Não gostei do modo como esse arrogante filho da puta falou comigo. E nas atuais circunstâncias, minha vontade foi mesmo de quebrar a cara dele, seria bom descontar em alguém.
Apesar disso, minhas ações foram limitadas, nada ainda está fazendo sentido, cruzei os braços, levantei o cenho e tranquei os dentes a fim de não sair qualquer impropério.
Olhei a fundo nos olhos de O Reilly, não me pareceu confiável. O que aquele homem dizia, ia completamente de encontro aos meus dois últimos dias. Apesar de minhas lembranças terem me traído, algo me diz que não está nada certo. Por que motivo deveria eu acompanhá-lo? Meus instintos são tão sonoros quanto o alarme prévio a bomba inimiga lançada em território americano. “Fire in the hole!” Emergiu do meu subconsciente. Finalmente, concluí mentalmente: “Segui-lo? Nem fudendo! As coisas estão muito normais por aqui e esse homem parece mesmo estar envolvido”.
- Sabe, O’ Reilly, realmente não me diz respeito o que você vai checar agora, meu atual interesse é saber se Henry Freeman está bem. Se é o que diz, acredito.
Vejo-o partir, certa que foi a decisão mais correta.
No entanto, não larguei o osso facilmente e iniciei investigações próprias, que tiveram resultados interessantes. A primeira coisa que tratei de fazer foi me certificar sobre a informação trazida pelo agente extremamente suspeito, e possivelmente corrupto da Polícia de NOLA, a respeito da integridade do senhor Henry Freeman. Fiquei de campana em horário comercial no centro empresarial durante dois dias, porém, sem qualquer resultado. No terceiro dia, decidi por verificações noturnas ao prédio e, para minha surpresa, lá estava ele, aparentemente bem, o que me intrigou. Novas incursões e, mais uma vez, aparições do senhor Freeman, somente pela noite. Horário curioso, afinal, o mundo gira pelo dia.
Dada as imagens que mantive em minha mente desde nosso último encontro, ele saindo com aquele sujeito que até agora não se tem notícias e de minha nefasta mensagem ao rádio passada para os outros seguranças, tudo parecia normal, o que era patentemente anormal. Talvez o Sr. Freeman viva sob ameaças maiores que as forças dele, talvez, por isso, saia somente a noite, ou talvez não.
Como costume dos que exercem minha profissão, realizar estudos sobre a missão é necessário. Nesse caso, o mistério entorno de Henry Freeman e aquele dia fatídico tornou-se algo pessoal. Não estava disposta a deixar passar. Algo fede e quero mesmo descobrir e limpar essa sujeira. Afinal, não é todo dia que me passam para trás.
Poderia me convencer que estaria surtando, se não fosse minhas mensagens ao rádio para os outros seguranças. Bem, estava mesmo em minhas faculdades normais. Ouvi a gravação repetidas vezes. Atravessei o mês revirando papéis, inclusive na biblioteca, jornais com notícias sobre Henry Freeman, analisando personagens de reuniões com o CEO da Vestrue CO, seguindo alguns. Consegui pequenas peças de um quebra cabeça engenhoso, constatei uma estreita relação de negócios com o advogado, Victor Calarram, e seu escritório, além do seu interesse peculiar pelo Entertainment Group. Além disso, as suspeitas de conspiração do tal policial contra o Sr. Freeman pareceram serem infundadas, eles têm alguma conexão oculta entre si, o que me deixou bastante curiosa.
Minha teoria inicial caiu por terra, o que me deixou contrariada e desejando saber que porra estava havendo. O´Reilly poderia não estar contra o Sr. Freeman, diante das conclusões a que cheguei, mas talvez ainda seja um policial corrupto, ou que apenas preste favores ao mesmo, difícil dizer. De qualquer forma, ele parece ser um elo percorrível até o objeto de minhas investigações e não tenho a menor idéia de qual seria a melhor abordagem para alcançar meus objetivos.
Passei uma semana em Nova York, trabalhando. Porém, não foi suficiente para esquecer os acontecimentos de um mês atrás. A pulga parece ter procriado em minha orelha. Durante os três últimos dias inteiros, permaneci em minha casa, meu lar, local que para muitos poderia ser definido como sem conforto, mas que faz integralmente parte de mim, inserida no ecossistema, respeitando e cuidando do ambiente a minha volta, caçando apenas para me alimentar, nada diferente de todos os animais ao meu entorno. Decidi ir à delegacia ir ter o com policial O´Reilly. Asseio, roupas, coturno, armas, chaves, barco, caminhonete. O fim de tarde se aproxima, momento chave no pântano. Animais se recolhem, outros começam a sair de suas tocas. Atenção redobrada.
Fico à espreita, esperando a diminuição do fluxo na delegacia. Não parece diferente aqui. Alguns policiais se recolhem e outros aparecem para o labor. Desço e me direciono à delegacia.
Ali encontro a quem estava procurando. Deixo que ele me note e me aproximo.
- E aí, policial O´Reilly, não estou segura se lembras de mim. “Tatuagem de Santo feita na cadeia?” Enfatizo o sarcasmo. Mais uma vez, o assunto Henry Freeman me traz a sua presença e, dessa vez, acredito mesmo que possas me ajudar. Arrisco um ar de superioridade, como quem sabe de algo que até Deus duvida, no melhor estilo, jogando verde para colher maduro.