossem seus próprios!

Graças aos céus, Helena estava falando. Mesmo que não estivesse mostrando sua bela mente superior naquela noite, sua voz era como bálsamo naquela selva de grasnados sem sentido de Gregor e Sforza. Seu maxilar já estava relaxando, enquanto ouvia as palavras duras dirigidas aos dois babacas. E, ah! Como ficava bela quando mostrava sua verdadeira face! Era realmente uma mulher incrível, aquela Helena.

Antes que relaxasse totalmente, recebeu a ordem da Senescal e, com uma aceno de cabeça que não escondia seu alívio em sair daquele ambiente sufocante, venceu os oito passos que o separavam da porta e saiu com pressa, rangendo os dentes. Ao sair para o hall principal, quase sentiu vontade de suspirar, e se reservou o direito de dar uma risadinha de todos os seus sentimentos desencontrados. Afinal, um suspiro seu agora seria apenas um sopro forçado de ar com cheiro de morte, vindo de pulmões atrofiados. Puxou os punhos da camisa e subiu as escadas apressado. Imaginava que teria ainda algum tempo, até Helena terminar de dar um sermão no casal da insatisfação, mas tinha que se apressar, já que não sabia exatamente onde estava o carniçal. A sala do Príncipe sabia bem onde era, embora ele também nunca tivesse visto a criatura. Não o interessava, realmente. Nada daquilo o interessava, nem vagamente. Mas tinha seu trabalho a cumprir, e um dia as parcas o diriam o por quê.

Depois de uma rápida passada de olhos pela mansão, encontrou o ‘homem‘, como a própria Helena o chamava, vagando próximo à sala de estudo. Trocou com ele algumas poucas palavras vagas – gostava de perder tempo com carniçais tanto quanto com membro estúpidos; e se dirigiu à frente do cômodo do príncipe, agora ligeiramente animado com as possibilidades de acontecer algo excitante nessa noite. Esperaria.

26Mansão Longue Vue (Elísio)        - Página 1 Empty Re: Mansão Longue Vue (Elísio) Dom maio 27, 2012 5:51 pm

Ivica Romanova

Ivica Romanova
Ancillae

I V I C A




Certa vez, há muito tempo atrás - quando ainda respirava -, Ivica estava a “brincar” com algumas amiguinhas ao visitar uma tia em Ijevsk. A beleza do quintal por onde corriam e o lindo pôr-do-sol daquela tarde de outono não conseguiam sobrepujar a força inspiradora da Longue Vue, onde a vampira se encontra agora. Nem o jardim suspenso ou as colunas brancas da varanda da casa de sua tia, tampouco a brisa gelada que corria entre árvores ou até mesmo o sol que esquentava a pele alva da pequena Ivy criança eram páreos para a aura quase mística que rodeia cada pedacinho da imponente mansão. E mesmo rodeados de uma beleza superior, os presentes faziam-se tão arrogantes e mimados quanto as amiguinhas da pequena em sua época de criança, que zombavam e lhe alvejavam pedras para afastá-la, incomodadas pelo simples fato de que a beleza de Romanova lhes feria o ego. O orgulho ferido aqui na Longue Vue não passa muito longe daquilo; incomodava aos Anciões o fato da Malkaviana governá-los, logo eles, tão respeitosos Membros de suas casas. Para Ivica, Gregor e Sforza eram como aquelas crianças de sua infância: seres mimados e com o ego ferido após encontrarem alguém "superior", fazendo de tudo para tentar impor sua presença.

As trocas de olhares e até de pensamentos rodeavam as pausas de cada discurso - isso quando não intercalavam-se com as próprias palavras. A única postura firme, além da posição mimada da dupla de Anciões, foi a de Helena, que mudou completamente de sua aparência frouxa para algo mais perto do que Ivica acha que ela realmente é. Junto com a troca de postura da Senescal veio a ordem que todos juravam que jamais seria proferida pela Malkaviana: o Príncipe receberia visita! A toreadora diminuta manteve a impassividade em suas feições durante todo o festival de calúnias disparadas, mas nem mesmo ela e toda sua frieza conseguiram se sobrepor à força do espanto que a ordem de Helena lhe causou. Abriu a boca, de leve. Os olhos se arregalaram um pouco – mas só um pouco mesmo. Tentou vislumbrar na expressão de cada um dos presentes se também sentiram-se surpresos, e nesse momento foi quando notou Franz deixar a sala após um aceno discreto de cabeça. As peças moviam-se no tabuleiro.

Isabela Sforza olhou Ivica uma ou duas vezes. Ela não havia esquecido da presença da Toreadora e talvez estivesse a vigiá-la - ou ainda tivesse ordenado a um de seus espíritos que o fizesse. Se fosse agir, Ivy teria que ser rápida e discreta. Sabe-se lá o que Helena estaria planejando, afinal.

Quedou-se inerte quando na verdade deveria iniciar uma série de protocolos verbais pré-visita ao Príncipe; Helena a havia interrompido com um leve afago em seus cabelos e uma voz bem diferente daquela com que iniciou a reunião. Muitas coisas haviam mudado desde o início da noite.

Ivica ergue o queixo para cima a fim de olhar diretamente a Senescal, o que faz com que acabasse tirando aquela mão de sua cabeça. Seus doces olhos cor de gelo pareciam sorrir quando ela começou a falar.

-- Minha senhora... , chamando a atenção de Helena , -- Eu devo cuidar de nossos convidados então, não?

Pergunta retórica. Da Malkaviana, passa a olhar o Brujah falastrão.

-- Por favor, senhor Gregor, queira me acompanhar , sutilmente estica um dos braços em direção à porta de saída da biblioteca , -- Seria melhor aguardarmos pela senhora De Vries, Sforza e pelos outros em cômodo próximo à entrada da Longue Vue. Seus dotes “exclusivos” – faz soar ‘exclusivos’ como ‘únicos’ – serão bastante úteis se recebermos o Xerife e aquele Ventrue ainda esta noite.

Tão logo faz o convite a Royce, Ivica sai da sala para abrir caminho para Helena e Isabela fazerem o mesmo. Fica a esperar pelo Ancião Brujah do lado de fora da biblioteca. Assim que o teimoso resolvesse se mexer, ela o levaria até um dos cômodos próximos à entrada da Longue Vue, bem como prometido. Por enquanto, o privilégio de ter com o Príncipe havia se estendido somente a Giovanni, e até que Helena dissesse o contrário Ivica não agiria de outra forma.

