Vampiro: NOLA
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Condomínios

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Peter O'Connor
Alice Miller
Luke Smith
Mestre de Jogo
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1Condomínios Empty Condomínios Sex Mar 30, 2012 11:06 pm

Mestre de Jogo

Mestre de Jogo
Admin

Condomínios Homes-in-New-Orleans-around-City-Park-in-New-Orleans


O Centro da Cidade é um local abarrotado de gente, prédios e carros, e mesmo essas condições não impediram a expansão mobiliária residencial nos anos 2000. Enormes condomínios foram idealizados como "ilhas de segurança" em meio ao caos urbano. Suas casas variam enormemente em beleza, segurança e preço, mas nada comparado aos Apartamentos de French Quarter ou as mansões no Garden District.

Qualquer personagem com no mínimo 2 pontos em Recursos pode ter uma casa aqui, seja alugada ou comprada. O nível dos imóveis não chega ao nível 5 de Recursos, como as casas em Garden district - mas isso não impede que personagens com este nível de Recursos façam aqui sua morada.



Última edição por Mestre de Jogo em Sáb Jun 23, 2012 2:23 am, editado 1 vez(es)

https://nola.forumeiros.com

2Condomínios Empty Re: Condomínios Seg Abr 23, 2012 9:38 pm

Luke Smith

Luke Smith

Ah! Nova Orleans. Começar do zero, sem a família por perto e num lugar em que poderia tentar se passar por alguém comum. Eu nasci em Los Angeles, filho de um pai cirurgião plástico e uma mãe que se diz socialite, mas não passa de uma gastadora de dinheiro em lojas. Imagine o que é ter dinheiro e morar em Hollywood, frequentar Beverly Hills, Hamptons. Pode parecer um sonho dourado para alguns, para outros é nada menos que um pesadelo. Abrem-se portas facilmente. O sucesso do meu pai ajudou tanto na faculdade quanto na clientela. Nem bem formado estava, celebridades diversas de filmes e de sitcoms já estavam na porta do meu consultório, ainda que esperavam que eu simplesmente fosse o meu pai.

Ter o nome Smith era um alento. É o sobrenome mais comum dos Estados Unidos, não me faz único e “especial” como a sociedade gosta de se sentir. Não sou reconhecido tão facilmente fora da minha área, ou fora dos círculos mais nobres da sociedade. Aqui, se me apresentar com meu nome num bar ou num cinema, dificilmente alguém saberá quem sou.

Após alguns anos de ostracismo, que serviram para acumular capital, a tragédia que assolou Nova Orleans, o furacão Katrina abria novos horizontes. A cidade fora quase que completamente arrasada, pessoas morreram e outras ficaram severamente feridas. Nessas horas, poucos se lembram de que a Cirurgia Plástica não é exclusividade da estética. Reconstruir rostos e corpos queimados e mutilados, também se faz importante. E foi isso que me trouxe para cá.

Novamente, a reputação de meu pai “facilitou” o caminho. Quando soube do meu desejo em me mudar, o diretor do Centro Médico da Louisiana fez o convite de pronto, oferecendo o cargo de Chefe da Cirurgia. Este foi prontamente recusado. Não que o cargo não fosse interessante. Mas eu queria chegar até ele pelas próprias mãos e talento, não pelo nome construído à imagem de seu pai.
Por isso mesmo, não decidi me aventurar no Bairro Francês ou no Garden District. Um apartamento confortável, não muito luxuoso era o suficiente para que eu me adaptasse. Acabei optando por morar no centro da cidade, onde poderia ficar perto do Centro Médico. Decidi também deixar meus carros em LA, poderia comprar um novo se fosse necessário. Trouxe comigo apenas minhas duas motocicletas prediletas, uma Ducati Diavel Carbon vermelha, e uma Harley-Davidson FLSTF Fatboy, réplica da usada por Arnold Schwarzenegger em Exterminador do Futuro 2.

Observo meu novo apartamento. Móveis novos, tudo decorado profissionalmente antes que eu chegasse. Não entendo de nada que a decoradora decidiu colocar, mas definitivamente ficou agradável. Tons sóbrios, nada enjoativo demais. As janelas todas filmadas, para que não fosse possível ver o que acontecia lá dentro, fosse noite ou dia. Vizinhos enxeridos nunca me agradaram, ainda mais quando eu precisava dos meus “toques finais” antes de dormir, ou quando tinha companhia. Ainda faltava é claro alguns toques pessoais, como algumas espadas no lugar de um dos quadros, uma katana exibida em uma ante-sala: sempre fui fanático por espadas.

O guarda roupa ainda estava praticamente vazio. Havia três ou quatro camisetas, um par de jeans, quatro ternos e o mesmo número de jalecos. Para estar sempre bem apresentável no trabalho, usava terno enquanto me deslocava até meu consultório ou sala no hospital, e lá trocava o paletó por um jaleco, sem retirar a gravata. Algum bem a minha mãe superficial teria de ter feito, e este era o único que eu considerava.

- Acho que tentarei algo diferente por aqui. Assim que chegar ao Centro Médico, escreverei uma carta de interesse para a Universidade de Loyola. Quem sabe lecionar não seja uma maneira de selecionar os melhores para um futuro trabalho em minha equipe.

3Condomínios Empty Re: Condomínios Sex maio 18, 2012 11:22 am

Alice Miller

Alice Miller

«Essa vida é uma loucura.

Nem parece que foi há cinco dias que vim para Louisiana, ou que foi há duas semanas que eu comprei este apartamento através de uma imobiliária em Washington DC. Mas sinceramente, não sei dizer se o tempo passou muito rápido ou parece que se arrastou. Tenho a impressão que foi há séculos que isso aconteceu, mas simultaneamente… Como tudo pôde mudar em tão pouco tempo?

Andei pela cidade e tudo me parece extremamente diferente do que era. Às vezes tenho curiosidade em procurar por algumas coisas do passado, mas é melhor deixar onde estão, afinal, estou bem assim e consigo respirar com leveza hoje em dia.

Comprei este apartamento sem visitar o lugar ou procurar muito, mas devo dizer que estou satisfeita por ter escolhido este lugar. E mais satisfeita ainda por voltar à minha cidade e poder me dar ao luxo de recusar uma residência em Garden District simplesmente pelo fato de eu não querer morar numa grande mansão vazia. Escolhi pela internet alguns conceitos decorativos que eu gostava de ter e tudo foi muito bem atendido. Gosto de estar sozinha e de linhas simples, é aí que reside o luxo.

Mas já começa a ser hora de voltar ao trabalho, às polêmicas, à vida que aprendi a gostar tanto. E só de passear por essa cidade, que às vezes parece tão inofensiva, se comparada com o caos da capital, consigo perceber que há algo a mais por aqui e que terei muito para fazer.

