Ela observou a aparição desaparecer de sua visão e sentiu-a encaminhar-se para seu próprio plano de quase existêcia até que não mais sentiu nada. As brisas do manicômio se tornaram ordinárias, toda a sujeira tornou-se apenas imunda. Todo o horror era apenas digno de pena. E ela tinha uma missão. Levandou-se do chão e olhou ao redor ao que começou a caminhar e inspecionar o lugar com uma atenção que ainda não tinha se dado ao trabalho — na verdade, nunca tivera interesse pelo lugar a ponto de vasculhá-lo. Era uma casa grande, repleta de pequenos quartos, salas de conviviência, salas de descanço para enfermeiros, consultórios médicos e salas de procedimentos. Encontrou numa destas salas, jogadas sobre uma mesa ferramentas para lobotomia. Perguntou-se por uma fração de segundo se 17 teria seu espírito impedido de se manifestar através de um procedimento tão agressivo para com a mente humana. A mente humana é tão sensível. Pouco pode suportar sem receber algum tipo de trauma... Por vezes até nascer era considerado um malefício para a mente. Isabela sabia da psique apenas o suficiente para lidar com suas traumatizadas aparições, pouco lhe importava a mente dos vivos. Mas por um tempo suas prioridades teriam que mudar. Iria restaurar aquele lugar e pelo favor de 17 encheria aquele lugar de insanos novamente. Os perturbados seriam a companhia de 17 e o chamariz para o que quer que achasse que com isso traria para cá. Por outro lado, teria um lugar mais seguro para se alimentar, além uma equipe inteira sob a sua influência.
Obviamente tantos benefícios chamariam atenções indesejadas e imaginava que a Senescal pouco ou nada ficaria satisfeita com a restauração de um lugar para abrigar os loucos. Helena já estava na cidade quando o fatídico incêndio que condenou o lugar ao seu fechamento e a escondida Ala 9 desapareceu de todos os registros. Imaginava se seu clã estaria envolvido com aquilo. Sim, a Senescal ficaria furiosa com a restauração do lugar. Mas que ficasse! Não se importava com a impossível satisfação de sua insegurança.
Deixou o lugar e se dirigiu para o carro, estacionado à porta do estabelecimento. Não gostava de dirigir. Aprendera apenas o suficiente para não ter a necessidade de um carniçal levando-a para lá e para cá. Por mais que seus carniçais fossem sempre muitíssimo bem selecionados, úteis e, acima de tudo, fiéis, haviam momentos, como aquele, que a companhia da solidão era mais eficiente. Por isso estava sentada no banco do motorista naquela noite.
Sacou o celular e viu uma mensagem do diretor do necrotério. Muitos corpos teriam chegado naquela noite. Talvez algum lhe interessaria. A mensagem fora recebida horas atrás, quando ainda era dia. Respondeu-lhe rapidamente que apenas os não-identificados eram de seu interesse. Em seguida, ligou para Vicenzo e pediu-lhe para encontrá-la no hospital.
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Destino: Medical Center of Louisiana