27Mansão Longue Vue (Elísio)        - Página 1 Empty Re: Mansão Longue Vue (Elísio) Qui Jun 07, 2012 10:56 pm

Isabela Sforza

Isabela Sforza
Anciã

LEGENDA: Interações de Helena De Vries


Isabela viu a indignação de Helena crescer e explodir de uma maneira nada condizente com sua fantasia de Toreador. Deveríam agradecer por ela admitir suas presenças na cidade. Não sabia quanto a Gregor, mas Isabela, em sua arrogância, não achava que precisava da permissão de ninguém para ir a qualquer cidade, além do que, nas cidades onde ia geralmente seus talentos tornavam sua presença sempre muito bem quista, e em Nova Orleans não fora muito diferente. Portanto, talvez Helena deveria considerar descer um pouco do salto de cristal sobre o qual subira e compreender que sua situação não era nem um pouco tão confortável quanto a soberba poltrona em que estava sentada. Além disso, se tivesse que agradecer a alguém seria ao príncipe, não? Não vinham dele as ordens e autorizações a respeito de tudo na cidade?

Isabela ergueu uma das sobrancelhas, visivelmente interessada naquela explosão e aonde iria levar aquela conversa.

Helena tenta retornar à sua postura anterior, mas esta é frágil. E Isabela está satisfeita ao ver que a pretensa Toreador não suporta a proximidade que a Giovanni tenta colocar na conversa. Mas este é seu jeito italiano de resolver as coisas. Diálogos entre amici são sempre mais proveitosos do que reuniões comerciais. Pode gerar muito mais sujeira, mas depois do lambuzo, sabe-se muito bem do que é feita uma pessoa. Não é a toa que os maiores planos da máfia são realizados na cozinha. Helena parecia recusar sua amizade e Isabela não tinha muito o que fazer quanto a isto. A senescal voltava a subir no salto, de maneira um tanto insegura para seu gosto acerca de estilos retóricos, ao afirmar sua superioridade em questão de idade, geração e status social. Mas Helena talvez não conhecesse a história da famiglia o bastante para saber que fora justamente o desrespeito por estes fatores que construiu o clã e deu a Augusto Giovanni o sangue de antidiluviano. Mas deixasse estar por aquele momento...

Pois enquanto Helena prosseguia com sua fala. Os olhos de Isabela desviaram-se para longe de todos as criaturas vivas daquela sala. Com o aviso que recebera, abrira o caminho para Giorgio, aquele que há 4 séculos a assombrava... Sua figura etérea bruxeleava atrás de Helena e ele parecia querer tocá-la. Aquilo resultaria em problemas na medida em que qualquer manifestação de poder era estritamente proibida dentro de um Elísio. E qualquer manifestação vinda de um fantasma tornaria imediatamente Isabela culpada do delito. Giorgio já aprontara desta forma antes, querendo provocá-la. E dera certo. Ele sabia que sua presença era proibida e causaria problemas a ela, mas este era justamente o seu objetivo desde que ela resolvera trazer o ex-noivo do descanso eterno. E, agora, a energia existente em Nova Orleans o tornava mais forte e ele rodopiava ao redor da senescal.

Parte de Isabela torcia para que Giorgio fizesse o maior fiasco naquela sala, assim Helena poderia lembrar de que Isabela não fora apenas aceita na cidade bem como fora convidada a ser membro daquele Primigênie apenas por causa de seus mais de 400 anos de idade. Precisavam que Isabela controlasse os spiritti. Mas Helena esquecia que assim como podia controlá-los, descontrolá-los era molto molto facile.

A senescal tornou a captar sua atenção quando anunciou que se encontrariam com o Príncipe. Aquilo era inesperado e fez Isabela piscar. Helena impôs suas condições e quase fez Isabela cair na gargalhada quando tentou apelar em seu idioma materno, completamente alienígena na boca dela, que a respeitasse única e exclusivamente por causa de sua geração superior. Isabela não conseguiu de sorrir condescentemente para a senescal.

Ela a convidou para saírem da biblioteca.

Apenas as duas seguiram. E após atravessarem alguns halls e corredores, as luzes começaram a piscar. Era Giorgio causando suas interferências. Isabela manteve-se impassível, já estava mais do que acostumada com este tipo de intromissões. Será que Helena estava acostumada? Mais um corredor e este estava com a porta ao seu fim fechada. Ao passarem pela de entrada, esta fechou-se bruscamente atrás delas e Giorgio começou a gritar e as luzes a piscarem de forma rápida e erratica. Ele ia de um lado para o outro e estava tão agitado que fez esvoaçar as formas impecáveis das vampiras. Isabela empurrou Helena contra a parede e se colocou no centro do corredor e esperou. Quando ele se aproximou dela, levou o punho com força para o centro de seu “corpo”. Ele parou imediatamente e Isabela apertou a mão direita ao redor de seu pescoço a fim de segurá-lo.

Não seria uma Giovanni desequilibrada que acabaria com minha postura. Quase desci ao nível de "merda" em que a conversa dela e do outro estava, mas por sorte eu tenho um cérebro e muito bom senso. A prova disso é que permiti que eles tivessem a possibilidade de ver o Príncipe esta noite. Sim, dei minha permissão mesmo sabendo que eles não mereciam tamanha honra. O que recebo em troca? Uma maldita manifestação fantasma na Longue Vue. Não é porque eles não podem de fato pisar neste solo sagrado que eu vá permitir que vaguem pelos cantos. A princípio eu não sabia do que se tratava, chegando a pensar que estaríamos sendo alvos de algum ataque Sabá. Mas para quem também anda pelo mundo dos Mortos - de certa forma, pois meus níveis de Auspícios me permitem um passeio espiritual -, e tem uma Giovanni ao lado, resta claro o que eram aquelas luzes piscando. Essa foi fácil; complicado mesmo foi arrumar uma explicação para a audácia dela em me empurrar contra a parede. Maldita desequilibrada.

- Comportati bene, mio caro. Dobbiamo essere educato qui. Anche tu. - Disse Isabela ao spirito. - Aspettami a casa. Io vado a dare quello che vuoi.

Ela o soltou. E ele logo desapareceu, não ficaria mesmo ali, uma manifestação daquela o deixaria esgotado.

Ajeitou os cabelos rapidamente e virou-se para Helena.

- Acho que a visita ao príncipe deverá esperar. - Disse. - Embora eu acredite que ele não esteja realmente disposto a deixar a segurança de suas sombras apenas por minha causa. Seu incomodo não deve valer tanto. Além disso, Helena, meu problema não é com ele, mas com você... E aliás, nem é, ao certo, um problema, é mais um interesse. Eu realmente quero ajudá-la, e quero querer estar ao seu lado. Mas esta causa pouco me interessando para querer lutar por ela seja por qual lado for. Acredito que você saiba que o poder que eu tenho me torna importante para os dois lados. Independente de quem ganhar esta briga, vão precisar de mim. Você pode me caçar por causa de minha “falta de respeito”, mas lembre do estrago que posso fazer enquanto tenta me pegar. Posso colocar uma legião ao seu redor que vai lhe deixar tão louca quanto você tenta esconder que é.

- Ah se eu soubesse que tu mudas de opinião tão facilmente... Estarão os outros a salvo de suas alternâncias quando passar para o outro lado? - sorrio para que desconsiderasse minhas palavras - Você tem que decidir o que vai querer da sua não-vida, senhora Sforza. O encontro com o Príncipe poderia esclarecer suas idéias, por isso eu insisto. - erro os olhos e a encaro mais de perto - E não ache que você é a única criatura com esse tipo de poder. Muito menos ache que é a mais forte.