Meu nome é conhecido entre as pessoas que prestam atenção às notícias e mais ainda entre os que vivem na minha área, tenho boas referências e sou influente… Já tenho o meu escritório instalado e é tão bonito quanto era na minha antiga vida. Mas logo a primeira visita importante para a minha carreira aqui não ocorreu lá.

Ontem recebi um convite para ir a um café conversar com um potencial cliente, que eu não conheço. É óbvio que eu sempre tenho uma pequena nota de receio quando marco encontros com desconhecidos, sei que tenho inimigos e para acalmar um pouco a minha vida eu voltei para casa, mas nunca se sabe onde eles estarão. Como medida de segurança, levei a minha amiga semi-automática. Só que o encontro foi muito mais interessante do que eu imaginava. Tenho um caso novo… Um largo acervo sobre os envolvidos para estudar… É um caso instigante, de fato. Dessa vez não defenderei culpados. Acusarei um.

Hora de escolher os detalhes.

Hora de me apresentar à minha cidade Natal.

Aposto que qualquer pessoa na minha época riria de mim se um dia eu dissesse que voltaria rica, bonita e bem-sucedida. Que voltaria para marcar a cidade que tanto me marcou…

Vou agora estudar o que tenho para fazer nos próximos dias, é crucial começar bem.

Alice Miller.»

4Condomínios Empty Re: Condomínios Qua Jun 13, 2012 5:48 pm

Peter O'Connor

Peter O'Connor

Que maravilha! Mais um dia pela frente. Mais dinheiro a ganhar e mais pessoas a viciar. Nova Orleans encontra-se em declínio e isso faz com que as pessoas sofram, entrem em depressão. As pessoas se iludem dizendo que as coisas estão melhores, mas na realidade estão cada vez piores. Dou graças a cada péssima noticia que chega. Pessoas desaparecem pelas ruas e não são mais vistas e a família entra em desespero. A cada dia mais fabricas e comércios fecham aumentando o numero de desempregados na cidade. A criminalidade aumenta. Adoro isso! Eu vivo da fragilidade das pessoas, logo quanto mais fragilizadas elas estão mais eu tenho a lucrar. Quando as pessoas estão fragilizadas elas buscam algo em que se apoiar e normalmente esse algo é destrutivo, como prostituição, álcool e drogas. Meu negócio é ganhar o Maximo de dinheiro sobre essas almas arruinadas. Drogas é o que me faz viver. Quem procura a prostituição vez ou outra cai nesse mundo que me enriquece. Quem vira alcoólatra entorta o nariz para a farinha que eu negocio. As ruas estão tomadas por gente desse naipe. De políticos aos moradores de rua eu posso “ajudar”. Uma coisa eu posso dizer: Eu amo a miséria das pessoas.

Desde que cheguei em Nova Orleans meus negócios tem prosperado, mas cheguei a um ponto aonde as coisas estagnaram. A Policia nunca interferiu abertamente em meus negócios por isso pude fazer uma pequena fortuna com meu negócio, mas desde que a Vestrue CO começou a fazer seus negócios as coisas tem mudado. O patrulhamento ostensivo da policia envolta dos empreendimentos da Vestrue tem afugentado meus mais tradicionais clientes e isso está fazendo a venda de entorpecentes diminuir. Estive pensando em meios de dar uma agitada nas coisas. A coisa que mais se vende depois das drogas é o sexo. Isso mesmo, sexo vende. Por sinal vende muito bem. A indústria do sexo tem crescido extraordinariamente depois do advento da internet, e os filmes pornôs são algo que além de excitar as pessoas induzem elas a tomarem determinadas atitudes. Sei que aqui na cidade existe um produtor mediano de filmes pornô de segunda categoria e acho que com o incentivo correto posso unir o útil ao agradável, ou seja, investir em um novo negócio e também divulgar meus produtos.

O nome desse figura é Cliff Stevens. Há algum tempo uma das atrizes que fez alguns filmes com ele me deu toda a letra que ela sabia em troca de um pouco de “nine nine”.
De posse das informações e do telefone tinha que me assegurar sobre os aspectos legais dessa empreitada. Fiquei sabendo pelas ruas que uma nova advogada surgiu na cidade, seu nome Alice Miller. Uma ‘bam bam bam” do mundo jurídico, expert em colocar homens como eu nas ruas.

Sentado na sala, esparramado no sofá, pego o telefone e ligo primeiro para a advogada.

- Alo! Doutora Alice Miller?... Boa tarde!... Meu nome é Peter O’Connor, provavelmente a doutora conhece meu nome, mas se não conhece vou me apresentar, sou o perfil de pessoal que a senhorita costuma atender.. Estou te ligando pois pretendo investir meu sanguinário dinheiro em novos negócios e quero contratar os teus serviços de advogada. Se a doutora estiver interessada fico lhe aguardando no Arnaud's Restaurant. Até mais.

Pronto agora é esperar que ela me encontre no local combinado. Ainda no sofá procurei na agenda do telefone o numero daquele produtorzinho. Quando encontrei liguei.

- Alo! Cliff?... Boa tarde senhor Cliff. Meu nome Peter O’Connor. Fiquei sabendo que o senhor é produtor de filmes para adulto. Estou certo?... Gostaria de encontrá-lo hoje a tarde para lhe fazer uma oferta. Tenho interesse em financiar alguns filmes do gênero que você costuma produzir. Se tiver interesse me encontre no Arnaud's Restaurant. Até mais.

Pronto. A sorte esta lançada. Se eles tiverem interesse de usufruir do meu chapado dinheiro, terão que me encontrar hoje a tarde.

Depois de algum tempo parti de minha confortável e simples casa, para o Arnaud's Restaurant, onde estaria esperando por aqueles dois. Muitos me perguntam por que moro em numa área classe média. Gosto de parecer uma pessoal comum, sem muito que oferecer, pois quem é visto e reconhecido por muitos é porque esta se destacando, e prego que se destaca leva martelada, pensando assim acham que a melhor maneira de se viver é como uma pessoa comum, e não ostentando o dinheiro como a maioria dos traficantes burros que caem rapidamente. Carro? Tenho um carro popular, que normalmente é guiado por mim mesmo, mas em excepcional, hoje seria dirigido por Paolo, um dos meus amigos de infância e que agora trabalhava comigo, nesse negócio milionário que é o sujo e vil porem maravilhoso mundo das drogas.

