Depois de nascer e crescer nas terras do Sr. Ford, sendo uma das filhas de seus empregados imigrantes, costumava acompanhar papai e seu senhor as caçadas no pântano. Isso não fazia mamãe feliz e, no início, impôs alguma resistência, mas como não tive o irmão que eles sempre esperaram, meu pai pôde se contentar com esse meu interesse, até aprender facilmente a entrar e sair do pântano sem problemas, conhecendo seus percalços.
Também não era fácil na escola, eram corriqueiras os convites aos meus pais à sala da diretoria. Não suporto meu nome, que era para ser somente Liese. Meu pai achou de querer chamar a atenção do responsável na hora de fazer meu registro, após ele perguntar como seria o nome da menina, falando “¡Mira! Liese”. Bem, o homem não sabia espanhol e achou que o nome era Miraliese. E assim ficou. Fui objeto de chacota na escola, mas isso não saiu por menos, quebrei algumas caras.
Tudo ia bem até que minha avó ficou muito doente em Porto Rico, eu tinha 18 anos. Meu pai resolveu visitá-la e me levou para conhecer a origem da minha família. Antes não tivesse ido. Era noite, fui até o cas que ficava em torno de 2 Km da casa de vovó. O local estava deserto, mas acostumada com o ambiente em que cresci, não vi problema nisso. Quando dei por mim, um rapaz me fitava. Quis puxar conversa, mas eu disse que precisava ir.
- Não tão depressa, ele disse. Segurando por meu braço.
Tentei me soltar, ele não deixou, segurando mais forte ainda.
- O que uma moça como você faz por aqui? Perguntou.
- Me solta, você está me machucando. Eu insistia, agora já fazendo força.
Ele me puxou para mais próximo e começou a lamber meu pescoço. Eu gritava, ofegante e empurrando seu peito com a mão livre. Foi quando ele segurou a outra e me derrubou próximo ao corrimão e ao fim do cas, onde o próximo passo seria o mar.
Alguns dizem que você sai do corpo quando é violentada. Mas eu não. Eu estava ali e senti como um ser humano pode ser desprezível. Eu lutava, mas não conseguia soltar as minhas mãos, ele tinha força para segurar meus pulsos com uma mão só. Foi quando juntei todas as minhas forças e concentrei minha energia em levantar meu tronco rapidamente. Esse movimento não foi suficiente para tirá-lo de cima de mim, nem fez com que ele retirasse seu membro do meu corpo antes intocado. Mas sim, fora suficiente para que liberasse uma das mãos, onde tive a chance de pegar um caco de vidro com a mão livre, proveniente de uma garrafa estilhaçada junto ao pé do corrimão.
Sem pensar, enfiei o material cortante em seu pescoço com toda a força que pude, cortando-o com um único golpe e depois retirei. Ele grunhiu. Agora tinha um peso morto em cima de mim, dentro de mim, que havia sujado meu corpo e minha alma. Empurrei seu corpo para o lado. Me encostei no corrimão de madeira e comecei a chorar. Não sei precisar quantos minutos fiquei ali até realizar o que tinha acontecido.
Decidi. Joguei o corpo dele ao mar e em seguida arremessei o caco o mais longe que pude.
Corri em direção a casa de vovó pela praia. Sentia o sangue escorrer por minhas pernas e pingar do meu vestido, estava banhada em sangue. O sangue da minha inocência escorria pelas minhas pernas, misturado com o dele. Entrei na água e comecei a me lavar, esfregava meu corpo com areia, como se isso pudesse limpar a desvirtuação da minha inocência. O vestido de branco, estava rubro.
Continuei, então, me lançando em uma corrida desenfreada para a casa de vovó.
Entrei na sala, estavam vovó e papai. Corri para ele e o abracei, molhando-o. Contei o que houve. Não havia o que dizer, mas o silêncio dizia tudo.
Colocou-me em um avião na manhã seguinte. Voltei a Nova Orleans. A distância não conseguia tirar da minha mente o que havia acontecido. Todos me perguntavam como tinha sido a viagem e o porquê do meu rápido retorno. Estava sempre sozinha e fugindo das pessoas, refugiava-me em passeios pelo pântano, como incontáveis vezes havia ido.
Na cidade, após quase um mês de poucas palavras, silêncio quase absoluto, descobri que estavam recrutando para a guerra do Afeganistão. Não pensei duas vezes. Alistei-me e não disse nada quando saí, apenas um bilhete informando.
5 anos depois voltei aos Estados Unidos, mas não para Novas Orleans, ainda não conseguia. Fiquei 3 anos trabalhando em Nova York como guarda-costas na empresa de um ex-combatente, foi quando comprei um apartamento simples.