- Não sou a única, nem a mais forte, mas como é conveniente manter-me aqui. Tudo bem, desdenhe-me, se quiser. Ainda há muito por acontecer. Mas saiba eu não quero lhe fazer ameaças! Eu sinceramente quero ser sua amiga. De verdade. Por alguma razão absurda e revoltante, eu nutro algum afeto pela sua fragmentada pessoa. - Lançou um olhar frustrado para ela.

- Esse tipo de artifício não funciona mais contra mim. O que funciona comigo é o respeito. Respeito e cumplicidade. Você nem sempre poderá ter líderes que cedem tamanha liberdade aos seguidores. Digo-lhe que deves recuar em suas ameaças, afinal, estamos do mesmo lado. Ainda é o desejo de nosso Príncipe que trabalhemos juntos para expurgar todo o mal de nossa cidade. Seja ele qual for.

- E qual o tipo de respeito que você quer? O provido pela insegurança do medo ou o provido pela lealdade da amizade? Àqueles que me subjugam pelo medo jamais terá meu respeito, eu não me ajoelho e àqueles que conquistam a minha admiração, eu dou a vida. Escondemos, Helena, mas apesar de estarmos mortas há tanto tempo, ainda somos movidas por nossos sentimentalismos. Nossas emoções são a raíz de nossa vontade, a única coisa que nos mantém vivos. Não me importo com qual lado eu vá ficar. O que preciso desta cidade terei, seja lá quem estiver no comando. E se aqui eu não puder conseguir, o mundo é vasto e muitos são os que morrem e deixam assuntos inacabado. O que quero saber é o que você que de mim? Você quer que fujam de você ou morram por você? Medo ou respeito? Pois não são as mesmas coisas. - Isabela para por um momento, a olhar Helena nos olhos. Aquela noite fora um fiasco. Não fora tão entediante quanto imaginara, e acabara se envolvendo demais em algo que na verdade nem lhe era tão caro assim. Deu de ombros. - Se quiser a minha amizade, ela está a disposição, porém, não espere que eu vá ficar lambendo o chão que você pisa como fazem os seus Toreadoresinhos de estimação. - Disse referindo-se à Lorrimer e à garota. - Agora, desça do pedestal da idade e pondere, por pouco que seja sobre isto. E eu vou cuidar de meus assuntos e, se possível, darei uma olhada sobre Lakefront.

Despediu-se e seguiu em direção à saída.

28Mansão Longue Vue (Elísio)        - Página 1 Empty Re: Mansão Longue Vue (Elísio) Qua Jun 13, 2012 10:45 am

Helena De Vries

Helena De Vries
Anciã

Malditos fantasmas, bregas até a alma. Luzes piscando, correntes sendo arrastadas, murmúrios lamuriosos... Será que isso nunca vai mudar? Eles poderiam ao menos se inspirar na Aparição do Arnaud’s Restaurant: histórica, estilosa e que apenas soma ao local. Em vida, teria os pêlos de meus braços eriçados com a fantasmagórica presença do servo de Isabela, mas em morte só tenho a lamentar que ainda tenha que presenciar tão depreciativa cena.

Livre da Giovanni, de seus espíritos e da apresentação Real, coube a mim a única e fastidiosa tarefa de aguardar. Aguardei Edgard e seus convidados antes de ser informada que viriam apenas na noite seguinte, finalizando de forma melancólica uma noite recheada de expectativas. Ao menos puder presenciar o ancião Brujah Royce Gregor acatar a ordem Real para ter com os advogados da “Venstrue”; discussões filosóficas e arregimentação de aliados é apenas um lado do embate, enquanto que a questão humana-jurídica é outro – o qual não deve ser ignorado. Com os Ventrue e seus humanos na Longue Vue, ficará mais fácil encontrar uma solução. Assim espero.

Ao levantar esta noite, tratei de dispensar Franz de qualquer obrigação na mansão. Ele tem a tarefa importante de propagar a iniciativa Toreador, de expandir nossa rede de contatos leais, contando com prévia autorização Real para agir como queira, afinal, trata-se de um Membro que inspira grande confiança. Ivica permaneceria conosco, fazendo a recepção dos ilustres convidados, mas sua participação será apenas complementar. Quanto aos lacaios e funcionários da Longue Vue, estão todos ordenados a fazer plantão, devendo fazer checagens de hora em hora em busca de ameças ou armadilhas. De resto... Creio que Edgard é mais que habilitado a cuidar de eventuais problemas.

Escolhi a Sala de Estar no segundo andar para receber minhas visitas. No momento, coordeno um grupinho bem enrolado de humanos que não conseguem sequer alinhar a os sofás da forma necessária. Ordeno que limpem os vidros das janelas,que tirem o pó das paredes, teto e móveis, passem algum produto no piso de madeiras – anti-Nosferatu, de preferência – e que providenciem taças de cristal romeno para otimizar a experiência de um bom gole de sangue. Ademais, também não queria ver papés, planilhas quadros, eletrônicos modernos e qualquer outra mundinice que corra o risco de evocar uma atmosfera Ventrue.

Após tudo ser colocado na mais perfeita harmonia, dispenso os lacaios de seus serviços de arrumação, deixando-os alerta para uma eventual requisição de última hora. Sozinha, sento de pernas cruzadas em uma das cadeiras e sirvo-me de uma das taças após um estalar de dedos para a criada de plantão. Recebo a visita de Ivica e toda sua elegância. Ela parou à entrada do cômodo e ficou esperando pelas ordens da noite.

- Minha querida, terei que lhe pedir que faça novamente as honras da casa. Recepcione Edgard da maneira mais agradável possível, e não menos agradavelmente dê as boas-vindas a quem lhe fizer companhia.

Fizemos o mesmo gesto de aceitação com a cabeça ao mesmo tempo, sendo Ivica dispensada em seguida. Permaneço com a taça entre os dedos, levemente balançando em círculos. Procuro manter meus olhos fechados e ouvidos atentos à chegada de “pessoas” em nossa humilde residência. O som dos grilos no jardim é o que escolho para me concentrar enquanto simplesmente aguardo.


__________________________________
OFF: Aqueles que forem postar na Longue Vue, podem dizer que foram recepcionados por Ivica Romanova e depois levados até o segundo andar, à Sala de Estar, onde está a Senescal Helena de Vries. Não precisam aguardar por post de Ivica.

29Mansão Longue Vue (Elísio)        - Página 1 Empty Re: Mansão Longue Vue (Elísio) Sex Jun 15, 2012 2:07 am

Catherine Blake

Catherine Blake
Anciã

CONTINUAÇÃO DE CENTRO EMPRESARIAL. É ESSENCIAL A LEITURA DO POST ANTERIOR ANTES DESTE.