(Proximo post no Arnaud's Restaurant)

5Condomínios Empty Re: Condomínios Sáb Jun 23, 2012 1:23 am

Felícia Alessa Puccinelli

Felícia Alessa Puccinelli







O avião acabava de aterrissar em solo americano e eu já estava entediada da viagem. Frances não hesitou dinheiro em me comprar uma passagem de primeira classe. A viagem inteira me causou expectativas, tirando Frances que tentava me ligar, porém, avião, impossível! Em duas horas e eu já estava em solo americado. As minhas malas foram trazidas pelos funcionários da companhia aérea e eles próprio se incubiram de me colocar em um taxi. Eu estava respirando uma atmosfera diferente, mágica. Antes de tomar a decisão, eu havia pesquisado sobre muitas histórias da cidade e uma delas, a dos vampiros, me causaram bastante curiosidade. Porém, vampiros era história contada para mim quando eu tinha seis anos de idade. Devidamente colocada no caminho para minha futura casa, eu apreciava a paisagem noturna da cidade. Abri a minha bolsa e me preparava para acender o meu primeiro cigarro do dia, quando me lembrei que talvez não fosse permitido fumar em lugares fechados. Em alguns minutos que me pareceram horas o taxi virou uma avenida e o motorista me alertou: - Bem vinda a Louisiana madame, mais precisamente Nova Orleans. - O lugar não era o que eu esperava, afinal ouvir histórias lhe causam a vontade de conhecer lugares sombrios, e aquela cidade me parecia bem normal como as outras. O meu telefone móvel no vibra-call não parava de vibrar. Era várias mensagens de Frances para saber se eu havia chego bem. Ele poderia esperar eu descansar e conhecer minha casa primeiro?

Um pouco mais de tempo e eu estava em frente ao portão de minha casa. Na fachada, parecia uma casa normal, e era normal, porém eu tinha um gosto um pouco luxuoso para modificações. Obvio que retirei a quantia certa do dinheiro e entreguei ao motorista que após retirar minhas malas, partiu deixando apenas o seu cartão pessoal. Pegando as chaves, me dirigi ao portão e o-abri. O barulho parecia que ele havia sofrido uma reforma recentemente. O pequeno jardim na frente da casa me fazia ter lembranças da antiga casa de Veneza. Peguei as minhas malas e levei para dentro fechando o portão de entrada. Abri a porta e procurei o lugar onde acendia a luzes. Acendendo pude observar o lugar vazio, somente com um sofá e uma antiga mesa do século XIX sobre o centro da sala. Peguei o meu telefone e resolvi atender o tão frenético Frances: - Será que eu não posso ficar sem trinta minutos sem conversar com você Franchesco Giovanni? - Eu sabia que o nome e sobre-nome iria causar repulsa a ele. - Por favor queridinha, nunca mais fale o meu nome desse jeito, afinal Franchesco é apenas para o formais e você sabe que somos bem mais que isso priminha. - O seu tom de voz parecia divertido do outro lado. - Então Frances o que deseja? - Eu olhava o restante da casa enquanto era " metralhada " por buscas de informação. - Saber tudo! A viagem, o lugar, a casa, tuuuudooooo! - O seu tom ainda de " somos crianças " me lembrava o porque de todos, ele era o meu melhor amigo: - Frances a minha viagem foi cansativa, cheguei agora e estou cansada! Depois eu te ligo! Beijos! - Desliguei o telefone e voltei a observar a casa. O imobiliário me cobrou uma pequena razoável pelo imóvel, e estava vendo que estava valendo o que foi gasto. A sala ampla e com várias janelas estilo venezianas era o charme do local. Imaginei ainda os meus quadros pendurados na parede cinza do local. A cozinha, era o cômodo mais elegante da casa, exceto sem móveis. Subindo as escadas observei os dois prometidos a mim, sendo que um, o meu tinha um banheiro onde eu poderia tomar a minhas deliciosas duchas após o dia corrido de trabalho.

Sobre a cama, apenas um lençol branco escondido por uma cocha velha e desfiada. Acabando de conhecer a casa, parti para o que me interessava. Peguei o telefone e ligando, disquei o número da imobiliária: - Boa noite! Sou Sra: Alessa e estou ligando para confirmar a chegada dos meus móveis do Alasca e a assinatura para finalizar a compra do imóvel. - A voz dispersa da mulher ao outro lado, me fez perceber que talvez aquela hora, ela estivesse fazendo outra coisa que não era trabalhar: - Peço que os imóveis chegue amanhã pela manhã pois tenho pressa! E por favor, sem arranhões, alguns deles valem mais do que essa casa! - Passado o meu recado desliguei e voltei mexer em minha mala. Retirei a minha toalha pessoal, meus produtos de higiêne e me encaminhei ao banheiro da parte de baixo da casa. Após retirar a minha roupa e tomar um ótimo banho, senti que minhas forças já começavam a ceder. O cansaço da mudança já fazia efeito. Peguei o meu carregador e procurei a tomada mais próxima e pús o meu celular para carregar. Voltando ao quarto, me cedi sobre a cama e intântaneamente comecei a descansar. Não era a minha intenção dormir, muito menos naquele horário, porém antes de qualquer outra coisa um descanso seria bem vindo.

6Condomínios Empty Re: Condomínios Qua Set 12, 2012 1:56 pm

Henry Freeman

Henry Freeman
Ancillae

Trecho em itálico escrito a quatro mãos


A Danse Macabre tem muitas facetas. Por vezes exige uma ação brutal, direta, impactante; por outras, a sutileza e anonimato se mostram mais importantes. Que o digam lady Blake e sua turma. Enquanto o laranja estava dando sua cara a tapa sem sinais de que revidaria, o bando de velhos permanecia à margem de toda a ação. Bastou Freeman demonstrar vontade própria para passar da posição de “colaborador” para “um inconveniente”. Sua estratégia teve que mudar e ele passou a dançar conforme a música. Nos acordes fúnebres da Danse Macabre, Freeman deu alguns passos em direção às sombras. Ocultou-se de vez sem deixar vestígios. O único meio de contato que deixou aberto era uma via de mão única, onde apenas recebia as informações que guiariam seus próximos passos. De seu refúgio secreto soube do Baile, de Gregor, de O’Reilly, de Catherine e de Helena. Acompanhou também a evolução do processo de desapropriação, juntamente com os passos de seu apadrinhado Victor Calarram. No entanto, por mais informações e planejamento que passassem pela sua cabeça, pouco poderia fazer de efetivo até que a reunião entre as Anciãs na Longue Vue tivesse um fim. Pessoalmente, não acreditava que Helena fosse mudar de opinião à essa altura do campeonato, o que acabaria gerando uma enorme frustração na já naturalmente frustrada lady Blake. Queria ser uma mosca para poder ver aquela cena.