A guerra é algo, em todos os sentidos, devastador. Não só para quem permaneceu com a alma incólume durante seus anos anteriores de vida, como para quem pareceu sofrer um trauma que seguiria por toda vida, como eu.
Não tinha uma história bonita de patriotismo para contar, apenas queria sobreviver a tudo que havia me acontecido, aprendi a ser forte, a parecer forte. Não sabia como seria meu retorno a Nova Orleans, fugia do encontro com a minha família. Até que tomei a decisão de voltar. Fui muito bem recebida por todos, mas não era mais a mesma, sempre sem muitas palavras.
Descobri que o Sr.Ford havia falecido em um trágico acidente de carro. Em meu retorno, olhei papai nos olhos, dei-lhe um abraço e fui ao meu quarto que ainda estava lá. Vi, diante de tudo, que não teria condições para ficar ali.
Lembrei-me da velha cabana do Sr. Ford, construída em palafitas, no pântano, utilizada, à época, como ponto de apoio de suas caçadas. Fui até a senhora Ford e pedi autorização para utilizá-la como minha moradia. Ela não se importou.
Foi o que fiz, dia após dia, tratei de deixá-la habitável com a ajuda de meu pai, a maior parte do material, levamos com um barco que é por mim utilizado. Foi duro, mas consegui. Ao contrário do que diziam, não me parecia ser o lugar mais temível do mundo, apenas o único lugar onde parecia existir um pouco daquela Liese que outrora fui, a inocência em minhas risadas muitas vezes ecoadas naquelas árvores e raízes elevadas. Ali, parecia, finalmente, em casa.
O trabalho desta noite, comparado aos que já realizara, não era dos mais complexos, observar a segurança da área em torno do evento, uma vez que havia muita gente importante no jantar da Vestrue Co.. Tudo estava muito tranqüilo, apesar disso, estava armada com minhas pistolas preferidas, rádio de comunicação e o crachá de identificação.
De repente, avistei o Sr. Freeman acompanhado de um rapaz.
Poderia ser algo muito natural se não se tratasse de quem era. Ora, de fato era muito estranho o anfitrião saindo a pé e por ruas tão desertas acompanhado de um rapaz sem blusa e descalço. Passei a situação pelo rádio a outro vigilante, a fim que se dirigisse ao local para apoio.
Ele informou que demoraria um pouco, pois estava no andar superior em revista.
Enquanto iam caminhando, aproximei-me tentando não chamar atenção e ouvir o que falavam a fim de averiguar.
Também não era fácil na escola, eram corriqueiras os convites aos meus pais à sala da diretoria. Não suporto meu nome, que era para ser somente Liese. Meu pai achou de querer chamar a atenção do responsável na hora de fazer meu registro, após ele perguntar como seria o nome da menina, falando “¡Mira! Liese”. Bem, o homem não sabia espanhol e achou que o nome era Miraliese. E assim ficou. Fui objeto de chacota na escola, mas isso não saiu por menos, quebrei algumas caras.
Tudo ia bem até que minha avó ficou muito doente em Porto Rico, eu tinha 18 anos. Meu pai resolveu visitá-la e me levou para conhecer a origem da minha família. Antes não tivesse ido. Era noite, fui até o cas que ficava em torno de 2 Km da casa de vovó. O local estava deserto, mas acostumada com o ambiente em que cresci, não vi problema nisso. Quando dei por mim, um rapaz me fitava. Quis puxar conversa, mas eu disse que precisava ir.
- Não tão depressa, ele disse. Segurando por meu braço.
Tentei me soltar, ele não deixou, segurando mais forte ainda.
- O que uma moça como você faz por aqui? Perguntou.
- Me solta, você está me machucando. Eu insistia, agora já fazendo força.
Ele me puxou para mais próximo e começou a lamber meu pescoço. Eu gritava, ofegante e empurrando seu peito com a mão livre. Foi quando ele segurou a outra e me derrubou próximo ao corrimão e ao fim do cas, onde o próximo passo seria o mar.
Alguns dizem que você sai do corpo quando é violentada. Mas eu não. Eu estava ali e senti como um ser humano pode ser desprezível. Eu lutava, mas não conseguia soltar as minhas mãos, ele tinha força para segurar meus pulsos com uma mão só. Foi quando juntei todas as minhas forças e concentrei minha energia em levantar meu tronco rapidamente. Esse movimento não foi suficiente para tirá-lo de cima de mim, nem fez com que ele retirasse seu membro do meu corpo antes intocado. Mas sim, fora suficiente para que liberasse uma das mãos, onde tive a chance de pegar um caco de vidro com a mão livre, proveniente de uma garrafa estilhaçada junto ao pé do corrimão.