A chegada ao Longue Vue foi calma, apesar da turbulência que irrompia em seu interior e do desagradável cheiro do Nosferatu ao seu lado. Sua mão permanecera, por toda a viagem, repousada na coxa de Liam, enquanto a cabeça dele encostava-se em seu ombro e seu corpo aconchegava-se levemente ao dela. Queria ter tempo de coloca-lo em seu colo por alguns instantes e mandar que ele lhe desse todos os detalhes sobre a noite, mas naquele momento seria impossível. Aproveitou-se do tempo de inércia para retirar a coleira de couro negro e interior forrado de pele de cordeiro tingida em vermelho dele de dentro de sua bolsa, colocando-a no pescoço de seu pet e desenrolando a guia de prata. Era essencial que ele usasse a coleira em sua presença, como símbolo de sua evidente posse.

Desceu do carro quando a porta foi aberta pelo motorista-carniçal, após a saída do Xerife, que os guiou para dentro da bela mansão clássica sem dizer absolutamente nada. Era, de fato, algo esperado, já que podia notar a surpresa que permeava o Nosferatu por sua aparição. Ele sabia que era uma anciã e extremamente importante, apenas por sua aparência e modo de se portar, mas não teria como saber quem ela realmente era. Isso, para um Nosferatu, era quase um insulto, mas Catherine guardara sua presença muito bem guardada.

Por causa de Henry, fora obrigada a se revelar e tiraria o maior proveito da situação.

Sua entrada pelo hall extremamente bem decorado foi feita com a elegância que lhe convinha, carregando Liam pela guia da coleira enquanto caminhava pelos tapetes caros e antigos. Exatamente como uma rainha, como se pertencesse àquele lugar.

Deparou-se com a presença da Hárpia que já os aguardava, pelo visto, e foi até ela com um sorriso encantador no rosto.

Ivica era linda, uma boneca. Seus cabelos claros, juntamente com a pele perfeita e as feições infantis faziam dela algo que Catherine ambicionava. Seria um prazer ter aquela princesinha a seu serviço, mas sabia que, para isso, deveria conquista-la aos poucos, algo que pretendia fazer em um futuro próximo.

Fitou-a por alguns segundos, sua expressão amável, antes de cumprimenta-la com classe e educação.

- Boa noite, pequena. É um prazer para mim finalmente poder vê-la pessoalmente. Será que poderia nos dar a honra de anunciar a presença de Catherine Blake para a sua senhora, ou então nos levar até ela? – Solicitou, calmamente, observando cada uma das reações da Toreadora.

Ivica poderia lhe ser de grande ajuda ou de grande infortúnio, dependendo de como a soubesse conduzir, e Catherine pretendia que fosse da melhor maneira possível. Pelo menos, para que seus planos pudessem fluir no caminho certo.

30Mansão Longue Vue (Elísio)        - Página 1 Empty Re: Mansão Longue Vue (Elísio) Seg Jun 18, 2012 8:14 pm

Ivica Romanova

Ivica Romanova
Ancillae

I V I C A




Segundo palavras de Willian Hazlitt, “a melhor parte da nossa vida é passada a aguardar o que vem.” Quis dizer com isso que a expectativa por muitas vezes supera a realidade, assim como aconteceu no recente encontro da Primigênie. Enquanto sangue era aguardado ao fim da noite no Elísio, Ivica limitou-se a testemunhar serenas despedidas. Os ânimos se esfriaram mais do que as peles mortas há séculos, e cada qual seguiu seu rumo sem entrar em maiores conflitos. Ainda faltam alguns séculos para que a pequena vampira consiga compreender a complexidade da mente de um Ancião, entender os motivos e padrões de comportamento que os fazem esquecer-se de ofensas e promessas tão facilmente quanto as suscitam.

O belo, porém tolo Royce Gregor, foi acompanhado até a porta e de lá sumiu na penumbra do jardim da Longue Vue. Ivica retornava ao interior da mansão quando cruza com Isabela, a outra a se despedir. Franz, por sua vez, não teria afazeres que justificassem sua presença pelos corredores esvaziados, restando à pequena a companhia da presença de Helena. Ambas aguardaram pela volta de Edgard acompanhado do Ventrue Henry, sendo informadas que retornariam na noita seguinte. Não havia mais trabalho a ser feito esta noite e Ivica antepôs o sono a todo o resto.

Desde sua criação – a qual chama de forma armagurada de “maldição” -, a criança-monstro tem consciência de que representa o papel da torpeza a qual os vampiros estão suscetíveis. Muitos querem sua destruição, justificando o odioso ato com a desculpa de estarem a consertar "erros do passado", cometidos pelo senhor da criança. Talvez por desejar essa redenção macabara, a Morte Final, Ivica escolheu não se esconder. Além de assumir um dos cargos de maior visibilidade da administração da Camarilla, o seu refúgio é o próprio Quarto Principal da Longue Vue, livre de qualquer medida adicional de segurança. É nele em que a pequena se recolhe, veste a camisola infantil feita de seda e noite após noite passa pela dificuldade de escalar a alta cama de madeira brasileira. Como num ritual inerente a quase todas as crianças do mundo, ela se deita e espera ser coberta e beijada por um adulto – qualquer carniçal disponível no momento.

Passada a noite, ela recebe novas ordens para fazer as “honras da casa”. Helena foi sutil ao dizer que não queria picuinhas entre a pequena e o Xerife, e que deveria tratar muito bem os convidados. Tais acompanhantes, colocados no plural, deixando claro que não receberiam somente o senhor Freeman, seriam a chave para o desdobramento do embate entre Artistas e Homens de Negócio. Dentre as possibilidades que se clareiam para Ivica frente o encontro marcado, ela vê o surgimento de outro aliado dos Ventrue como a mais forte candidata. Poderia inclusive apostar um Malkaviano como parceiro de conflito deles – aliás, encaixaria perfeitamente na história. Portanto, é com bastante interesse que a criança desce para o hall de entrada a fim de esperar pelas visitas surpresas.

As mãozinhas de Ivica repousam à frente de seu corpo com os dedos cruzados; seu queixo permanece erguido. Ela passa minutos sem olhar para outra direção que não fosse a do portão de entrada da Longue Vue. Os mais de duzentos metros da entrada de ladrilhos de cerâmica rodeada de imponentes árvores são apenas um pequeno obstáculo para os olhos aprimorados da vampira. Mesmo ao longe ela enxerga o luxuoso carro parando em frente ao portão. Quatro figuras iniciam o longo percurso até a entrada da mansão, sendo que apenas o carniçal porteiro e o Xerife são reconhecidos por Ivica. Os outros dois, desconhecidos até então, atraem toda a atenção da Harpia. A mulher poderia se passar por uma Toreadora, tamanha a beleza e delicadeza de seus traços; mas a escolha dos scarpins de couro são definitivamente um ponto contra. Que Artista que em plena consciência colocaria tal peça em visita ao santuário sagrado da finesse? O outro que acompanhava a mulher era um pet, um “animalzinho de estimação.” A criança já ouvira falar a respeito dos tais pets, mas nunca havia visto um de tão perto. Pelo que já lhe contaram, são criaturas - humanos em sua maioria – que perderam o amor próprio após anos de submissão. Sem dúvida alguma estava diante de uma cainita extremamente dominadora. E, “extremamente”, em termos vamíricos, significa perigo.