O Baile de Máscaras torna-se repentinamente o maior atrativo para Freeman, uma vez que cainitas poderiam ser aliciados para a causa Ventrue... se não fossem dois pequenos detalhes: ele já não mais representa o Clã e os vampiros presentes ao Baile provavelmente seriam, em sua maioria, boêmios aliados aos degenerados Toreadores - ídolos e fãs de Helena de Vries. Talvez a tal setita que comanda o local fosse uma potencial aliada, mas teria que sê-lo antes da realização do Baile, e não agora. Havia sim um certo alguém cuja aparente neutralidade poderia ser convertida em uma forte aliança com Freeman. A questão era: ele queria mesmo essa aliança? Sua história com Amelia já não teria acabado há anos atrás?

Suas indagações em relação à Tremere não paravam por aí. Ele estava sentado de pernas cruzadas, empunhando uma taça como um lorde inglês enquanto pensava nela. Ao seu redor, barris e mais barris de madeira contendo vinhos das mais diversas idades, todos muito mais novos que o vampiro. Aranhas andavam por entre enormes teias no teto, construídas exatamente na junção entre as pedras da laje e as vigas de madeira. De sua confortável e novíssima poltrona que contrastava com a aparência rústica do lugar, Freeman observava a mesinha de centro que estava entre seu assento e um outro à frente, vazio no momento. Em cima da mesinha havia uma xícara de chá ainda com a fumaça saindo do líquido quente. Deixara a cena do jeito que se encontra como uma forma de relembrar mais vividamente daquela que causou o último sentimento verdadeiro em seu peito. A “jovem” inglesa de fala mansa e aparente fragilidade que arrebatou seu coração é uma lembrança pertinente, ainda mais depois que eles acabaram se estabelecendo na mesma cidade. Henry jura para si mesmo que a possibilidade de ficar próximo à Amelia não teria influenciado em sua decisão de aceitar a empreitada em Nova Orleans, mas até mesmo o auto-convencimento é difícil de se obter. Também poderia manter a ilusão em sua cabeça ao repetir a si mesmo que a senhorita Pond seria uma aliada de peso para a causa Ventrue e que veio "buscá-la" tão somente por esta razão. Sendo mentiras deslavadas ou desculpas pontuais, o fato é que ele ainda pensa naquela mulher que conheceu aos catorze anos de vida, quando ainda respirava e tinha sonhos molhados de adolescente. É ela que imaginava com clareza à sua frente, sentada na agora vazia poltrona que lhe fazia companhia. Os assentos, o chá, o silêncio... Tudo tão parecido como da última vez...


Os encontros deles eram esparsos, devido às responsabilidades que recebiam de seus distintos clãs. E aquela noite era aguardada com relativa ansiedade. E ansiedade é um sentimento um tanto estranho para pessoas como eles, que geralmente têm tanto tempo à disposição. É fácil aguardar que as coisas tomem seu lugar, mas havia algo que transformava essa espera angustiante - apesar da dificuldade em pontuar se esta seria a palavra correta para o que sentiam: a “pequena” peculiaridade de que estavam em lados opostos, junto a uma certa sensação incômoda de exposição. E na sociedade em que viviam, ter-se exposto era sempre perigoso. Mas ele não sabia se era algo que ele queria evitar. Foi o primeiro encontro de ambos em Nova Orleans.

Ela estava a caminho naquela noite. Um tanto inusual para os padrões que tinham estabelecido. Apesar de parecerem jovens, pertenciam aos dias de épocas atrás e embora Freeman se considerasse moderno o bastante para viver com facilidade nos tempos atuais, parte de si ainda cultivava alguns costumes de sua juventude. Geralmente era ele quem ia ao encontro de Amelia e raramente o contrário. Por mais que soubesse que era um pensamento antiquado, ele não considerava de muito digno de respeito, mulheres que tomavam a iniciativa. Mas naquela noite, ele pedira que ela viesse até sua mansão no luxuoso condomínio em Garden District¹.

Era por volta de meia-noite quando o toque do interfone anunciou que ela estava chegando. Indicou ao porteiro que permitisse sua subida.

Ele já estava com a porta aberta quando o elevador chegou ao andar. Não estava feliz por vê-la, pensava ele, era apenas educação. Ela sorriu ao vê-lo e caminhou em sua direção, seus sapatos e a bengala ecoando no hall. Estava corada, ela nunca aparecia pálida em sua presença. Recolheu o casaco branco que ela usava e pendurou no cabide, por baixo ela usava uma calça preta folgada que disfarçava sua condição e uma camisa azul clara. Reparou também que dentre seus adereços, ela não usava a fita azul que geralmente usava em torno do pescoço. Aquilo o deixou contente. Embora fosse uma informação muito guardada entre o pessoal dela para prevenir-se contra o pessoal dele e ela não sabia que ele sabia deste segredo.

Indicou que ela se fizesse confortável e ela sentou no acento defronte ao que ele estava acomodado anteriormente. Ia se sentando ele também quando lembrou da água que deixara fervendo na cozinha – território pouquíssimo explorado por motivos óbvios – e de lá voltou trazendo para ela uma xícara de chá fumegante.

Amelia abriu um largo sorriso e riu docemente: – Oh, isso é tão gentil! Muito obrigada, Henry. – Disse ao recolher a xícara e logo aproximando-a do rosto para sorver o aroma da erva. Escolhera menta, pois foi a que lhe pareceu ter o cheiro mais forte, sua sensibilidade para essas coisas era nula.

– Esse seu costume não faz o menor sentido – acrescentou Freeman enquanto tomava o seu lugar e olhava-a apreciar o seu chá. Decidiu que gostava de vê-la em seu apartamento.

Um silêncio confortável caiu entre eles por alguns momentos e ele aproveitou para pensar no motivo que o fizera trazê-la até seu refúgio. Precisava conversar com ela em um lugar seguro. Costumavam deixar assuntos importantes como política e empreendimentos de lado, muito porque deviam fidelidade à grupos diferentes e a fim de evitar altercações desnecessárias, acordaram silenciosamente em não adentrar em certos assuntos. Mas agora uma questão moral passa a envolver Freeman. De fato não havia a chamado para debater política esta noite - mas também não evitaria o assunto; ele a trouxe para lhe fazer uma confissão, e tal confissão poderia mudar a opinião de Amelia sobre Freeman e sobre política, para ficar no mínimo. O leve desconforto no semblante que ele passa a exibir é captado pela ruiva, que acaba com o silêncio ao erguer de leve sua voz.