Sem pensar, enfiei o material cortante em seu pescoço com toda a força que pude, cortando-o com um único golpe e depois retirei. Ele grunhiu. Agora tinha um peso morto em cima de mim, dentro de mim, que havia sujado meu corpo e minha alma. Empurrei seu corpo para o lado. Me encostei no corrimão de madeira e comecei a chorar. Não sei precisar quantos minutos fiquei ali até realizar o que tinha acontecido.
Decidi. Joguei o corpo dele ao mar e em seguida arremessei o caco o mais longe que pude.
Corri em direção a casa de vovó pela praia. Sentia o sangue escorrer por minhas pernas e pingar do meu vestido, estava banhada em sangue. O sangue da minha inocência escorria pelas minhas pernas, misturado com o dele. Entrei na água e comecei a me lavar, esfregava meu corpo com areia, como se isso pudesse limpar a desvirtuação da minha inocência. O vestido de branco, estava rubro.
Continuei, então, me lançando em uma corrida desenfreada para a casa de vovó.
Entrei na sala, estavam vovó e papai. Corri para ele e o abracei, molhando-o. Contei o que houve. Não havia o que dizer, mas o silêncio dizia tudo.
Colocou-me em um avião na manhã seguinte. Voltei a Nova Orleans. A distância não conseguia tirar da minha mente o que havia acontecido. Todos me perguntavam como tinha sido a viagem e o porquê do meu rápido retorno. Estava sempre sozinha e fugindo das pessoas, refugiava-me em passeios pelo pântano, como incontáveis vezes havia ido.
Na cidade, após quase um mês de poucas palavras, silêncio quase absoluto, descobri que estavam recrutando para a guerra do Afeganistão. Não pensei duas vezes. Alistei-me e não disse nada quando saí, apenas um bilhete informando.
5 anos depois voltei aos Estados Unidos, mas não para Novas Orleans, ainda não conseguia. Fiquei 3 anos trabalhando em Nova York como guarda-costas na empresa de um ex-combatente, foi quando comprei um apartamento simples.
A guerra é algo, em todos os sentidos, devastador. Não só para quem permaneceu com a alma incólume durante seus anos anteriores de vida, como para quem pareceu sofrer um trauma que seguiria por toda vida, como eu.
Não tinha uma história bonita de patriotismo para contar, apenas queria sobreviver a tudo que havia me acontecido, aprendi a ser forte, a parecer forte. Não sabia como seria meu retorno a Nova Orleans, fugia do encontro com a minha família. Até que tomei a decisão de voltar. Fui muito bem recebida por todos, mas não era mais a mesma, sempre sem muitas palavras.
Descobri que o Sr.Ford havia falecido em um trágico acidente de carro. Em meu retorno, olhei papai nos olhos, dei-lhe um abraço e fui ao meu quarto que ainda estava lá. Vi, diante de tudo, que não teria condições para ficar ali.
Lembrei-me da velha cabana do Sr. Ford, construída em palafitas, no pântano, utilizada, à época, como ponto de apoio de suas caçadas. Fui até a senhora Ford e pedi autorização para utilizá-la como minha moradia. Ela não se importou.
Foi o que fiz, dia após dia, tratei de deixá-la habitável com a ajuda de meu pai, a maior parte do material, levamos com um barco que é por mim utilizado. Foi duro, mas consegui. Ao contrário do que diziam, não me parecia ser o lugar mais temível do mundo, apenas o único lugar onde parecia existir um pouco daquela Liese que outrora fui, a inocência em minhas risadas muitas vezes ecoadas naquelas árvores e raízes elevadas. Ali, parecia, finalmente, em casa.
O trabalho desta noite, comparado aos que já realizara, não era dos mais complexos, observar a segurança da área em torno do evento, uma vez que havia muita gente importante no jantar da Vestrue Co.. Tudo estava muito tranqüilo, apesar disso, estava armada com minhas pistolas preferidas, rádio de comunicação e o crachá de identificação.
De repente, avistei o Sr. Freeman acompanhado de um rapaz.
Poderia ser algo muito natural se não se tratasse de quem era. Ora, de fato era muito estranho o anfitrião saindo a pé e por ruas tão desertas acompanhado de um rapaz sem blusa e descalço. Passei a situação pelo rádio a outro vigilante, a fim que se dirigisse ao local para apoio.
Ele informou que demoraria um pouco, pois estava no andar superior em revista.
Enquanto iam caminhando, aproximei-me tentando não chamar atenção e ouvir o que falavam a fim de averiguar.
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OFF do Mestre de Jogo
Miraliese solicitou um teste para permanecer furtiva.