A cainita se aproximou de Ivica e, observando-a atentamente, dirigiu-lhe a palavra.

- Boa noite, pequena. É um prazer para mim finalmente poder vê-la pessoalmente. Será que poderia nos dar a honra de anunciar a presença de Catherine Blake para a sua senhora, ou então nos levar até ela?

Catherine Blake não é um nome conhecido para a criança, mas certamente o é para Helena. O que incomodou a Harpia de fato foi que a apresentação aconteceu de forma amistosa demais, sem imposição de voz ou intimidação. Ela queria a simpatia de Ivica.

-- Seria uma honra, senhora Blake. - faz um movimento único de levar o queixo ao peito, concordando em levá-la até Helena -- Por favor, queiram me acompanhar.

Não havia sorriso na expressão de Ivica; nada de simpatia ou antipatia, apenas bons modos. Ela gira sobre os pés e espera que os convidados entrem na mansão, cumprimentando Edgard assim que ele passa. A criança então retoma sua posição à frente do grupo e segue na mesma postura em que estava na porta. Andava lançando olhares pontuais para os quadros e objetos de arte expostos pelo caminho, querendo com isso que a atenção dos convidados fosse guiada para tais pontos de interesse. Permanece em silêncio, fazendo com que o único barulho presente fosse o dos calçados se chocando contra o piso de madeira.

Ao atingir as escadas centrais da Longue Vue, Ivica quebra o silêncio das palavras. Dirigi-se à Catherine, ainda que continuasse olhando para os degraus à frente.

-- Tu és amiga de Henry Freeman, aquele que descobrimos querer nos desalojar de nosso Elísio?

Catherine meneia com a cabeça em resposta, seguindo a pequena com polidez. Sua mente estava completamente tomada por pensamentos e opções para a resolução do problema, o que era quase o suficiente para retirar sua atenção dos arredores, mas não tanto. Conseguia reparar na beleza da arte exposta no Elísio, mas não se importava o suficiente para fitá-la demoradamente.

A pergunta de Ivica não a pegou de surpresa, apenas fez com que o sorriso retornasse ao seu rosto, dessa vez frio e contido.

- Posso dizer que, a partir de hoje, não mais. - Respondeu, sem intenção de se explicar ou justificar para a Harpia. Sua conversa era com Helena e mais ninguém.

Outras perguntas se seguiriam com o intuito de descobrir sempre "um pouco mais" - se não fosse pelo polido ‘gelo’ que Catherine deu na garota. Longe de se incomodar com isso, Ivica responde de maneira bem curta com um "entendo".

As mãozinhas diminutas se esticam para que pudessem alcançar o topo do corrimão. Elas deslizam suavemente, livres de qualquer poeira ou farpa solta. Ao atingir o final da escadaria, Ivica mantém-se à frente do grupo até parar próxima à entrada da Sala de Estar. Ela aproveita estar de frente para o cômodo e busca Helena com olhares disfarçados, encontrando sua senhora sentada confortavelmente enquanto bebericava sangue fresco em uma fina taça.

-- Com licença, senhora Helena. Nossos convidados estão aqui.

A pequena se volta para a comitiva que guiava e anda um passo de lado, saindo do caminho e deixando livre o caminho para a entrada de Edgard e Catherine – esperava de coração que Catherine tivesse o bom senso em deixar o pet aguardando do lado de fora. E novamente, fala com a Senescal.

-- Devo permanecer aqui junto a vossa senhoria?

A curiosidade é forte demais. Se pedir para ficar não fosse tão humilhante, assim Ivica o faria.


Com participação de Catherine Blake

31Mansão Longue Vue (Elísio)        - Página 1 Empty Re: Mansão Longue Vue (Elísio) Qua Jun 20, 2012 1:54 pm

Helena De Vries

Helena De Vries
Anciã

Dizem que quando o fim está próximo um filme passa pela sua cabeça. Pois meu cinema é mudo.

O tão alarmado fim do governo atual não passa de um conto de fadas de araque. Quando eu puder enfim confrontar o trovador a narrar esta estória, desmistificarei as mentiras contadas às nossas crianças e aos nossos velhos – vide o senhor Gregor e a senhora Sforza. Henry Freeman poderá tirar suas próprias conclusões sobre a figura a quem tanta profana chamando de ‘louca’, e acabará descobrindo que de louca ela não tem nada.

Enquanto espero de olhos fechados, presto atenção no silêncio ao meu redor. O silêncio se transforma em pequenos ruídos das telhas no telhado e do relógio se movimentando na parede atrás de mim. Expandindo minha percepção para além do quarto, capto burburinhos dos servos da mansão no primeiro andar. Finalmente, com todos os sons captados e compreendidos, movo minha percepção para mais longe ainda, para além das paredes da Longue Vue. As engrenagens do portão se abrem sob o toque do porteiro no botão certo. Um carro não muito pequeno, a julgar pelo peso de suas rodas contra os ladrilhos. Ele esbarra na impossibilidade de seguir até a porta da mansão e logo o estridente barulho dos calçados contra o piso chega em meus ouvidos. Três visitantes, e a julgar pelo fedor que em pouco tempo é trazido por uma brisa até mim, um deles é o meu Xerife. Os cheiros dos outros dois, além de serem muito fracos, se misturam um pouco, tornando indetectável a origem correta de qualquer um deles.

O frustrado trovador não estava presente. Em seu lugar, Catherine Blake. É óbvio, que descuidada que eu sou! Os Ventrue não poderiam continuar como estavam, com um homenzinho incapaz de honrar o cargo de destronador da Camarilla tomando a frente das ações. Alguém de maiores capacidades deveria tomar a frente.

Passam pela escada e logo são anunciados por Ivica, que por sinal, fez muito bem seu trabalho.

- Sim, Ivica. Pode ficar. – faço um gesto sem muita importância e paciência com as mãos; coloco a taça em cima da mesinha ao lado da poltrona e viro o rosto na direção da porta – Entrem todos. E por favor, sentem-se.

Educadamente mostro os quatro lugares vazios. Ivica sabe que não deveria aceitar o convite, ficando em pé a alguns passos de distância. Sinceramente esperava receber Freeman, mas até achei melhor receber alguém mais à minha altura. Seria ótimo se não fosse tão grande a comitiva.

- Catherine Blake, Anciã do clã dos Ventrue, estou certa? – cruzo as pernas e repouso as mãos com estilo sobre minhas coxas – Dispenso minha própria apresentação, afinal, vocês devem me conhecer muito bem. Para ser sincera, devem me amar.

O bom de não ser uma figura autoritária, de viver com carrancas de superioridade, é que quando disparamos ironias e ofensas do tipo elas nunca formam aquele clima pesado de inimizade. E posso fazer isso sucessivamente.