- Por quê não começamos nossa conversa como motivo de sua preocupação? - ergue a xícara até a altura do rosto, como se cheirasse o aroma de menta bem de perto, mas era só uma tentativa de esconder um pouco o seu rosto por detrás da porcelana. Talvez estivesse sentindo empatia pelos problemas que sabia que Henry enfrentava.

Batendo levemente as mãos contra os braços da poltrona, ele ganhava forças para sair do anonimato perante Amelia. Ela não sabia bem exatamente quem ele era. Não sabia que o garoto que recebera de presente em felicitações aos seus cinquenta anos era Henry, o mesmo garoto a quem permitiu se desenvolver ao lhe poupar a vida aquela noite há cento e cinquenta anos atrás. A compaixão daquele ato permanece no que restou do coração de Freeman e de Amelia, incapaz até hoje de matar uma criança. Talvez ela se lembre de como era educado aquele jovenzinho que lhe ajudou a caminhar sem a bengala e que suava ao tentar parecer calmo e confortável ao seu lado, ainda que soubesse que estava prestes a perder a vida. Qual seria a reação dela ao descobrir que ele era Henry?

Freeman é possuidor de um olhar que naturalmente não esbanja qualquer sentimento. Ao lado de sua amiga, ele procura simular sorrisos e mais sorrisos que a façam se sentir confortável. Mas agora os sorrisos cessam. Ele olha profundamente dentro dos olhos de Amelia, desejando poder entrar em sua mente e puxar as memórias dela referente às palavras que viriam a seguir.

- Eu lhe devo minha vida, Amelia, ou pelo menos o que pude aproveitar dela. Você me poupou da Fome do sangue quando eu mal podia me defender. - um breve silêncio se fez antes que ele completasse - Eu era apenas um garoto e você me salvou mesmo sem precisar fazê-lo. Obrigado.

Na cabeça dele se passava uma tradução racional para aquilo que um coração sentiria como ‘amor’. Na de Amelia se armava uma imensa confusão. Não teve muito contato com tantos garotos assim em seu tempo de Abraçada, então a simples menção ao termo a faz relembrar daquela noite em que conseguiu salvar um resquício de sua humanidade. Muitas outras noites se passaram em que ela se lembrava de sua escolha, em como simpatizou com o jovem de olhos claros e uma precoce pose de homem feito. Ele a tratou com respeito sem conhecer seu verdadeiro poder – ainda que suspeitasse que corria sérios riscos -, ganhou sua confiança e, no fim, a liberdade. Apesar de ter a convicção de ter feito a escolha certa, Amelia nunca mais foi tão boa com ninguém quanto foi com o aquele garoto... com Henry. Talvez fosse o medo de se fragilizar em situações onde deveria ser a predadora, e não a redentora.

Perante sua pensativa, Henry prossegue com mais algumas palavras.

- Eu só queria que você soubesse. Talvez isso arruine com nossos laços, mas eu não podia mais manter esse segredo em silêncio, não seria justo.

Freeman ajeita sua postura no sofá, ficando sentado bem no limite do assento, o mais próximo possível da outra. Ele cruza os dedos das mãos com os antebraços apoiados nas pernas. Praticamente sussurando, pronuncia algumas palavras enquanto mantinha o olhar incólume focado em Amelia.

- Eu não tenho a mínima noção do que falo ou faço agora.




________________________________________________
¹ Na época em que esse encontro aconteceu, Henry tinha seu refúgio em Garden District, mas agora ele se mudou para o Centro da Cidade.

7Condomínios Empty Re: Condomínios Sáb Set 29, 2012 8:37 am

Ann Smith

Ann Smith

Estacionei o carro na garagem de casa quando o céu já ia ficando meio azulado pelo brilho do sol. Entrei em casa com a pretensão de correr direto pra cama, mas fui barrada pela minha mãe, como sempre. Ela veio falar comigo vestida naquele roupão branco velho de guerra, e eu respirei fundo antes de começar a ouvir aqueles sermões de sempre - ou melhor, de uns meses pra cá.

Mas não foi isso o que ela fez. Me abraçou e ficou em silêncio um bom tempo. Ela tava mal e, depois de alguns minutos, comecei a achar que o problema era com ela mesma, não comigo. Eu fui com ela pra cozinha quase me arrastando por causa do sono e da bebida, mas não tinha como deixar a coitada na mão justo quando precisava de mim. Ela foi fazendo chá e falando, falando...

Nas últimas semanas, ela andava ansiosa porque o senhor Victor Calarram, dono da empresa onde ela trabalha, a incumbiu de tratar dumas desapropriações de imóveis na área do Garden District(*). Ela dizia que aquela era a chance de impressionar o chefe pra, mais adiante, pleitear um cargo de gerência ou, quem sabe, até uma diretoria. Mas qual o quê. Tem fases na vida em que o azar se acumula na vida de uma pessoa, e esse era o caso dela, desde que meu pai morreu.

Ela comentou umas tecnicalidades jurídicas que eu teria dificuldade de entender mesmo que prestasse atenção. Resumindo, quando ela viu que tava difícil conseguir as desapropriações pela via administrativa, começou a ligar com insistência pra um tal de senhor Cole ou Coleman (já não lembro bem o nome do infeliz) pra ver se convencia ele a realizar o procedimento. Só que aí o sujeito se enfezou e bateu o telefone na cara da coitada! Minha mãe falou que o negócio tinha gorado por culpa dela, e já tava dando adeus à qualquer perspectiva de promoção. Se não levasse uma bela enrabada do chefe, já seria lucro.

É claro que eu tive vontade de ajudar, mesmo sem saber como, e me entristeci por ela. Mas, em outra época da minha vida, teria me condoído muito mais. Depois de eu descobrir meu verdadeiro destino e perder tudo, os dramas profissionais e familiares me soavam feito coisas menores. Tudo aquilo que as pessoas valorizam tanto, e que um dia eu também valorizei, me pareciam agora como aspirações infantis das quais os adultos se riem quando recordam. Além do mais, chapada como eu tava naquela hora...

Eu abracei ela mais uma ou duas vezes, mas não fui capaz de dizer mais do que uns clichês consoladres. Ela viu que eu mal conseguia manter os olhos abertos e, com uma cara bem desanimada, me mandou pra cama. Quando entrei no quarto, sem nem acender a luz, vi uma sombra pequena se mover sobre a cama. Logo um par de olhos verdes se revelou num facho de luz que entrava pela fresta da cortina.

Depois da humilhação no HD, de ver minha mãe daquele jeito, eu ainda tinha que aguentar o bicho me fitando. Se ele soubesse que não gosto mais dele, que me irrito cada vez mais com as lembranças ruins que aquele olhar me traz todos os dias, que tava começando a sentir ódio... o bicho sumiria de casa nem que fosse pra morar num lixão!