- Sinto muito por o senhor Freeman não estar conosco nesta reunião. Gostaria muito de vê-lo mais uma vez. É uma visão tão linda... – sorrio e desvio o olhar para o chão, simulando uma vergonha escancaradamente falsa – Que ele queime no inferno. Aaamém. - faço o sinal da cruz com pouco jeito para a coisa – Fico muito satisfeita por tê-la na Longue Vue esta noite, senhorita Blake. Creio que já conheceste minha pequena Ivica – olho na direção da Harpiae meu amigo, o mais que respeitável Edgard von Astorff.

Que Edgard não tenha me traído ainda, aquele rato chauvinista. Onde já se viu, chegar em seu próprio Elísio "escoltando" aqueles que tentaram acabar com os seus? Confiar na estabilidade do pacto de não-agressão em Elísios não é uma alternativa muito confiável para mim; preferia confiar em meu Xerife. Mas evito de perder muito tempo com preocupações ou apresentações; junto as mãos e fixo a atenção na Anciã, não demonstrando medo de seu olhar.

- Vou ser breve ao abrir os trabalhos, Catherine – se me permite chamá-la assim. Recusamos a interferência de vocês no poder antes e continuaremos a recusá-la. Nova Orleans é tradicionalmente uma cidade de domínio Toreador e jamais cederá o controle aos Ventrue, não importando o quanto vocês demonstrem saber governar. Advinhe: nós também sabemos, e mesmo diante de um desastre natural temos conseguido reestruturá-la aos poucos. Não são suas ameaças e manobras sujas que nos farão mudar de estratégia.

Como uma dama que sou, permito-lhe que pense a respeito sobre o que falei, aproveitando o tempo para ordenar à serviçal presente que servisse uma taça para Edgard e uma para o acompanhanete da senhorita Blake. A Ventrue, com suas frescuras de alimentação, de certo não aceitaria minha generosa oferta.

- Antes de lhe dar a palavra devo dizer que estamos abertos para receber o seu clã como parte de nossa organização, desde que se retratem das ofensas disparadas até o presente momento.

Aproveito o gesto de beber mais um gole da taça e escondo o meu rosto com ela, deixando somente os olhos a encararem a senhora Ventrue.

32Mansão Longue Vue (Elísio)        - Página 1 Empty Re: Mansão Longue Vue (Elísio) Ter Jul 31, 2012 4:30 pm

Catherine Blake

Catherine Blake
Anciã



Helena De Vries era uma mulher difícil.

Seus trejeitos e modos claramente gritavam seu clã sanguíneo, e as vestimentas e porte, forçadamente doutrinado, demonstravam a decadência de sua mente.

A anciã alegava ter se redimido da insanidade característica dos filhos de Malkav, dizendo-se libertada de tal maldição. Ela, porém, não conseguia enxergar que, ao fazer tal declaração e passar a viver uma identidade que não possuía, ela apenas afogava-se mais na loucura que seu sangue lhe infligia.

Era um ciclo vicioso. Um ciclo que Helena jamais estaria disposta a quebrar conscientemente. E, além de tudo, um ciclo de delírios que arrastava todo o principado de Nova Orleans dentro de sua decadência.

Mas Catherine nada disse. A falta de classe e finesse da Malkaviana não a incomodavam realmente, apenas faziam com que um brilho levemente divertido se acendesse em seus olhos. Seguindo suas instruções, entrou no aposento indicado, lançando um olhar demorado e significativo a seu pet. Liam, entendendo a mensagem, se prostrou imediatamente de joelhos, com a cabeça baixa, apoiando-se em suas mãos e permitindo assim que sua senhora pudesse se sentar em suas costas, confortavelmente.

Cruzando as pernas, Catherine ofereceu um minúsculo sorriso educado em direção a Helena ao ouvi-la falar. Não estava acostumada a ser tratada sem a comum deferência e com tanto despojar, mas a mudança, para sua surpresa, não a desagradou.

- O clã Ventrue não nutre qualquer sentimento negativo a seu respeito, Helena. – Declarou, erguendo uma das sobrancelhas em divertimento ao escutar suas declamações sobre Henry.

Ao pensar no subordinado, porém, sua expressão se fechou em aborrecimento. Esperou que as apresentações desnecessárias fossem feitas, cumprimentando a todos com um aceno de cabeça educado.

- Catherine Blake, anciã dos Ventrue como já deve ter ficado claro. E Liam. – Disse, sinalizando o pet abaixo de si.



Edgard olhou para a elegante mulher, que se encontrava sentada em cima do Gangrel como se o rebelde que encontrara anteriormente não passasse de um ser inútil a ser comandado. Talvez ele realmente o fosse. Ou talvez o poder da Ventrue houvesse sido o suficiente para subjugar sua vontade própria, mas não perderia tempo refletindo sobre tal fato.

Respondeu ao aceno com o cenho franzido, analisando-a. Estava pronto para agir a qualquer mínimo problema que pudesse ocorrer naquele encontro, mas a verdade era que estava interessado no que a esnobe Ventrue tinha a dizer, já que se encontrava pessoalmente no Elísio. O tratamento dispensado ao ignóbil Freeman havia sido um adendo especial para intriga-lo diante daquela situação.

Aquilo tudo poderia ser um teatro extremamente bem bolado, mas a fúria que testemunhara naqueles claros e detestáveis olhos azuis não parecera nem um pouco falsa. Muito pelo contrário. Portanto, Edgard pretendia ouvir para depois julgar. Talvez algo de útil pudesse ser extraído daquela reunião.



Catherine permitiu que seu sorriso se alargasse diante das palavras bruscas da Malkaviana. Helena parecia resoluta, o que não lhe surpreendia minimamente. Sabia bem de suas intenções e idealizações, mas também conhecia a insatisfação da Primigênie. Conhecia os anseios dos membros do Conselho, afinal, nada naquela cidade fugia de seu conhecimento.

Mas aquela era uma cartada que Catherine pretendia guardar. Pelo menos, por enquanto.

- Acho que estamos discutindo o assunto errado nesta reunião, Helena. Vim falar de Henry Freeman. – Declarou, recusando a taça servida a Liam com o erguer de uma das mãos. Não estava na hora da alimentação de seu pet. – O que ele fez não foi apenas sujo e detestável, mas completamente fora dos planos do clã Ventrue e sem nenhuma autorização. Henry Freeman agiu por conta própria em sua empreitada, Helena, e é exatamente por isso que estou aqui.

Permitiu que seus olhos fitassem o dela com uma intensidade quase intimidadora. Conseguia captar, com a visão periférica, a atenção do Xerife a poucos metros, percebendo que ele estava bastante interessado em sua declaração sobre Freeman, e pretendia mantê-lo dessa forma.

- Temos um inimigo em comum. Por descuido de meu clã ao confiar em um ser fraco e patético, porém, ambicioso, toda a Camarilla e a Sociedade dos Membros de Nova Orleans está ameaçada. Henry tem cartas nas mangas que não deveria ter, controla áreas que não deveria controlar, e simplesmente eliminá-lo não seria o suficiente. – Falou, permitindo-se tocar os cabelos de seu pet distraidamente. – Mandei que Liam o escoltasse no evento para que eu tivesse Henry debaixo de meus olhos enquanto terminava de investigar suas empreitadas. Henry deveria ser vigiado por todo o momento, e qual não foi minha surpresa diante de sua infame declaração pública!

Seu tom demonstrava todo o desgosto que sentia por aquele episódio. Voltou os olhos para Edgard, observando o Xerife por alguns segundos antes de voltar a falar.

- Se ele fosse eliminado naquele momento, a cidade estaria perdida. Digo isso com toda a certeza que tenho: Henry Freeman estendeu suas mãos longe demais.



- Quão longe? – Questionou, sem mais qualquer vontade de se manter passivo naquela conversa.
Viu um sorriso adornar o belo rosto da Ventrue que fez com que suas sobrancelhas se franzissem em alerta. Não era um sorriso comum, de escarnio ou ironia. Não era sequer um sorriso de deboche. Era algo que jamais havia vido em sua vida e que traduzia tudo de obscuro que poderia conter dentro de um cainita tão velho como Catherine Blake parecia ser.

Edgard não possuía medos. Mas, naquele segundo, soube que não seria uma boa ideia ter a Ventrue como uma inimiga.


~Ela pode te esmagar sem nem tentar, não é mesmo? Você é tão fraco, tão fraco, meu querido... Gostaria de vê-lo morrer pelas mãos de uma mulher. Seria magnífico!~

Cerrou os punhos, na tentativa de ignorar a voz em sua mente e a brisa que tocou sua pele gelada. Maldita fosse, mil vezes! Mas não teve tempo de se concentrar naquela tormenta, já que os lábios avermelhados da Ventrue voltaram a se mover com a resposta que queria ouvir.



- Longe o suficiente.


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Post feito em conjunto com Edgard von Astorff



33Mansão Longue Vue (Elísio)        - Página 1 Empty Re: Mansão Longue Vue (Elísio) Dom Ago 05, 2012 3:57 am

Helena De Vries

Helena De Vries
Anciã

Devo ser muito burra mesmo para continuar a parecer uma retardada depois de tantos séculos vividos. Vejam só: tenho uma Anciã Ventrue na minha frente, dizendo na minha cara, que um dos seus colocou tudo a perder sem que ninguém de dentro do clã aprovasse suas ações. Só com muita cara de retardada para ter que ouvir isso... Quero dizer, não é algo que seja fora dos parâmetros adotados pelos Ventrue, mas ter que vê-la se passando de boazinha depois de tudo o que eles fizeram para tomarem o poder, depois de todas as maquinações para ganharem influência no Centro da cidade, é pedir demais de minha pessoa. É nessa hora que adoraria poder gritar “que soltem os cachorros!” e uma alcatéia faminta de lobos selvagens invadissem a sala com sede de sangue-azul. Lembro-me de um do clã dos loucos que agira exatamente dessa forma há séculos atrás; pena que não possuía mais do que um filhote de vira-lata em seu cubículo-refúgio à época para que seu plano pudesse ter dado certo.

Foram tantos impropérios disparados um após o outro que por pouco me esqueço de fazer o primeiro julgamento de caráter de meus convidados. Dispenso avaliações mais profundas sobre a psiquê de Edgard, contentando-me em testemunhar seu real interesse pela minha convidada. Não posso me esquecer disso futuramente. Já “aquilo” que servia de banco para o traseiro raquítico da vampira provavelmente seja o Gangrel aliado dos Ventrue; não digo isso por ele estar a serví-la no momento, mas sim por ter sido o cainita designado para servir Freeman. Se os boatos estiverem corretos, trata-se de um membro dos Selvagens de relativa experiência, passando longe de ser um dos cabeças do clã. Vê-lo tão submisso à Ventrue é algo memorável, coisa que uma pessoa diga daqui a cem anos “eu estive lá e testemunhei com meus próprios olhos”! Tão bizarro que beira o insano – e do insano quero distância. Perder tempo com ele não está nos meus planos; eu só passarei a me preocupar se os Selvagens começarem a entrar na jogada com os seus mais velhos. Por fim tenho lady Catherine Blake. Dizem as más línguas que ela possui tanta idade quanto eu, o que seria agradável quando me batesse aquela vontade de conversar sobre o passado... isso se ela não fosse uma Ventrue. Malditos burocratas, sempre com suas ambições do tamanho de seus egos. Penso neles como exemplares de vampiros que deram errado e acabaram ganhando o poder do “Toque de Merdas”: tudo em que encostam vira bosta. Se Nova Orleans dependesse deles, teríamos mais ou menos o seguinte quadro: as músicas da Bourbon Street cederiam lugar a discursos super enfadonhos; os casarões do Garden District se transfomariam em prédios comerciais de cem andares; os quadros, móveis e demais objetos de arte da Longue Vue seriam susbtituídos por planilhas e pastas. Não somos Londres, tampouco Nova Iorque; temos aqui uma história recheada de mistura racial, de inovação artística; temos uma história que ditou os rumos da arte por todo o país, e é exatamente assim que pretendo manter as coisas.

Apesar dos pesares, ela é uma governante nata e uma negociadora idem. Ficar quieta apenas maquinando comigo mesmo não é uma opção. O melhor a se fazer é demonstrar mais conhecimento de causa do que ela, e com sorte, convencê-la de que não somos os idiotas que pensam que somos. Começo pela mudança de postura. Pimeiro passo: retiro o sorriso de meu rosto por completo. Pronto, sem sinal de alegria agora, como se eu nunca tivesse sorrido em minha penca de anos. Um leve balançar de cabeça se encarrega de colocar minhas madeixas em harmonia com meu rosto, deixando os olhos livres para encararem Cathy com toda a seriedade de meu ser. De minha boca saem palavras embanhadas em convicção, sem ao menos “respirar” entre uma e outra frase, denotando assim que eu não precisava raciocinar sobre o que falava por pertencer-me a razão.

- Então só posso acreditar que nossa reunião não passa de perda de tempo. Vocês se deslocarem até aqui com a única e exclusiva intenção de dizer que Henry Freeman estendeu suas mãos “longe mais do que o suficiente” não é de todo produtivo, e explico o porquê do meu pensar. – aumento a seriedade em minhas palavras para que Catherine ouvisse como uma bronca, o que de fato o é – É óbvio que diriam isso. Eu mesma diria isso em seu lugar. Mas vocês sabem que eu não posso e nem vou acreditar nessa história, e que justamente por isso essa reunião só teria sentido se vocês viessem com uma prova de que não estão contra a Camarilla de Nova Orleans.

Arregalo os olhos, subo as sobrancelhas, entorto o rosto de lado, coloco a cabeça à frente. Está claro o suficiente que agindo dessa forma eu esperava ouvir uma concordância geral, um uníssono “você tem razão”?