O engraçado é que meu olhar parece ter transmitido esses sentimentos quando o encarei, pois ele deu um pulo e sumiu de vista num segundo. Emborquei sobre os lençóis e dormi sem me cobrir e nem trocar de roupa. Antes de pegar no sono, tentei substituir na memória a imagem dos olhos verdes do gato pelo azul dos olhos da Gia.


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(*) É a senhorita Smith mencionada no post de Victor Calarram.

8Condomínios Empty Re: Condomínios Sáb Out 06, 2012 7:23 pm

Henry Freeman

Henry Freeman
Ancillae

Trecho em itálico escrito a quatro mãos

Amelia se inclinou para frente e repousa a xícara sobre a mesa de centro. Naquele momento considerava melhor não ter objetos quebráveis em suas mãos. Em seguida recosta-se na cadeira de modo a poder mirá-lo melhor. Não demorou para que seu raciocínio chegasse à inevitável conclusão. Não tinha a melhor das memórias, coisa que por vezes a tornava desgostosa, mas não foram muitas as crianças que permitisse passar por sua vida para que fosse necessária uma busca muito profunda nos recônditos de sua mente. E lembrou daquele adorável garoto, seus cabelos pretos, e seus olhos claros, que revelavam o quanto estava temeroso perante aquela situação, embora sua postura tentasse anunciar que não tinha nada a temer.

Ela completava 50 anos naquela noite e ele fora um presente. O sangue dos jovens por muitos é considerado mais saboroso. Ela já teria provado e se deliciado, mas não sem alguma culpa de partilhar a responsabilidade de uma vida repleta de possibilidades. Aquele garoto não estava longe de se tornar homem, mas ainda trazia uma inocência em sua aura que ela não podia ignorar. Mas ele era o seu presente.

– Você era meu... – Ela disse num fio de voz depois de alguns momentos.

Freeman estranhou o que ela disse. Tentara antecipar qual seria a reação dela e imaginara todo tipo de respostas, todavia, nenhuma parecia caber a Amelia. E aquilo o surpreendeu. Ela não teria entendido o quanto era grato por ter sido liberto?

– Você me libertou. – Foi tudo o que ele conseguiu dizer.

Ela então sorriu. Freeman estranhava a facilidade que ela tinha para exibir um sorriso, estranhava mais ainda como eles sempre pareciam sinceros.

– Eu sei. – ela respondeu parecendo mais a vontade com a informação e se inclinou para para frente, como se para enxergá-lo melhor. Por um momento Amelia sentiu vontade de tocá-lo a fim de testar a realidade daquele instante. Estendeu a mão para frente, mas logo mudou de ideia, repousando-a sobre o colo, uma mão segurava a outra como se para impedir que saíssem fazendo coisas sozinhas. – É apenas um pouco inacreditável. Meu Henry é você.

Freeman observa quando a cabeça dela pende um ou dois centímetros para o lado e seus olhos se estreitam de leve, num jeito sonhador. Ele também nota a seleção de palavras dela quando se refere a ele na infância como "meu Henry". Será que ela teria voltado a pensar nele no decorrer de todo aquele tempo em que estiveram distantes, sem saber se um dia voltariam a se encontrar? Mas não gosta dessa linha profunda de pensamento, achando-se muito parecido com uma criancinha tola.

– Eu fico feliz por ver que você ficou bem. Mas também fico triste por ver que você saiu dos meus cuidados para terminar com outro vampiro. – Ela para e seus olhos perdem o foco, olhando para um lado e para o outro e por fim para as mãos inquietas em seu colo. – Para ser franca, eu não sei dizer o que eu estou sentindo.

- Pelo menos você sente alguma coisa. - Saiu o pensamento em voz alta. - Eu apenas sei. Sei que devo minha vida a você...

Henry desce do sofá em um movimento rápido, ficando ajoelhado em frente à Amelia com uma das pernas somente. Ele busca as mãos inquietas dela e as aperta contra o peito. A cena absolutamente romântica contrasta com a total falta de afetividade mostrada em sua expressão.

- … e sei que devo amá-la.

As mãos de Amelia enfim sossegaram junto ao peito de Freeman. Sentia o frio de seu corpo da mesma forma que os amantes vivos sentem o calor em seus pares, mas não sabia dizer se isso significava que seu pequeno Henry era o seu amor. Tudo muito confuso, muito repentino. Ele, por sua vez, levanta-se do chão e fica em pé junto à ela. Os olhos se confrontam durante o pequeno espaço de tempo em que Amelia consegue fazê-lo.

Um silêncio constrangedor toma conta do ambiente. Freeman não ouviu nenhuma resposta satisfatória; aliás, não ouviu resposta alguma. Queria ter uma orientação sobre como agir daqui pra frente, mas só consegue se prender no raciocínio sobre “o que há de errado?”. Ele sabe que deve tudo à Amelia, e também sabe que desde o tempo em que seu coração parou de bater, ele parou de sentir e que por isso nunca mais seria capaz de experimentar o amor. É tudo tão óbvio e tão confuso que o certo parece errado. Ele deveria mesmo amá-la?




As lembranças foram cortadas pelo toque repentino do telefone em seu bolso, trazendo Henry daquela fatídica noite à realidade seu rústico refúgio. Antes de atendê-lo, olha no visor o nome que aparece e não fica nem um pouco mais feliz por isso. Ele ouve tudo o que o outro tinha a dizer e reage com total imparcialidade na voz.

- Proteja o advogado. Não deixe que o peguem, até porque ele já sabe demais sobre nós.

Desliga o aparelho e o recoloca no bolso. O dedo indicador da mão que segurava a taça mergulha no vinho e fica a fazer movimentos circulares. Os olhos vazios de Freeman fitam um ponto qualquer da parede e ele torna a mergulhar em lembranças dolorosas.


9Condomínios Empty Re: Condomínios Dom Out 07, 2012 1:36 am

Christian Kaiserkopf

Christian Kaiserkopf

Voltava para casa, pensando em tudo o que Amelia havia falado. O que eu precisava agora, era pensar. Colocar a cabeça no lugar. Ainda era um tanto cedo da noite, ou pelo menos cedo demais para dormir, quando cheguei na minha casa. Precisava arejar um pouco a minha cabeça, já que eu não tinha muito o que fazer. Já tinha jantado pela Universidade mesmo... apesar de que naquela hora, já estava com fome. Uma fome enorme, para o pouco tempo que eu acabei de comer. Era meio estranho. E me sentia um tanto fraco também.