- Sequer vejo o senhor Freeman conosco. – repito a expressão anterior por mais alguns segundos, esperando ouvir uma explicação para a minha pergunta disfarçada de afirmação; mas logo pareceria uma louca com essa cara, então volto a falar com a mesma seriedade e porte de outrora, desta vez indagando brevemente meu querido Xerife – Você viu Freeman, Edgard? – durma com essa, Edgard! – Lady Catherine, enquanto não estivermos a testemunhar uma real mostra de cooperação dos Ventrue com a Camarilla de Nova Orleans, vamos nos manter fechados à diálogos com o seu clã. Poderás visitar nossa imponente Mansão quando quiser – desde já lha faço o convite -, mas não pense que vamos considerar suas propostas ou idéias antes que refaçamos essa relação Camarilla X Ventrue de uma maneira saudável. Compreendeste?

Mais um pouco e eu teria que desenhar o óbvio. Pelo menos eu espero que a partir de agora a senhorita Blake haja de acordo com sua posição e pare de nos tratar como um bando de retardados.

34Mansão Longue Vue (Elísio)        - Página 1 Empty Re: Mansão Longue Vue (Elísio) Ter Ago 14, 2012 1:53 pm

Catherine Blake

Catherine Blake
Anciã


Paciência era uma virtude que Catherine possuía de berço. Sua face sempre se mostrava impassível e indiferente diante de qualquer situação, mesmo as que mais lhe demandavam esforço por manter tal compostura.

E Helena estava começando a irritá-la.

Era o dom dos loucos a capacidade de tentar fazer sentido em situações absurdas e imaginárias, tratando como verdade o que não passava de mera fantasia. Mas Catherine era uma jogadora nata e sabia perfeitamente o momento de mostrar as cartas certas.

Um mínimo sorriso agradável levantou o canto de seus lábios avermelhados, fazendo com que tamborilasse os dedos nas costas de Liam. Então Helena queria ser difícil? Isso era um problema apenas dela.

- Entendendo sua posição. Gostaria de conversar com o Príncipe sobre ela, já que, por mais que você tenha soberania para tomar uma decisão, há assuntos que só um Príncipe pode sancionar.

Era uma alfinetada, apesar da sinceridade de suas palavras. Aquela cidade já havia sido governada por tempo demais por uma Senescal insana e um Príncipe sem pulso, que permanecia nas sombras como uma espécie de rato acuado. Catherine gostaria de olhá-lo nos olhos e ver exatamente com que tipo de Cainita estaria lidando. Se é que ele realmente existia.

As dúvidas permeavam não só a sua própria pessoa, mas também todos os que a cercavam. Até os próprios membros da Camarilla. Todo Cainita que se prezasse tinha receios e dúvidas quanto ao suposto governante de Nova Orleans e sua Senescal ensandecida que insistia em se declarar curada do mal que atormenta os de seu clã; como se isso fosse algo realmente possível.

Como se a própria Catherine conseguisse beber qualquer sangue que desejasse, ou se Liam deixasse de se transformar em animais. Como se o Xerife, parado perto de si, reconquistasse uma aparência respeitável, ou a pequena Ivica deixasse de entrar em transe pelas coisas belas.

Era mais fácil atingir a Golconda.

- É de meu conhecimento que seus serviços prestados ao Principado de Nova Orleans são vitais e de extrema competência. Tem minha admiração, Helena, já que é realmente uma pena que o Príncipe não seja você mesma.

Ah, os poderes da mente de um dos filhos de Malkav... Era exatamente o que Catherine pretendia verificar; o quão poderosa a mente de Helena De Vries era.


35Mansão Longue Vue (Elísio)        - Página 1 Empty Re: Mansão Longue Vue (Elísio) Dom Out 07, 2012 2:03 am

Helena De Vries

Helena De Vries
Anciã

Esse Príncipe deve ser realmente alguém muito importante para que todos queiram vê-lo. A imagem que eu criei dele, de alguém recluso e que não dá a mínima para a cidade que deveria governar pode não ser a imagem que ele mereça, afinal de contas, ele fez a melhor escolha na hora de nomear sua administradora real. Eu, Helena de Vries, a senescal que governa de fato Nova Orleans e que arrancou elogios de uma Ventrue carrancuda como essa Blake aí. Elogios tão falsos como promessas de uma Serpente, mas ainda sim que servem para lembrá-la de quem é que está no comando.

Da última vez que autorizei alguém a ver o Príncipe pessoalmente, só tive desgosto. A Giovanni se arrancou da Mansão com seus espíritos sem um pingo de elegância. Espero de coração que Cathy não tome o mesmo caminho. Sim, vou conceder o seu desejo e acabar logo com essa lenga-lenga. Se eu puder fazer isso com um pingo de sarcasmo e humor, melhor ainda.

- Agradeço pelos seus elogios. Sinto-me deveras lisonjeada com tua lembrança – toco o peito por um momento. – Sabemos que não cabe a um cainita qualquer da cidade, muito menos a você, estrangeira, decidir sobre ter um horário com o nosso suserano ou não. Entretanto – levanto o dedo indicador ao alto -, uma forte onde de bom humor se apoderou de mim à alvorada, estranhamente trazendo-me vontades até então por mim desconhecidas.

Levanto do sofá já apontando com o corpo em direção à saída do cômodo.

- Estou com vontade de satisfazer sua curiosidade, plebe. – giro o rosto, mostrando como ela foi sortuda de me encontrar numa noite boa – Agora está na hora de calar a boca.Venha comigo antes que eu mude de idéia. Só eu e você.

Descer escada, subir escada, passar por serviçais, falar com alguns e me vangloriar em silêncio enquanto a Ventrue morre de inveja da beleza de meu refúgio. Tudo isso se dá no caminho até a famigerada sala do Príncipe. Digito os códigos da porta de segurança e em dois tempos estamos andando por um imenso tapete vermelho aveludado coberto de poeira. Está tudo muito escuro, então aproveito a luz que vem do corredor através da porta entreaberta e procuro pelo interruptor. Confesso que é besteira de minha parte, já que há uns 2 séculos a escuridão absoluta não me incapacita. Aos poucos as luzes brancas de emergência se acendem uma após outra pelo extenso corredor que inclinava-se acentuadamente para baixo. Seguimos em silêncio até uma câmara arredondada feita inteiramente de maçiças pedras entalhadas à mão. No centro, um sarcófago – sempre gostei dessa palavra – com um dispositivo bem no topo. Era um disco redondo, no qual encosto a mão, giro para dentro e empurro com bastante força para baixo. O mecanismo destrava a tampa e o interior do sarcófago é lentamente mostrado.

- Ele vai detestar ser acordado a essa hora. – digo enquanto o momento de tensão demora a passar, com a abertura lenta da tampa. – Se ele me perguntar, direi que...

Detenho-me no mesmo instante. O que é isso que estamos vendo? Onde está o corpo?


________________________________________
Não há corpo nenhum dentro do caixão de pedra, e pelo estado deplorável de conservação, de fato nunca ouve – ou há MUITO tempo foi retirado.

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