Entrei no prédio e passei pela caixa de correio. Na minha caixa, estavam algumas contas e um convite VIP para um Baile de Máscaras, no Masquerade. Que sugestivo. Mas não estava com tanta vontade de ir assim, pelo menos de início. Era sofisticado demais, e sabia que tinha recebido este tal convite apenas por ser filho do antigo dono da BMW, que provavelmente, ainda deve ser lembrado por sua "excelência" administrativa em Berlim. Só tenho pena dos que não sabiam da verdade sobre ele.

Cheguei no meu apartamento, que era simples. Não precisava mais do que uma sala, uma cozinha, um banheiro, e dois quartos, além de uma varanda disponível para olhar a cidade. Era algo simples, porém de minha posse, que nada poderia me tirar. Os rendimentos do dinheiro daquele nazista de merda do meu pai, pelo menos haviam servido para alguma coisa. Deixei os papéis do correio em cima da mesa da cozinha e fui para a varanda. Olhava para a cidade e me lembrava com desgosto de tudo o que aconteceu comigo até ali.

Voltando para a sala, liguei a televisão, enquanto pegava na geladeira, leite e torradas com pasta de amendoim. Estava nas notícias, na parte de Economia. Passei um tempo, ouvindo todos os fatos novos na cidade, até ouvir uma notícia.

Noticiário escreveu:"A Vestrue CO anunciou a compra de imóveis no Garden District. Eles devem ser desapropriados e reformulados pela companhia, quais sejam estes locais..."

Ao ouvir aquilo, junto com os endereços citados, eu tive um sobressalto. Como assim, desapropriar patrimônios históricos?

- Quem foi o filho da puta que deixou isso acontecer? - Falei, sem acreditar no que estava ouvindo.

Muito engenhoso. Alterar os patrimônios históricos e reduzi-los a propriedades de corporações, só queria dizer uma coisa: adeus cultura para a população. Mais alienação. Mais venda. Mais poder concentrado nas mãos de uma organização. Maior movimentação da mídia em torno deles.

De repente, eu sabia exatamente o que tratar na próxima reunião.

Peguei o telefone, e liguei para o líder do Movimento Estudantil de Loyola. Eu tinha que espalhar a notícia para o maior número de pessoas o possível.

- Cara, liga a TV na FOX AGORA. Você tem noção do que tá acontecendo? A Vestrue quer acabar com os patrimônios históricos da cidade! Que merda é essa!?

Tudo bem, o Garden District era um alvo de elite, de pessoas com muito poder. Algumas delas seriam atingidas, o que realmente me fazia estranhar aquilo. Mas locais como a Longue Vue estavam seriamente ameaçados de perder a sua função na cidade. Apenas para servir a meia dúzia de empresários escrotos.

- Eu quero o seguinte: uma pesquisa sobre as maiores corporações do Centro Empresarial. Seus orçamentos e lucros desde o Katrina. Em especial, a Vestrue CO. Eu também farei isso, a partir de amanhã. À tarde, perto da noite, temos que nos reunir no Loyola e começar um ato aberto a todos os estudantes e funcionários. Eu tenho uma idéia.

Uma certa experiência que consegui na Alemanha, sobre Administração e Finanças, poderia me ajudar nessas pesquisas. Mesmo que eu usasse o computador apenas para divulgar idéias nas redes sociais, e pesquisar e redigir trabalhos. Nunca gostei tanto assim de passar horas no PC. O problema é que nem sempre, é tudo transparente. E nem tudo podemos encontrar na Internet, principalmente, se o poder público resolver dar uma "ajuda" nesses casos.

Por outro lado, observava o convite que eu tinha deixado em cima da mesa da cozinha. A minha cabeça fervilhava imensamente. Eu tinha que relaxar um pouco. Por outro lado, aquela festa com certeza poderia ter muita gente importante, que poderia saber de... "coisas" a mais.

Na hora, eu me lembrei de Amelia. E do que ela falou sobre "grupos que se põem acima do bem e do mal, por seus interesses". Era estranho pensar que, a maioria das empresas instaladas na cidade, bem como órgãos públicos, se encaixavam nessa descrição. Tudo para facilitar o trabalho de uma elite.

Tomei um banho e me preparei para a festa. Mudei de idéia, talvez eu conseguisse algo interessante por lá. Algo que nenhum orçamento ou notícia apresentasse. Tinha que correr atrás daquilo que eu acreditava, e tentar frear um pouco o ímpeto desse pessoal que é indiferente a todo o povo ao seu redor.

Por mais que me irritasse, eu tinha que usar terno daquela vez. Além de uma máscara que eu tinha comprado para uma festinha na universidade. Por sorte, combinavam perfeitamente. Smoking, gravata lisa, sapato e calça social, todos pretos, além da máscara, que cobria a metade de cima do meu rosto, deixando revelados apenas meus olhos, boca e queixo. De branco, apenas a camiseta. Não levava relógio, já tinha o celular para isso.

Decidi pedir um taxi para o celular. Não iria de carro, para evitar possíveis problemas de direção, depois de sair de uma festa. Desci até a sacada do prédio, enquanto fui apanhado. A minh próxima parada agora, era o Casino Harrah, onde estava o Masquerade Club.






Off.: Utilizando informações apenas de cunho público, relacionados a outras interações do fórum nas quais o Chris não está envolvido. Caso haja algo fora de contexto, favor enviar MP. Sobre o ato na Universidade, será feito ao longo da trama, caso haja devida concordância da ADM. Neste momento, seguindo para o Baile de Máscaras.

10Condomínios Empty Re: Condomínios Qui Ago 29, 2013 7:06 pm

Ann Smith

Ann Smith

UM MÊS ATRÁS…

O dia já tava amanhecendo quando cheguei em casa, vindo do Baile. Tentei entrar discretamente, mas, alta como eu tava, acabei raspando a lateral do carro na mureta de entrada. O barulho piorou a recepção que recebi. Foi só botar um pé dentro de casa pra ela vir pro meu lado com os braços levantados, a voz alterada e os manjados chavões de mãe aflita. Mas, daquela vez, eu tava pronta pra fazer ela engolir as palavras!

- Eu tenho que sustentar a casa, limpar tudo, cuidar do seu gato! Você era a filha mais maravilhosa do mundo. O que deu em você?! Olha o que está fazendo consigo mesma, sua irresponsável!!!

- Irresponsável, é? Pois hoje é que eu te faço pagar com a língua! Cê não faz ideia da notícia que eu tenho pra te dar…

Diante da minha pausa dramática, ela cruzou os braços com uma expressão irônica muito irritante.

- Vamos lá, Ann. Me surpreenda.

- Acabei de arrumar um emprego!

- …?!

- Isso mesmo. E sabe quem vai ser meu chefe? O seu chefe! O sr. Vic-tor Ca-la-rram!!!

Ela caiu na gargalhada, e aquilo me enraiveceu dum jeito… Depois de engolir aquele desaforo da Gia, mais essa! Mas esperei ela pausar pra ir à forra.

- Quié, não tá acreditando, não? Pois então me diga: ele não falou com você no seu escritório ontem à noite? Viu minha foto em cima da sua mesa… Como eu podia saber disso se não tivesse falado com ele poucas horas atrás?

Ela estacou com cara de espanto, enquanto eu sorria vitoriosa. Adoro ganhar!

Depois, ela olhou pra mim de cima abaixo. Apertou o roupão contra o corpo com uma das mãos e, com a outra, esfregou a testa de um jeito nervoso. Era como se sentisse vergonha, ou algo assim. Mas ela devia tá feliz! Naquele momento eu percebi o quanto a insegurança profissional tava mexendo com a cabeça dela.

- Onde foi que você falou com ele?!

- Ah, foi num jantar dançante aí, num restaurante chique. Nós conversamos longamente e ele me ofereceu o cargo de... assistente pessoal. Aliás, essa gravata que eu tô usando é dele.

- O sr. Calarram viu você assim… descalça, pernas de fora, os peitos quase saltando desse decote abissal, e lhe ofereceu o emprego que era da srta. Beau... Ann, você anda se prostituindo!!??

Aí foi a minha vez de soltar uma gargalhada, embora aquela pergunta tenha me deixado puta da cara! Então ela pensava que eu não tinha competência nem pra ser uma bosta de uma assistente particular?! Mas aí eu me lembrei que o Victor começou a conversa comigo passando uma cantada… Implicitamente, eu tinha mesmo barganhado uma promessa de romance (e, portanto, de sexo) pela oportunidade de descobrir coisas ocultas. Se bem que, na altura da dança, eu comecei a ficar interessada nele. Sei lá, a desconfiança dela me deixou confusa. Voltei a falar, com raiva na voz.

- Quem cê tá pensando que eu sou, hein? Ele me deu o cargo por causa dos meus conhecimentos, que vão muito além de medicina! Aliás, em vez de você ficar aí me rebaixando com esse tipo de suspeita, devia me agradecer de pés juntos! Eu não só arrumei um emprego como ainda salvei o seu.

- Como é que é…?

- Falei pro Victor que o negócio no Garden District gorou porque o sr. Cole ou Coleman te fez propostas sexuais e você recusou. E ele acreditou em mim! Então, da próxima vez que cê falar com o Victor, vê se confirma a história, hein? Seu emprego depende disso.

- POR DEUS, ANN! Me diga que isso tudo é só mais uma das suas invencionices… Que você não ficou diante do sr. Calarram com um nada de roupa e nem contou para ele essa história absurda!

- Absurda por que, mãe? Quem não acreditaria? Como se dizia no seu tempo, cê ainda é uma "coroa enxuta"! Loira, atraente… que homem não se interessaria por você? A história foi pra lá de verossímil, e eu vi nos olhos do Victor que ele acreditou plenamente. Cê não percebe como eu agi bem porque anda perturbada.

Ela devia me agradecer. Mas não! Desembestou a gritar comigo.

- Pois saiba que hoje mesmo eu vou tirar essa história a limpo com o sr. Calarram! Se ele confirmar o que você disse, vou contar que é tudo mentira!

- Cê vai me fazer passar por mentirosa justo agora?! NEM PENSE!!!

- Mas você é uma mentirosa! Pelo amor de Deus, Ann! Você já foi uma moça tão sensata, mas agora só diz e faz coisas destrambelhadas. O sr. Calarram esteve na minha sala justamente para dizer que sabe que eu errei, mas que vou ter uma nova chance. Pessoas adultas agem assim! Elas assumem seus erros e procuram melhorar!

Aquilo me deixou possessa! Depois do que eu fiz por ela… Começamos uma discussão horrível! Andávamos de um lado pro outro, aos gritos. Acho que foi nessa hora que o gato apareceu na sala e ficou ali, olhando pra mim. A cabeça dele ia e vinha acompanhando meus passos. Ou, pelo menos, eu penso que foi assim. Na hora, minha preocupação era dissuadir ela de contar a verdade.

- SUA INGRATA!!! Eu tentei te ajudar e agora você vai pôr meu emprego em risco só porque eu contei uma mentirinha bem intencionada?! E ainda tem tanto menosprezo por mim que me acha incapaz de conseguir um emprego sem vender o corpo?!

Ela suspirou bem fundo e tentou acalmar as coisas. Olhando pra mim com uma detestável expressão de pena, falou:

- Ann, eu não sei o que foi que você queria ter conquistado e não conseguiu. Só sei de uma coisa: você é menor do que a pessoa que gostaria de ser, mas muito maior do que a pessoa em que realmente se transformou.

Aquelas palavras me petrificaram. Os olhos verdes do gato fixos em mim. Tanto tempo e dinheiro desperdiçados na compra daquela porra de gato egípcio com linhagem que, supostamente, remontava ao tempo dos faraós! Eu esperava tanto dele, como também de mim. E agora, tinha que escutar aquilo...

Se alguém pudesse vestir minha pele, não me censuraria pelo que aconteceu. Foi azar demais o bicho me encarar bem na hora em que a minha mãe me fitava com aquele olhar de piedade insuportável. Eu encarei o gato, e ele se encolheu um pouco, como se previsse o que viria. Mas ele não previa merda nenhuma. Era só um gato estúpido que usava coleira anti-pulgas. Era só um gato comum, um animal, um bicho. Comum como eu.

Caminhei uns poucos passos e o peguei no colo, com gestos naturais. Ela voltou a falar. Tinha os olhos úmidos e a voz chorosa.

- Minha filha, você precisa voltar para o tratamento.

Meus dentes rangeram de raiva quando envolvi o pescoço peludo com as mãos. As unhas do gato tiraram sangue do meu braço desesperadamente, mas foram apenas segundos até que eu partisse sua coluna. Ela bem que tentou tirar o animal de que nunca tinha gostado dos meus braços. Taquei o corpo já sem movimentos na cabeça dela. Depois, agarrei-a pelos cabelos, urrei de raiva e comecei a cobri-la de tapas, socos e, depois que ela caiu por sobre a mesa de centro, pontapés. Ela nem reagia; só gritava de dor e ficava encolhida.

Quando seus gritos viraram gemidos, minha fúria se voltou contra tudo. Um vaso foi parar no meio da tela da TV, o aquário espatifou-se no chão, enfeites de mesa atravessaram os vidros das janelas. Os vizinhos chamaram a polícia, mas eu não parei quando ouvi as sirenes.

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